Mais de 120 boletins de ocorrência de agressões a cada mês e uma onda de crimes violentos contra mulheres, em Três Lagoas. Esse é o ponto de partida para uma reivindicação da delegada Letícia Mobis, responsável pela Delegacia da Mulher, ao governo estadual. Para ela, somente com o uso de um mecanismo eletrônico de auxílio às vítimas e a ampliação do quadro de funcionários da delegacia será possível oferecer maior segurança e proteção às vítimas, na cidade.
A policial defende que o governo encaminhe à cidade o aparelho conhecido por “botão do pânico” – um dispositivo conectado via GPS a uma central de monitoramento, que avisa a Polícia Militar instantaneamente após ser acionado em uma situação de risco de vítimas que possuam medida judicial protetiva contra agressores. Uma espécie de vigilância 24 horas para mulheres ameaçadas.
Jornal do Povo – Qual a situação da mulher três-lagoense em termos de segurança, atualmente.
Letícia Mobis – Nós percebemos que a mulher três-lagoense é vítima de violência, procura a polícia, mas acaba sendo vítima novamente. Precisamos de meios para que não houvesse reincidência e a “revitimização” contra a mulher.
JP – O problema maior é a mulher voltar a viver com o agressor e ser novamente atacada?
Letícia – Sim. Muitas vezes, a mulher agredida pede à Justiça uma medida protetiva, mas perdoa o agressor e retoma o convívio. Talvez, ainda, essa medida protetiva não é eficaz por falta de meios de fiscalização.
JP – O botão do pânico seria uma alternativa?
Letícia – Sim. Em Campo Grande esse sistema já funciona com bons resultados. Porque, com esse equipamento, a mulher pode acionar a polícia de maneira discreta, sem correr mais riscos. Também é preciso haver um aumento no número de funcionários, investigadores e escrivães, na Delegacia da Mulher
JP – O tráfico de drogas tem qual relação com casos de violência contra a mulher aqui na cidade?
Letícia – O tráfico de drogas potencializa a violência contra a mulher, mas isso não ocorre apenas pelo consumo de drogas pesadas. O consumo de álcool é o que potencializa essa violência. Tanto que o número de casos de agressão aumenta bastante nos finais de semana. Setenta por cento dos casos ocorrem porque o agressor excedeu no consumo de bebida alcoólica.
JP – Por estarmos em uma cidade em processo de industrialização, a chegada de pessoas de todas as regiões do país interfere de alguma maneira na violência contra a mulher?
Letícia – Interfere porque muitas mulheres acompanharam seus maridos, deixando a família de origem para trás, e isso gera a dependência financeira para o companheiro, além de muitas não saberem seus direitos.