Veículos de Comunicação

Entrevista

Autoavaliação: psicóloga orienta revisar metas mais de uma vez

Níveis de exigência ajuda a reduzir frustração e a alcançar resultados pessoais e profissionais desejáveis

Níveis de exigência ajuda a reduzir frustração e a alcançar resultados pessoais e profissionais desejáveis. - Foto: Karina Anunciato/CBN-CG
Níveis de exigência ajuda a reduzir frustração e a alcançar resultados pessoais e profissionais desejáveis. - Foto: Karina Anunciato/CBN-CG

Com a proximidade de um novo Ano, muitas pessoas se dedicam a fazer um balanço de suas vidas, refletindo sobre o que foi alcançado e o que pode ser melhorado para o ano seguinte. Para ajudar a amenizar a cobrança e a reorganizar os objetivos, a psicóloga Karen Cruz, orienta que as pessoas devem realizar esta autoavaliação mais de uma vez ao ano.

Ainda para otimizar resultados, ela frisou a importância de estabelecer pequenas metas diárias e aumentar o nível de exigência aos poucos. “Isso ajuda a ganhar confiança e a reduzir a frustração, quando se estabelece metas muito altas”. 

Como fazer um balanço pessoal do ano sem uma autocobrança excessiva?

Karen Cruz: Com gentileza. Acredito que assim vamos conseguir olhar para nós mesmos com carinho, sem tantas cobranças, um encontro consigo mesmo. Olhar para trás e pensar em tudo o que fez no ano, em tudo o que aprendeu. O ponto de vista tem que ser de uma forma gentil para a gente poder encontrar as boas coisas que vivemos, o crescimento. Olhar aquilo que a gente aprendeu é muito mais importante  do que aquilo que a gente deixou de fazer. Todos os dias a gente tem que se dar a oportunidade de aprender e de errar também, faz parte do processo. Desde a infância, quando a gente vai olhar a base do ser humano, é erro. Eu não sei em que momento aprendemos que é errado errar.

E é importante mesmo fazer o balanço do ano? 

Karen Cruz: Com certeza, e não só no final do ano. Deveríamos criar esse hábito  de fazer essa autorreflexão mais vezes durante o ano, até para a gente poder construir mais, se desafiar mais, se permitir mais.  Então, se a gente pode parar e refletir ‘o que eu fiz’, vai trazer um alívio e também uma nova construção. E não só no final do ano, mas em outros momentos também. 
Agora no final do ano é importante para você poder realinhar as expectativas, criar novos objetivos, ver quais objetivos  não foram realizados que podem ser meta para o próximo ano. Mas, principalmente, organizar isso de uma forma mais clara. Aqui é um ponto importante, clareza.

Para uma otimização dessa autoanálise,  como se deve avaliar o lado pessoal e o lado profissional? 

Karen Cruz: Acredito que todos os pontos são importantes, a gente é feito de um todo não dá para separar. A primeira coisa que deve ser feita é começar olhando pra si.  Avaliar o que esse ano te trouxe de coisas boas, de sentimentos bons que você deve continuar alimentando durante o próximo ano.  
Na carreira profissional, o quanto você se dedicou o que ainda dá para se dedicar.  O ano ainda não acabou. Eu vejo muita gente apressada para virar o ano  como se fosse acontecer algo mágico, mas todos os dias são uma nova oportunidade. É muito mais produtivo você olhar, como eu disse lá no início, com mais gentileza  e se preocupar naquilo que hoje cabe a você.  Pequenas metas diárias.  As pessoas estão muito preocupadas em olhar para o final,  quando a gente tem que olhar o que a gente pode fazer hoje. E ter o sentimento de gratidão de ter feito o que estava no alcance. Grandes metas exigem pequenos passos. 
Por exemplo, quem está se programando  para começar uma vida fitness, uma vida para emagrecer, tem que começar com o quê?  A primeira meta pode ser incluir mais água no dia. Cumpriu a primeira e aí vai pra segunda meta. As pessoas erram muito em em planejar várias metas e aí elas querem fazer tudo de uma vez, não dá. Não dá para você sair do oito e ir para o oitenta, porque aumenta sua chance de falha.

Metaforicamente, muitas pessoas querem chegar no topo, querem escalar a montanha mas pensam que a escalada vai ser difícil. Como construir essa escalada sem que ela vire um peso?

