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Três Lagoas

Conselho Tutelar registra cinco casos de homofobia contra adolescentes

Caso mais grave foi registrado nessa semana, quando um adolescente foi torturado pelo pai

Pelo menos cinco casos de homofobia foram registrados apenas contra adolescentes em Três Lagoas de janeiro até o momento. Os dados são do Conselho Tutelar e apontam que, na maioria das vezes, os crimes foram cometidos por familiares. De acordo com o conselheiro Davis Martinelli, as denúncias registradas até o momento são de casos em que os próprios adolescentes procuraram a instituição, alegando sofrerem agressões verbais e até serem expulsos de casa. “Os próprios adolescentes nos procuram para falar do sofrimento vivido perante a família, que não aceita a orientação sexual deles. Mas nunca ao ponto de agredir fisicamente. Nada como o registrado agora”, explicou David em entrevista concedida à equipe de reportagem da TV Concórdia Notícias.

O caso citado pelo conselheiro é o do adolescente de 16 anos que foi espancado e torturado pelo próprio pai, um pecuarista da cidade. O motivo das agressões estaria relacionado ao fato de o filho ser homossexual.


Segundo Davis, o crime chegou ao conhecimento do Conselho Tutelar na terça-feira, quando o garoto se preparava para deixar o Hospital Auxiliadora depois de dois dias internado. Entretanto, ele explicou que não fora as marcas de agressões que resultaram na denúncia, mas sim uma briga entre os pais do garoto. O casal está separado há pouco tempo e o pai, que tem a guarda do adolescente, queria levar o filho para a casa. A mãe não permitiu.


Ao conselheiro, o adolescente contou que as agressões começaram na madrugada de segunda-feira e só pararam quando outros membros da família interferiram. “[A agressão] começou à meia-noite e só cessou às 2h, quando a família, um irmão e os avós, o tiraram do pai e o levaram para o hospital. Temos fotos para comprovar essa agressão”, destacou. Além de bater em várias partes do corpo do adolescente, o pai, na versão apresentada tanto ao Conselho Tutelar quanto à Polícia Civil, ainda teria ameaçado amarrá-lo e arrastá-lo em um veículo.


“Segundo o garoto, o pai sempre foi contra a orientação sexual dele. No ano passado, atendemos essa mesma família por conta das agressões verbais do pai. É lamentável, porque a sociedade não imagina que isso possa acontecer em uma cidade como Três Lagoas. Mas acontece, e muito. Só que nem a sociedade, e muitas vezes, nem o Conselho Tutelar fica sabendo”, disparou.


A conselheira tutelar Miriam Monteiro Herrera Hamed concorda. De acordo com ela, dos cinco os casos de homofobia registrados até o momento, com exceção desse garoto, são de agressões verbais de familiares e atingem a ambos os sexos. Entretanto, o número pode ser maior, já que muitos adolescentes às vezes sofrem sem procurar ajuda.


INQUÉRITO
De acordo com o delegado Paulo Rossetto, da 1ª Delegacia de Polícia, o pai do adolescente deverá responder pelo crime de tortura, cuja pena pode chegar a 10 anos de prisão. O pai foi ouvido ontem. Ele compareceu à delegacia acompanhado do advogado, mas foi liberado por já ter passado o flagrante. 
Por enquanto, o garoto permanece sob a guarda da mãe, através de um Termo de Compromisso agilizado pelo Conselho Tutelar. (Com a colaboração de Ana Lilian Guimarães)