O diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista (TEA) e de outros transtornos comportamentais, como hiperatividade, TDAH e dislexia, é uma das principais ferramentas para melhorar a qualidade de vida de crianças e jovens. Pensando nisso, o psicopedagogo e pesquisador Celso Cavalheiro, mestre e especialista na área lançou o livro “Diagnóstico Precoce do Autismo e Outros Transtornos Comportamentais – Uma Lição de Amor”, que reúne estudos de caso, experiência própria e de muitos atendimentos já realizados.
Nesta semana, Celso esteve em Três Lagoas, a convite do vereador e médico, Issan Fares Júnior, para falar da importância de levar informação para a sociedade como um todo e auxiliar pais, familiares e profissionais da educação no diagnóstico precoce, logo na primeira infância. Em entrevista o RCN Notícias da rádio Cultura FM e TVC-HD, Celso abordou o assunto.
O que levou o senhor a escrever esse livro?
Celso Cavalheiro- Eu tenho uma história de educação muito ampla e antiga. Eu comecei trabalhar em educação aos 20 anos de idade e me tornei professor aos 21 anos. Tive uma escola de educação infantil por 15 anos, fui diretor dessa escola e há 25 anos atrás não ouvíamos tanto em falar em autismo, tínhamos crianças com comportamentos diferentes e não sabíamos como lidar com isso. Ainda existe isso hoje, mas em uma escala menor. Tínhamos caso, inclusive na minha família, do meu filho, que era aluno da escola que eu dirigia, que tinha um comportamento diferente. E quando comparávamos o comportamento dele com os de outras pessoas, não batia, não se fechava. Então, buscamos ajuda, fomos no psicólogo, no psiquiatra e no ortopedista, porque o meu filho andava nas pontas do pés. Quero enfatizar que um dos sinais do autismo é andar nas pontas dos pés, de não ter interação social, de não ter expressão de sentimentos, o meu filho era um rapaz muito introspecto. Então, o livro começou de uma infinidade de casos e que não tínhamos uma resposta para aquilo. Então, fui estudar, visitar outros estados e países, para começar entender o comportamento do espectro autista como um todo. E em todos os lugares, o comportamento é igual. E isso nos motivou a buscar mais estudo, mais pesquisas, que transformaram neste livro, o segundo trabalho que publico, sobre a importância do diagnóstico precoce.
Qual a importância de o autismo ser descoberto no início?
Celso Cavalheiro– Se o autismo for descoberto no início, não vai permitir que esse quadro evolua. Se o grau de autismo for leve, é possível que ele chegue ao mercado de trabalho, tenha sua independência financeira e intelectual. Já os casos de autismo moderado e severos, que requer um cuidado e uma atenção mais especial, precisamos de fato estar prontos para atender essa criança e a família, porque é um sofrimento para todos. Os pais precisam de um apoio psicológico e psicopedagógico, porque as crianças em um período vão estar em uma clínica, em um atendimento, mas no outro, vão estar com os pais. Então, o que está neste livro, é como se fosse uma receita de bolo, como ajudar meu filho.
O senhor entende que a sociedade como um todo precisa saber mais sobre o autismo?
Celso Cavalheiro– Sonho um dia em que a sociedade como um todo tenha a preocupação com o autismo, porque é uma interação social entre o indivíduo autista e não autista, e os familiares que têm e os que não têm, que precisa ser melhorada, porque existe uma discriminação muito triste nisso tudo. Às vezes tem uma criança tendo um surto de estresse, se joga no chão, na parede, e se machuca. Quem está passando e não sabe, acha que a criança está sendo maltratada, espancada, então a sociedade precisa saber e conhecer mais sobre o autismo. Dessa forma, peço a todos que puderem, que adquiram o nosso trabalho, o livro está publicado pela Life Editora.
O senhor acredita que muitos pais não sabem que os filhos são autistas? E o senhor defende que o assunto seja levado para as escolas?
Celso Cavalheiro- Existem duas situações. Muitos pais que não sabem e também é preciso capacitar os professores das séries iniciais das escolas públicas e particulares a entenderem e identificar os sinais do autismo na criança e também outros transtornos comportamentais e falar da metodologia ABA (Análise do Comportamento Aplicada). Não queremos que o professor emita laudo, isso compete ao profissional médico. Queremos mandar para o médico, uma criança que está na escola com um comportamento diferente, que às vezes com quatro anos, não está falando ….às vezes os pais não se dão conta disso. Por isso da escola, dos professores, estarem capacitados. Esse é o nosso propósito, inclusive, do médico e vereador Issan,
levar esse assunto para dentro da escola, possibilitar que os profissionais da
educação infantil tenham mais informações sobre esse assunto.
Autismo então precisa ser trabalhado tanto pela área da saúde, quanto pela educação?
Celso Cavalheiro– São várias linhas de conduta que as crianças precisam de atendimento. Autismo é uma questão de educação e saúde pública. Por isso, precisamos alinhar essas duas áreas. Por isso, estou feliz em poder estar levando informação e poder ajudar as crianças e as famílias. Os pais precisam buscar ajuda, buscar os seus direitos, porque é possível que essa criança tenha qualidade de vida e independência, e evolua a cada dia com o tratamento.