Moradores da comunidade Mandela, uma das maiores favelas de Campo Grande localizada na região norte da capital, foram surpreendidos com incêndio de grandes proporções no final da manhã desta quinta-feira (16). O fogo consumiu grande parte dos barracos e deixou famílias em desespero. A Defesa Civil informou que 39 famílias foram atingidas e cerca de 146 pessoas precisam de acolhimento.
O incêndio teve início às 11h da manhã e a causa ainda está sendo apurada, mas o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) suspeita que um curto circuito na fiação elétrica do local possa ter provocado as primeiras chamas.
"Nós ainda estamos apurando o que causou o fogo, mas são construções precárias, com instalações elétricas também precárias, então possivelmente pode vir até de um curto circuito de uma instalação elétrica mal feita […] As casas são construídas muito próximas e a maioria é de madeira, então houve o alastramento das chamas muito rápido", afirma o chefe da comunicação do CBMMS, Tenente Coronel Antônio Cezar.
Mais de 20 militares com quatro viaturas atuaram incessantemente por mais de duas horas no combate às chamas e ainda não se pode mensurar o tamanho da área queimada. Um atendimento médico foi realizado durante a manhã a um morador que havia inalado fumaça. Ele foi levado pelo Samu para atendimento hospitalar.
O maior desafio dos bombeiros foi conter as chamas em meio aos ventos que atingiam a região. "A decisão do comandante foi confinar o local para que o fogo não se espalhasse e, apesar das altas temperaturas e dos ventos fortes contra os brigadistas, as chamas foram contidas e apagadas rapidamente", concluiu o chefe da comunicação do CBMMS.
O Corpo de Bombeiros informou ainda que pessoas e crianças que estariam supostamente desaparecidades durante a evacuação do local foram todas encontradas.
Perderam Tudo
Rafaela de Amorim conta que abandonou o lar em desespero e, ao olhar para trás, viu que tudo o que tinha, havia sido consumido pelas chamas. Emocionada, a doméstica relembra os momentos de pânico, no início da confusão.
"Do nada todo mundo começou a sair correndo, falando que tava vindo fogo, tava vindo fogo. Todo mundo tentando juntar balde d'água, correndo, estourando mangueira. Como nós sofremos porque não tem água, falta água todo dia, então ninguém conseguiu apagar o fogo e ele veio vindo de barraco em barraco. O que o povo conseguiu tirar de lá foram só os botijões de gás […] Eu perdi tudo, queimou tudo, conquistei um monte de coisa trabalhando e agora perdi tudo", desabafou Rafaela.
O mesmo aconteceu com muitos outros moradores, como Diana Alves, que ao chegar em casa do trabalho não teve tempo nem de salvar os documentos do fogo.
"Perdi tudo, não peguei nada. Eu tinha acabado de chegar do trabalho e o fogo já estava beirando a minha casa, não peguei nem o documento do meu filho e nem o meu", contou Diana, aos prantos.
O desespero também tomou conta da dona Márcia, que mora na comunidade há alguns anos. Ela é mais uma a perder até os documentos: "O fogo queimou tudo, tudo o que eu tinha. Eu não sei o que causou esse fogo todo, eu só consegui pegar um pouco de roupa e na hora do desespero não deu nem pra pegar os documentos. Não sei o que eu vou fazer", disse.
Antes da chegada dos bombeiros, que demorou cerca de 11 minutos após ser acionado, Lourival dos Santos foi um dos moradores da comunidade que tentou ajudar no combate às chamas. "Meus dois filhos moram aqui e eu fui um dos primeiros que começou a apagar as chamas, me chamaram pra ajudar. Mas o fogo avançou muito rápido, começou lá em baixo e veio vindo aqui pra cima, não teve muito que a gente pudesse fazer, tava ventando bastante".
Auxílio ao Mandela
Em nota, a Prefeitura Municipal de Campo Grande informou que está providenciando abrigos temporários àqueles que necessitarem, com distribuição de água, marmitas, colchões e cestas básicas.
"Há famílias que não querem sair da comunidade e nós vamos levar todo o suporte técnico necessário para as famílias que querem o acolhimento. Nós já temos dois abrigos prontos, que é o Cras Vida Nova e a Escola Municipal Kamé Adania. Se houver necessidade, vamos abrir a terceira escola o mais próximo possível da comunidade", afirma a prefeita Adriane Lopes.
Ainda segundo Adriane, os moradores receberão alimentação a partir desta noite e, por enquanto, há o suficiente para alimentar os moradores acolhidos por 10 dias.