A ferrovia Malha Oeste, um dos principais eixos ferroviários do Mato Grosso do Sul, enfrenta o abandono, gerando prejuízos econômicos, riscos nas rodovias, além de afetar a competitividade do Estado.
Em estado precário, o trecho de 1.625 quilômetros que liga Mairinque, em São Paulo, a Corumbá, no Pantanal, está sem operações regulares desde 2023, quando a Arcelor Mittal fechou o último contrato com a empresa Rumo. Sem perspectivas claras de uso contínuo, a ferrovia foi relegada, apesar de sua importância estratégica.
Roberval Placce, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, relata que a fusão da ALL com a Rumo em 2015 marcou o início de um processo de desativação gradual da Malha Oeste, que perdeu clientes e investimentos ao longo dos anos. “Desde então, priorizaram o corredor da Malha Norte, que alegam maiores recursos, e o trecho de Mato Grosso do Sul acabou esquecido”, afirma Placce.
Rodovias estão saturadas
A ausência de transporte ferroviário impulsionou o uso das rodovias do estado, como a BR-262, que hoje, segundo levantamento do sindicato, apresenta tráfego de aproximadamente 7 mil caminhões por semana. Esse fluxo elevado, conforme Roberval Placce, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, não só sobrecarrega a malha rodoviária como aumenta o índice de acidentes e o custo do frete. A situação tornou-se tão crítica que a reativação da ferrovia é apontada como uma solução urgente para reduzir o custo Brasil – termo que se refere aos elevados custos logísticos e de infraestrutura no país.
Relicitação e modernização
O governo federal, por meio do Ministério dos Transportes, desenvolveu um plano que prevê a renovação antecipada da concessão da Malha Oeste para evitar a expiração do contrato com a Rumo, prevista para 2027. A proposta, em análise no Tribunal de Contas da União (TCU), contempla prazo de 30 anos na concessão, além de um acordo de indenização da ferrovia para conexão com a Malha Paulista.
Apesar do avanço no projeto, há incertezas sobre as soluções e os valores de intervenção, que impactam diretamente o interesse dos investidores. A audiência pública realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 2023 foi um passo importante para a relicitação, mas os trâmites ainda encontram dificuldades para viabilizar a implementação de um operador sólido.
Com a reativação, a ferrovia poderia contribuir para o escoamento de produtos essenciais, como a celulose produzida em Três Lagoas, e aliviar o tráfego intenso nas rodovias. Com a instalação da fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo, e futuramente da Bracell em Água Clara, deve aumentar a demanda de transporte de madeira e celulose, o que destaca a urgência em reativar a ferrovia para evitar sobrecarga ainda maior nas estradas.
Roberval Placce reforça que, além de aumentar a competitividade do estado, a reativação poderia reduzir acidentes e mortes nas estradas. “Duplicar rodovias não resolve o problema; precisamos de alternativas de transporte para cargas pesadas e de grande volume, e a ferrovia é a solução”, disse.
CONCESSÃO
Se aprovada, a concessão para uma nova empresa, viabilizaria investimentos robustos, com potencial para devolver a Malha Oeste, que tem papel estratégico no transporte interestadual. Além da modernização e expansão, o governo concedeu trechos de conexão até as fábricas de celulose da Suzano e Eldorado, em Mato Grosso do Sul, facilitando o transporte direto ao Porto de Santos. Caso a inovação seja concluída, a expectativa é que a ferrovia opere de forma sustentável, incentivando o desenvolvimento econômico de Mato Grosso do Sul e promovendo alternativas ao tráfego rodoviário.