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Entrevista

'É preciso entender a violência nas escolas para intervir', diz psicóloga

Especialista alerta para a necessidade de uma mudança social para reduzir casos de ameaças de ataques e violência no meio escolar

coordenadora > de Psicologia Educacional da SED-MS, Paola Evangelista - Divulgação
coordenadora > de Psicologia Educacional da SED-MS, Paola Evangelista - Divulgação

Nas últimas semanas, ameaças de ataques em escolas de Mato Grosso do Sul, e ataques efetivados em nível nacional, tem preocupado pais, professores, estudantes e toda a comunidade externa, com receio de que o mesmo aconteça na Capital e em outros municípios do estado.

A coordenadora de Psicologia Educacional da Secretaria de Estado de Educação (SED/MS), Paola Lopes Evangelista, alerta que é preciso ter cautela nesse momento, reforçando o cuidado dentro de casa e não só na escola.

Como fazer com que os pais encaminhem os filhos para a escola com um sentimento de tranquilidade nesse momento?  
Paola-  É uma pergunta muito importante principalmente para esclarecer para a toda a comunidade escolar, pra sociedade como um todo. Nós estamos falando de dois tipos de violência: a violência contra a escola e a violência na escola. É importante dizer de qual lugar estamos falando. A escola é esse espaço seguro, é o espaço de acolhimento, é o espaço de aprendizagem, é um espaço estruturado em relação às ações pedagógicas.  O governo já está adotando medidas de segurança adequadas, agora é importante que os pais, nesse momento de alerta, não olhem só para a escola, mas também olhem para dentro das suas casas, verificando, por exemplo, alterações de comportamento nos nossos jovens, o que estão vendo nas redes sociais. Todas essas questões são muito importantes. Por parte da Secretaria de Estado de Educação, há um trabalho sistemático em relação a essas situações, com jornadas informativas. Nós iniciamos desde o início do ano esse acolhimento. Por quê? Porque essas situações de violência são formas de expressão. Nós estamos falando de jovens em desenvolvimento e que precisam das nossas orientações. Por isso, volto a dizer da violência na escola? Não de fora para dentro.

Estamos assistindo a uma propagação de informações, inclusive falsas, nas redes sociais e isso toma uma proporção muito maior quando são compartilhadas imagens de brigas entre alunos. Como vocês agem nas escolas diante de fatos assim? 
Paola –  É importante destacar que, em relação às situações de violência interna, nós temos muitas tratativas administrativas, legais de ordenamento, que é o regimento escolar. E esse regimento também tem um cunho pedagógico. Nós precisamos primeiro entender a natureza do problema. Por que que esses estudantes estão brigando? Qual é a motivação da briga? Precisamos entender para intervir. A gente não tem uma resposta pronta, mas nós precisamos conhecer inclusive para fazer uma articulação, muitas vezes, com a rede de atendimento de proteção. Afinal, são crianças e adolescentes que podem estar passando por situações de violência, seja violência sistemática, violência entre estudantes, o bullying, sejam situações de violência de ordem sexual ou psicológica, até mesmo fora do ambiente escolar. 

E como é a atuação da escola em casos de bullying? 
Paola – A escola sempre tem que ter espaços abertos, construídos e seguros para que os estudantes falem sobre essas situações.  Paralelo a isso, estamos preparando um projeto estadual que vai se chamar ‘Ampare’, em relação ao enfrentamento das situações de violência e para o fomento da cultura de paz.  E é importante dizer que a SED/MS  também trabalha com as práticas restaurativas.  Em Campo Grande, especificamente, nós temos um grupo de facilitadores da Justiça Restaurativa que trabalha na mediação de conflitos e também acolhemos professores e administrativos da escola.  Isso é importante porque quando há um caso de violência escolar, toda a comunidade é afetada. Precisamos  entender quais são as dificuldades, medos, inseguranças em relação àquela situação.  Já temos um plano de ação para trabalhar as questões das violências, como elas se manifestam, como é que esse estudante pode procurar ajuda dentro da escola se estiver sofrendo de alguma forma de violência. Em relação ao bullying, é importante a gente estar aberto, mas mais que isso, mostrar para o estudante que, ele sofrendo algum tipo de violência, ele tem canais seguros para que possa estar trazendo isso para a coordenação, para o grêmio estudantil, ou para outra figura que ele entende ali como segurança dentro da escola.  Às vezes uma merendeira, uma pessoa que tenha acompanhado ele na portaria da escola. É importante a comunidade escolar estar atenta.

Também é fundamental a proximidade da sociedade com o ambiente educacional.  Nós precisamos entender que é um ambiente de desenvolvimento e nós acreditamos no processo educativo.  Mas o que nos cabe agora é: entenda qual é a situação, converse com seus filhos, fale sobre esse sentimento.  Todo mundo está muito triste, todo mundo está também com medo dessas situações, mas não pode ser um medo que nos paralise.  Nós precisamos entender que diante dessas situações, precisamos nos comunicar, precisamos nos aproximar, ao invés de criar mais um distanciamento.