Dos 11 anos em que ficou casada oito foram marcados por momentos de tortura e medo. “Ele me batia com cinto, me jogava na parede, tentou me enforcar, quebrar o meu braço, e eu sempre ficava quieta para ver se as coisas não se agravavam mais”. Esse é o relato de uma dona de casa, de 33 anos, que só conseguiu parar de sofrer as agressões porque fugiu com os dois filhos pequenos.
Sem querer se identificar e ainda um pouco abatida, a mulher contou detalhes do relacionamento com o ex-marido e das dificuldades na criação dos filhos, de quatro e cinco anos de idade. Ela mora em Três Lagoas e está separada há seis meses.
Após fugir da casa do agressor, a vítima recebeu o apoio da família e atualmente mora na residência de um dos irmãos. “Foi difícil tomar essa decisão. Eu sei que demorei parar ter coragem, mas já não aguentava mais e fiz isso pelos meus filhos. Ele me batia na frente deles e hoje percebo que isso reflete na vida dos dois”, disse.
MARCAS
Carregando algumas marcas nos braços, a dona de casa relembra com angústia os momentos em que ficou trancada na casa com os filhos, em cárcere privado. O então marido, que se dizia ciumento e possessivo, não deixava a família ter contato com vizinhos e parentes. A vítima e as crianças ficavam por dias isoladas e corriam o risco de ficar também sem comida, caso reclamassem da situação.
“Ele [ex-marido] sempre ficava ausente, passava dias fora de casa e ainda tomava o meu celular para não ligar para ninguém. Se perguntasse algo, ele nos deixava sem comida e eu tinha que me virar para alimentar meus filhos, já que só ele trabalhava”, descreveu.
Além disso, ela descobriu que o homem estava morando em outra casa com uma mulher. Os anos foram se passando e a situação só piorava, segundo a vítima. Com medo do que poderia ocorrer com os filhos, ela decidiu denunciar o ex-marido à Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM). Foi por meio da Lei Maria da Penha, que completa 10 anos amanhã, que a vítima conseguiu coibir a ação do ex-marido com medida protetiva determinada pela Justiça.
Agora, a dona de casa afirma que luta para construir uma nova história.