Com um olhar sobre a história da manifestação africana no Brasil, a exposição Toque Afro apresentou ao público de Três Lagoas mais de 90 peças relacionadasà influência da cultura dos negros. A amostra apresenta objetos relacionados ao trabalho, religião, culinária e peças usadaspara a tortura dos escravos.“Foram cinco anos para compor esse acervo. Fui conversando com pessoas que vivem aqui em Três Lagoas há muito tempo, gente que tinha em casa os objetos, conversando nos bairros, foi no boca a boca mesmo”, conta Mateus Alves, curador da exposição.
Três Lagoas
Exposição "Toque Afro" no Banco do Brasil
reúne mais de 90 objetos, retirados da própria memória de Três Lagoas
Além dos objetos que foram resgatados para a amostra, também foram produzidos algumas peças para compor cenários relacionados à época. O visitante que comparecer na exposição, montada na agência do Banco do Brasil (1º e 2º andares) poderá apreciar a simulação de uma parede de pau-a-pique, um carro de boi e um engenho de cana de tração escrava. “Para reproduzir o que os escravos passaram naquele momento, colocamos até especiarias e outras produções como feijão, algodão, café e milho em cima do carro de boi. Cortes de cana estão no engenho para demonstrar como era feito o trabalho árduo dos escravos”, aponta Mateus.
A ideia de montar a exposição surgiu com paixão pela cultura negra. O curador também tem essa descendência, miscigenada com a indígena. Também há uma mesa exposta baseada na culinária dos escravos, com a simulação de uma feijoada, quibebe de abóbora e angu, uma espécie de polenta da nossa época. A amostra chega a sua 5ª Edição e completa dois anos de exibição dentro de Três Lagoas, inserida na semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra. “Como estamos na semana de conscientização sobre a representação do negro na sociedade, foi sugerido à disposição da amostra para apoiar a data.”
Uma peças expostas é uma tela com a imagem de Zumbi dos Palmares. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte foi justamente o dia 20 de novembro, por isso a comemoração em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.
Na exposição também estão expostas máscaras africanas, símbolos da religiosidade da Cultura Afro. “Os africanos acreditam que as máscaras afugentam os maus espíritos. As bases religiosas são o candomblé, umbanda e quimbanda. A partir delas surgem outras variações que inclui até mesmo a macumba. O termo ‘sarava’, nada mais é que um cumprimento como bom dia ou boa noite”, aponta o curador.
PRECONCEITO
Para o curador, a data de celebração do Dia da Consciência agrega valores ao quadro de reflexão de toda a sociedade, referente à história dos escravos e do negro no Brasil. “Dizer que o preconceito não existe é tapar o sol com a peneira. Só que em nosso país ele existe de uma maneira maquiada, no anonimato. Ao contrário do que acontece nos EUA, onde o preconceito é evidente. Lá não gostam do negro e deixam isso exposto. Aqui não é da mesma forma”, aponta.
Mateus Alves ainda compara Brasil e Estados Unidos. “Quando os escravos foram libertos no país norte americano, lhes foram dados uma estrutura e condições para se integrarem socialmente com terras, casas, empregos. Diferentemente do nosso país, que apenas abriu as portas das senzalas. Por isso eu vejo que a imposição de cotas para negros é um mal necessário. Somente assim, a raça negra consegue ainda garantir um espaço dentro da sociedade da nossa nação”, explica.
A exposição termina hoje e está aberta ao público até às 15h na Agência Central do Banco do Brasil, que fica na Rua Paranaíba, centro de Três Lagoas. Até ontem, mais de 3.000 pessoas já tinham visitado o local.