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Três Lagoas

Conflito jurídico trava ampliação de fábrica de celulose

Decisões e conflito de entendimento entre desembargadores impedem multinacional de assumir controle de 100% da Eldorado Brasil

Eldorado Brasil > segue alvo de disputa judicial - Divulgação
Eldorado Brasil > segue alvo de disputa judicial - Divulgação

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou a transferência do controle da Eldorado Brasil para a Paper Excellence (PE), sócia minoritária da J&F Investimentos na fábrica de celulose, em Três Lagoas. Em nova decisão, que expõe um conflito de entendimento entre dois desembargadores, a Paper Excellence volta à posição de finalizar a compra da fábrica após anos de disputa judicial.

Nesta semana, o desembargador José Benedito Franco de Godoi, da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial TJ-SP, disse que a suspensão da arbitragem e da ação anulatória iniciada pela J&F não é mais válida. E determinou que o tribunal arbitral e a presidência do TJ-SP sejam informados da decisão.

A arbitragem já havia decidido favoravelmente à Paper Excellence e com a nova decisão do TJ-SP, estaria apta a retomar os procedimentos de transferência do controle da Eldorado para a multinacional, que comprou a fábrica por R$ 15 bilhões, mas a J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, questiona os valores da transação. 

Em setembro de 2017, o Grupo J&F acertou a venda de 100% da fábrica por este valor.  No entanto, em setembro de 2018, quando a Paper Excellence já detinha 49,41% das ações, a J&F declarou extinto o contrato, sob a justificativa de que a compradora não havia liberado garantias prestadas em dívidas da produtora de celulose, uma pré-condição para aquisição do controle. 

A Paper Excellence entrou na Justiça contra a J&F alegando violação do contrato. O documento previa que, se em um prazo de 12 meses a Paper não cumprisse com os itens previstos no contrato, passaria a ser sócia minoritária da Eldorado Brasil. Desentendimentos entre comprador e vendedor levaram a negociação para a arbitragem judicial. E processo de transferência, que se arrasta até agora na Justiça, tem gerado constrangimento no Tribunal de Justiça de São Paulo. 

O desembargador relator do caso, Franco de Godoi, proferiu um despacho em que ataca decisões do colega desembargador Costa Netto e mandou notificar, para conhecimento, o presidente do TJ-SP, Ricardo Mair Anafe, e também os demais desembargadores do grupo especial da Seção de Direito Privado.

Franco de Godoi ressalta ser ilegal a tentativa do desembargador Costa Netto de suspender a transferência de controle da J&F para a Paper Excellence com base em uma questão processual sobre a qual há jurisprudência para tal. 

INVESTIMENTOS 
A falta de segurança jurídica no Brasil trava um investimento bilionário em Três Lagoas, que é a expansão da Eldorado Brasil. Segundo cálculos de analistas de papel e celulose, as perdas para a Paper Excellence com o travamento do negócio da Eldorado já ultrapassam R$ 16 bilhões.  A nova planta seria capaz de produzir 2,5 mil toneladas por ano, com um lucro líquido de aproximadamente R$ 2,5 mil por tonelada.

Inicialmente, o projeto de construção da segunda linha de celulose estava orçado em R$ 10 bilhões. Atualmente, já chega a R$ 14,7 bilhões, devido ao aumento dos preços dos equipamentos, mão de obra e transporte. 

O custo de formação da base florestal, que em 2018 era de R$ 11,5 mil por hectare, hoje está em R$ 22,5 mil, devido ao aumento no valor do arrendamento de terra causado por outras empresas de celulose que realizam investimentos em Mato Grosso do Sul, ao preço de insumos como mudas de eucalipto e fertilizantes, bem como o alto custo da mão-de-obra rural especializada.  Considerando os 260 mil hectares necessários, o prejuízo nesta área chega a R$ 2,8 bilhões.

PERDA
Ainda segundo levantamento feito pela Paper, a entrada em produção da nova fábrica geraria 2,6 mil empregos diretos tanto na unidade produtiva quanto no campo, o que injetaria na economia regional R$ 80 milhões por ano. De acordo com consultores, com indefinição pelo controle da Eldorado, os cofres públicos deixam de arrecadar a cada ano R$ 550 milhões.