Três Lagoas é uma das cidades de Mato Grosso do Sul que mais tem apresentado crescimento populacional. Para se ter uma ideia, em seis anos, a cidade ganhou 23.719 habitantes. Em 2007, Três Lagoas tinha 85.914 moradores. Nesse ano, a projeção do IBGE é que o município tenha 109.633 habitantes. Do ano passado para esse, houve um aumento de 4.409 moradores.
Três Lagoas
Crescimento populacional é significativo é impactante
Para professora da UFMS, a cidade não estava preparada para esse crescimento
Esse crescimento populacional é reflexo da industrialização que ocorre no município. Apesar da quantidade de empresas que se instalaram em Três Lagoas nos últimos anos, e que têm gerado vários empregos, a cidade ainda padece com uma série de problemas.
Para a professora Edima Aranha, doutora com especialidade, em geografia humana, Três Lagoas enfrenta problema em várias áreas. Segundo ela, a infraestrutura é insuficiente e inadequada. “A cidade carece de mais pavimentação asfáltica, drenagem e rede de esgoto”, comentou.
Ainda de acordo com ela, o serviço de transporte público é precário. “Os coletivos vivem lotados. Digo isso com conhecimento de causa, porque os alunos da UFMS sofrem com isso. O mesmo ônibus que transporta os alunos carrega os trabalhadores das fábricas. Para se ter uma ideia, na Conferência das Cidades realizada esse ano, foi apresentada uma moção de repúdio contra esse serviço em Três Lagoas”, informou a professora.
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Outra questão abordada por Edima Aranha é o conjunto habitacional Novo Oeste, composto por 1.224 unidades habitacionais. Para a professora, haverá um conflito muito grande nesse conjunto em razão da quantidade de pessoas morando no mesmo local. “Na mesma conferência houve também uma moção de repúdio contra esse tipo de construção. Solicitamos que a Caixa Econômica Federal não aprove mais esse tipo de construção vertical. Aquela local parece um campo de concentração, não existe espaço para as pessoas estenderem roupas, não tem área de lazer, espaços cobertos o suficiente, não tem garagem. Imagine o conflito que será com um monte de morador no mesmo espaço?”, questionou a doutora em geografia humana da UFMS.
Edima entende que existem muitos espaços em Três Lagoas, e que não haveria a necessidade de se construir esse tipo de moradia popular. Outra problema apontado por ela,é a constante falta de água nos bairros da cidade.
TRÂNSITO
O trânsito de Três Lagoas, de acordo com a professora, é um dos grandes problemas enfrentado com esse aumento populacional. A quantidade de veículos circulando na cidade, atualmente, aumentou consideravelmente nos últimos anos. “O fluxo de veículos em todos os horários é intenso. As pessoas estão morrendo ou ficando mutiladas devido aos acidentes de trânsito que tem ocorrido no município”, declarou.
Para a professora, as pessoas que já residiam em Três Lagoas, assim como o poder público não estavam preparados para esse crescimento abrupto. “Não foi feito nenhuma campanha, o poder público deveria ter se preparado antes da chegada desses grandes empreendimentos. Vivemos um caos nas agências bancárias, nos grandes magazines, no Correio. Tudo está mais difícil para o morador, principalmente para os que já residiam aqui”, salientou.
EMPREGO
Na opinião da doutora em geografia, geração de emprego e receita não significa qualidade de vida. “Além de emprego, a população necessita de moradia digna, segurança e serviço público de qualidade. Não houve ganho na qualidade de vida. Esses grandes empreendimentos impactaram no abastecimento de alimentos, por exemplo. Hoje, só se planta eucalipto, falta verduras e legumes. Sem contar que as pessoas que residiam no campo vieram para a cidade e estão morando na periferia, por conta do alto preço do aluguel”, comentou.
Edima disse ainda que esses trabalhadores que vieram na zona rural, entre outros que já residiam na cidade não foram absorvidos pelas empresas por falta de qualificação. “São vários os problemas enfrentados em Três Lagoas, como superlotação nas escolas e nos Centros de Educação Infantil, entre outros”, acrescentou.
CRESCIMENTO
Segundo o arquiteto e urbanista Fayez José Risk, um dos responsáveis pela elaboração e revisão do Plano Diretor de Três Lagoas, esse aumento significativo é impactante. “Nos últimos seis anos percebe-se que Três Lagoas teve um crescimento populacional de aproximadamente 25% . Não há estrutura que resista a esse aumento. O grande problema é a distorção do pacto federativo, onde se concentra a arrecadação nas mãos do governo Federal, porém os municípios que enfrentam os graves problemas, na área da educação, saúde, entre outras. As pessoas acabam reclamando das Prefeituras”, destacou.
Na opinião do arquiteto, esse crescimento populacional tende a se diminuir, porém as consequências desse aumento vão repercutir por muitos anos.