O Consórcio UFN 3 demitiu na última sexta-feira mais de 600 trabalhadores, paralisando praticamente as obras da fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras em Três Lagoas. Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil Pesada (Sintiespav), José Cleonildo Dias, mais de 600 trabalhadores foram demitidos na última sexta-feira, e ontem, segunda – feira, mais um grupo teria sido dispensado da obra.
A mesma informação foi prestada ao Jornal do Povo por um funcionário do Consórcio, que disse que as obras estão praticamente paradas, pois falta material e mão de obra para o seu andamento. Segundo apurado pelo sindicato, o Consórcio vai demitir mais trabalhadores até o dia 1º de dezembro. A intenção das empresas é manter entre 300 e 400 trabalhadores no canteiro de obras, entre eles os encarregados, para manter preservado a estrutura do que já foi executado. Em outubro, o Consórcio já havia demitido cerca de 1.500 trabalhadores.
Inicialmente, o Consórcio pensou em conceder férias coletivas aos trabalhadores neste final de ano. Entretanto, segundo o diretor do sindicato, essa possibilidade não se concretizou e os operários acabaram sendo dispensados. Trabalhadores demitidos no início deste mês estão sem receber até hoje seus créditos trabalhistas. O vale em dinheiro, também, prometido não foi depositado na conta dos trabalhadores no último dia 20.
Reunião
Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Três Lagoas, Atílio D’ Agosto, a prefeita Márcia Moura está agendando para esta semana uma reunião com representantes do Consórcio e da Petrobras para saber qual é o posicionamento destas empresas quanto ao andamento da construção da fábrica, bem como para saber quando se dará o pagamento dos fornecedores da obra. Conforme já divulgado pelo Jornal do Povo, o Consórcio deve R$ 9 milhões para empresários locais, que correm o risco de grandes prejuízos, caso não recebam pelos serviços prestados e produtos fornecidos para essa obra da Petrobras.
Atílio informou que, até agora, nem o Consórcio e nem a Petrobras se manifestaram a respeito desta dívida e nem de quando pretendem pagar os fornecedores. “A obra parou. Essa reunião vai servir para termos um esclarecimento de quando a obra será retomada, e como pretendem pagar a dívida existente com os empresários”, disse. Segundo o presidente da Associação Comercial, a obra teria paralisado devido à falta de dinheiro. O Consórcio da UFN 3 alega que é necessário a assinatura de um aditivo reajustando valores do contrato para dar continuidade à obra.
A obra da fábrica de fertilizantes Nitrogenados da Petrobras foi iniciada em 2011 e era para estar concluída este ano. A previsão inicial era de que a fábrica entrasse operação em 30 de setembro deste ano. Posteriormente, adiaram para dezembro de 2014, e por último, a nova data divulgada pela Petrobras é de que a unidade entre em funcionamento em meados do ano que vem.
TCU
As obras da fábrica de fertilizantes Nitrogenados da Petrobras continuam sendo fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Houve uma auditoria finalizada em 2012 e há uma fiscalização em andamento.
De acordo com o TCU, a principal constatação do trabalho da auditoria foi de que houve adiantamento de pagamento sem a apresentação das garantias contratuais. O volume de recursos fiscalizados alcançou o montante de R$ 3.073.355.065,92. Neste total, está considerado o valor global do contrato com os seus respectivos aditivos.
O Tribunal de Contas da União apontou como indício de irregularidade a realização de adiantamento de pagamento sem a apresentação das garantias contratuais. Neste caso, identificou-se o pagamento de bens e serviços na ordem de R$ 155 milhões , a descoberto, sem qualquer garantia específica que resguardasse a Petrobras na execução da obra.
Petrobras informa que nada deve ao Consórcio UFN3 e que busca soluções para dar continuidade à construção
Em nota encaminhada ao Jornal do Povo, a Petrobras informa que possui contrato com o Consórcio UFN3 para o fornecimento de bens e a prestação dos serviços necessários à implantação de uma fábrica de fertilizantes (amônia e ureia) na cidade de Três Lagoas. Este contrato se encontra com desvio de prazo em relação ao cronograma planejado inicialmente, motivo pelo qual a Petrobras busca soluções junto ao Consórcio UFN3 para dar continuidade às obras.
De acordo com a estatal, as demissões de funcionários alocados na obra, as dívidas reivindicadas por fornecedores e as ações judiciais noticiadas dizem respeito a questões internas do Consórcio UFN3, não cabendo à Petrobras se manifestar sobre a saúde financeira, a gestão de negócios ou a mão de obra de suas contratadas. Entretanto, a Petrobras reafirma seu comprometimento com os direitos dos trabalhadores ao incorporar em seus contratos e exigir o cumprimento pelas contratadas de todas as suas obrigações legais trabalhistas.
Segundo o comunicado, a Petrobras está ciente da situação de inadimplência do Consórcio UFN3 perante fornecedores e, no âmbito desse contrato, informa que já exigiu a imediata regularização e cumprimento pelo Consórcio UFN3 das obrigações assumidas por este perante seus fornecedores. A Petrobras informa ainda que vem fiscalizando regularmente a execução do contrato e adotando todas as medidas que entende necessárias para o sucesso do empreendimento.
A estatal ressalta ainda, que o contrato encontra-se em vigor e com saldo, sendo certo que os resultados apresentados pelo Consórcio e a situação da obra são objeto de permanente análise. Por fim, a Petrobras reitera que está em dia com todas as suas obrigações contratuais, e que os pagamentos de seus compromissos foram realizados de acordo com a legislação vigente e com os prazos e procedimentos estabelecidos no contrato.