A desigualdade salarial entre homens e mulheres é uma realidade persistente em diversos setores do mercado de trabalho. Em Três Lagoas, um estudo recente revelou que a cidade tem o pior desempenho para mulheres em todo o Mato Grosso do Sul, evidenciando um cenário desafiador para as trabalhadoras locais.
De acordo com um levantamento realizado pela organização Tewá 20255, Três Lagoas ocupa a 13ª posição entre as piores cidades do Brasil para mulheres, considerando apenas os municípios com mais de 100 mil habitantes.
O estudo apontou que a desigualdade salarial é um dos fatores que contribuem com esses dados. Atualmente, mais de 60% dos cargos de liderança em Mato Grosso do Sul são ocupados por homens, o que contribui diretamente para a disparidade salarial.
A baixa representatividade feminina em posições de chefia reflete um ciclo de desigualdade que vai além da questão financeira. Muitas mulheres enfrentam dificuldades para assumir cargos de liderança devido às responsabilidades acumuladas dentro e fora do ambiente de trabalho.
A professora Patrícia Helena Milani, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em Três Lagoas, destaca que as mulheres frequentemente são questionadas sobre sua capacidade de assumir posições de destaque, especialmente quando têm filhos pequenos, algo que raramente ocorre com os homens. “Essa carga extra que as mulheres precisam administrar impacta diretamente seu desempenho profissional. Muitas vezes, quando uma mulher pleiteia um cargo de liderança, ouve questionamentos sobre sua disponibilidade, algo que não acontece com os homens“, afirma a professora.
Apesar da aprovação da Lei 14.611, de 2023, que estabelece a igualdade salarial entre homens e mulheres e reforça a legislação trabalhista, muitas empresas ainda resistem em aplicar a medida. “A lei existe, mas a sua efetivação ainda é um desafio. Muitas mulheres têm medo de cobrar seus direitos e serem demitidas. Casos de demissão de funcionárias grávidas ainda são frequentes”, alerta Patrícia.
Outro fator que contribui para a desigualdade no mercado de trabalho é a distribuição de responsabilidades desde a infância. A especialista em Geografia Urbana e Questões de Gênero aponta que a educação, tanto formal quanto familiar, desempenha um papel fundamental na reprodução dessas desigualdades. “Desde pequenos, os meninos são incentivados a buscar profissões ligadas à liderança e à inovação, enquanto as meninas são direcionadas a carreiras relacionadas ao cuidado, como enfermagem e educação”, explica.
A mudança desse cenário passa por uma combinação de políticas públicas e transformações culturais. A promoção da igualdade de gênero no ambiente de trabalho requer a fiscalização rigorosa das empresas para garantir o cumprimento da legislação, além da implementação de medidas que incentivem a participação feminina em cargos de liderança.
Para Patrícia Milani, a solução passa pela educação e pelo debate sobre gênero desde a infância. “Precisamos desconstruir essa cultura machista desde cedo, ensinando meninos e meninas que todas as carreiras estão abertas para ambos, sem limitações baseadas no gênero. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza a professora.