Karen Cruz: Como a gente disse, se permitir errar. Quando a gente entende que a base do ser humano é o erro  a gente para de se cobrar tanto e se permite viver. Antes de ser muito bom em algo, a gente vai precisar ser muito ruim.  E, antes de ser ruim, a gente vai precisar ter começado aquilo. Concentre-se nesse início, porque não tem como a gente chegar lá no topo se a gente não começar a caminhar.  
E se permita a errar.  Você pode falhar, você pode errar, você pode ficar cansado, você pode se permitir, não tem problema. Nós somos humanos e quanto mais temos essa clareza de que somos seres humanos e que a gente precisa se permitir viver,  mais fácil as coisas vão ficando.  O medo vai diminuindo, a ansiedade vai diminuindo. Errar faz parte.  Começar faz parte, você não vai começar do topo, você vai começar de baixo.  Só que, dia após dia, com constância e persistência naquilo que você realmente quer, você vai construindo. É inevitável, o resultado é inevitável  a partir do momento que existe uma ação.  O que não dá é para ficar na imaginação.  Muita gente sonha mas não realiza, não realiza  porque não toma a primeira ação. Às vezes a gente só precisa de uma ação.  

É do ser humano a comparação. E com as redes sociais, a impressão que fica é que todo mundo vive em um mundo de felicidade em que ninguém erra. Como evitar esse tipo de comparação?

Karen Cruz:A grama do vizinho é sempre mais verde, não é? É sempre assim. A internet é engraçada, porque ela veio pra aproximar, para podermos ficar mais atentos, pra se comunicar melhor e, em algum momento, a gente começou a fazer essa comparação de que existe uma vida maravilhosa na rede social,  e a nossa não é aquela vida maravilhosa.  Só que a gente tem que começar a ter consciência de que ali tá exposto só o que a gente quer mostrar.  Ninguém vai mostrar a parte difícil, a parte do choro, da ansiedade, do medo.  Não é que não é real o que tá na internet, só que não é só aquilo, tem mais coisas acontecendo.  E todo mundo tá vivendo o seu difícil, todo mundo tá enfrentando as suas dificuldades, só que a gente não posta.  Então,  na hora de olhar, não é pra se comparar. A gente tem que comparar com o que a gente era cinco anos atrás, dez anos atrás, esse é um balanço legal.  
Quando eu olho, por exemplo, a psicóloga que eu era cinco anos atrás, eu percebo a evolução, o amadurecimento, o crescimento. E aí eu me perdoo também por ter falhado, por ter errado.  E acho que o perdão também é uma palavra maravilhosa  pra gente fazer esse balanço.  E não é só sobre o outro, é sobre a gente. Nós vivemos, crescemos. Você, cinco anos atrás, tenho certeza que se você olhar pra trás irá falar que podia ter feito melhor, podia, mas agora eu sou melhor.  É um ponto de vista que ao invés de se depreciar, você vai olhar com com respeito, se perdoar por todas as falhas, por todos os erros e construir pra frente com mais leveza também.

Como cada um de nós pode avaliar esse crescimento emocional? 

Karen Cruz: O perdão é o ponto principal para fortalecer o emocional, pra gente se fortalecer. Se a gente não se perdoa, não se permite, a gente começa a se bloquear, a a criar barreiras que impedem de continuar crescendo. Se você não se perdoa, se você não se permite, você começa a criar barreiras emocionais que vão te impedindo, inclusive, de ser saudável.  Hoje a ansiedade está de uma forma absurda.  E aí entra tudo isso que falamos, redes sociais, comparação.  Esse balanço de forma negativa. 
Então, a gente tem mesmo que fazer o balanço? Tem, mas temos que buscar olhar os pontos que realmente são inteligentes  para a gente melhorar.  Se for ficar olhando o que eu falhei, o que eu errei, o que eu deixei de fazer, isso não vai me fortalecer, isso não vai me fazer evoluir. Todo mundo enfrenta desafios. Se a gente conseguir ter essa clareza de que não existe grama mais verde. Existe todo mundo cultivando e cuidando daquilo que é importante para si.  Então, que esse ano seja um ano de possibilidades. Que as pessoas encontrem possibilidades.  É isso o que eu desejo para 2024.