Pelo menos quatro áreas da Prefeitura de Três Lagoas estão ocupadas por famílias que construíram barracos por não terem como pagar aluguel. São 40 famílias que ocupam os terrenos, em três bairros. Algumas vieram de outros Estados em busca de emprego e acabaram ficando, mesmo sem lugar para morar. Outras são famílias que já residiam na cidade, mas, na mesma situação, alegam que a ocupação dos terrenos foi a alternativa encontrada para sobreviver.
Mirailde Silva Santos Ramos veio da Bahia com a mãe e outros membros da família há oito anos. Sem ter para onde ir, invadiu uma área no bairro Vila Verde, que já era ocupada por outras pessoas, e se instalou com a família.
A ocupação iniciada em 2013 começou com poucos barracos e hoje são cerca de 20 famílias. Há barracos construídos apenas com madeira, sem a mínima infraestrutura, enquanto outros, possuem partes em alvenaria.“Eu fiz inscrição para ganhar as casinhas [de programas públicos], mas até agora nada. Quando chove, molha tudo, além disso, volta e meia aparecem cobras”, disse Mirailde, mãe de três filhos. Atualmente, a família sobrevive com o benefício que o marido recebe do INSS.
Há cinco anos, Nelci Silva Santos também veio da Bahia com a família. Ela, no entanto, não fez inscrição para conseguir a casa própria por falta de apenas um documento. Mas, sem condições de pagar aluguel, resolveu construir um barraco, onde moram oito pessoas. “Quando chove molha tudo aqui no barraco. É difícil. Não dá para pagar aluguel porque só o meu esposo trabalha. Mas, tenho fé em Deus que vamos conseguir uma casinha”, acrescentou.
Três famílias que moram na área ganharam apartamentos populares, mas duas delas não teriam gostado da moradia e ficaram nos barracos. Ainda no bairro Vila Verde, outra área começou a ser ocupada. Três barracos foram erguidos no local, mas apenas um aparentava ter moradores, nesta semana.
PRIMAVERAS
Ainda nessa área da cidade, só que no bairro Jardim das Primaveras, outro terreno da prefeitura foi ocupado no mês passado. Esse terreno, no entanto, está reservado desde 2011 para a construção de moradias populares.
A ocupação começou com uma família. Hoje são dez barracos na área, localizada nas proximidades do bairro Jardim das Violetas. As pessoas decidiram ocupar o terreno porque dizem não ter mais condições de pagar aluguel e devido à demora na autorização para a construção das casas.
As unidades serão construídas com recursos do governo federal, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida Entidades. Segundo representantes do movimento de ocupação, o recurso para a construção das casas estaria garantido pela Caixa Econômica Federal – responsável pelo programa habitacional – mas, a liberação só ocorreria após obras de infraestrutura, como asfalto e drenagem.
A prefeitura, no entanto, alega que as obras de drenagem têm custo elevado e o município não teria condições de executá-las no momento. A administração municipal, por sua vez, se prontificou em agendar uma reunião com representantes da Agência Estadual de Habitação, para tentar encontrar uma solução para o problema.
VILA PILOTO
Do outro lado da cidade, no bairro Vila Piloto, uma área da prefeitura também foi invadida por famílias que, como as demais, dizem não poder pagar aluguel. O terreno foi ocupado no ano passado e hoje seis famílias moram no local. Três delas foram contempladas com apartamentos do Residencial Orestinho, mas ainda não receberam as chaves dos imóveis.
Professora alerta para surgimento de favelas
A professora e doutora em geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Edima Aranha, destaca que a construção de barracos em áreas públicas pode acarretar o surgimento de pontos de favelização em Três Lagoas.
Segundo os critérios do IBGE, para se constituir favela é necessário haver 50 barracos. Em uma área invadida no bairro Vila Verde há cerca de 20. Devido à falta de infraestrutura no terreno, como redes de água, luz e esgoto, e as condições das moradias, o local já pode ser considerado como ponto de favelização.
Devido à propagação de emprego na cidade e a quantidade de desempregados, ou com baixa remuneração, de acordo com a professora, faz com que pessoas de várias regiões do país venham para Três Lagoas em busca de melhor qualidade de vida. Ocorre que nem sempre a oferta de emprego é real.
Simultâneo à não inserção no mercado de trabalho, segundo Edima, ocorre também a dificuldade do acesso à moradia, que se atrela aos valores cobrados pelo mercado imobiliário, seja pelo déficit habitacional ou por outras questões.
“As pessoas precisam de lugar para morar. E a alternativa que resta às pessoas oriundas de outros Estados é a submoradia, que se caracteriza com cortiços, barracos ou na condição de morar na rua. Em Três Lagoas, a alternativa mais comum tem sido ocupações irregulares de imóveis públicos”, comentou.