O preço da arroba do boi tem registrado alta nos últimos meses em Mato Grosso do Sul, trazendo alívio aos produtores. A valorização, atribuída à baixa oferta de animais prontos para o abate e ao aumento nas exportações, ocorre após um período prolongado de estiagem que reduziu a disponibilidade de gado.
Conforme o boletim Casa Rural, da Federação de Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), a arroba do boi registrou alta de 19,1%, enquanto a arroba da vaca subiu 19,5% entre 2023 e 2024.
O pecuarista Ivan Carrato acredita que a notícia é positiva, pois o setor enfrentou um longo período de desvalorização desde 2022. “A arroba estava sendo achatada enquanto os custos subiam. O poder de troca para itens essenciais, como madeira, arame, peças de trator e até o próprio maquinário, estava extremamente baixo. O pecuarista passou por uma fase muito difícil, agravada pela seca recente. Essa recuperação, que elevou o preço da arroba de cerca de R$ 220 para R$ 320 em aproximadamente três meses, traz um pouco de alívio“.
A extrema escassez enfrentada por Mato Grosso do Sul dificultou significativamente as vendas, ainda que o principal comprador da carne bovina continue sendo a China. No entanto, o mercado brasileiro segue com preços menos competitivos quando comparado a outros grandes países exportadores de carne. “A arroba brasileira ainda está entre as mais baixas no cenário internacional. Nós ficamos próximos ao Uruguai, mas ainda estamos abaixo da Argentina e chegamos à metade do valor nos Estados Unidos. Dos grandes fornecedores de carne mundial, o Brasil está com a arroba mais baixa, considerando nosso rebanho de cerca de 230 a 240 milhões de cabeças. Isso favorece a demanda por países como a China, que tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas. A busca por carne brasileira é alta, e Mato Grosso do Sul, com o melhor rebanho bovino do mundo, é peça fundamental nessa história“, destaca Ivan.
O valor pago pela arroba do boi no estado alcançou R$ 302 na última semana, empatando com o Paraná e ficando ligeiramente abaixo dos R$ 305 praticados em São Paulo. A Famasul também aponta que, apesar de uma queda de 12,8% nos abates em setembro em relação a agosto, o total de 256,4 mil animais enviados ao abate foi 20,7% maior em comparação com setembro de 2023, indicando um aumento nas exportações.
De acordo com o analista de mercado Germano Sesitini, este é um bom momento para o produtor, sendo considerado o pico do valor. “Hoje, em Três Lagoas, a arroba do boi está em R$ 315 no balcão, a vaca em cerca de R$ 290, e a novilha entre R$ 295 e R$ 300. Desde o início do mês, esses valores já subiram um pouco, e estamos agora no pico do ano, com o maior valor registrado em outubro. O piso foi em junho. Isso é muito positivo para o produtor, pois agrega valor e aumenta o poder de compra dentro da sua produção na propriedade“.
Em Três Lagoas, onde a produção de carne bovina enfrenta concorrência com o setor de celulose, considerado em expansão, a pecuária local ainda desempenha papel significativo tanto no mercado interno quanto no externo. “Nos últimos 20 anos, houve uma redução significativa no número de cabeças de gado em Três Lagoas, praticamente pela metade, totalizando hoje cerca de 500 mil. Estima-se que de 25 a 30% desse total seja gado de corte, voltado para produção. Grande parte dessa produção é destinada à exportação ou ao abastecimento de outros municípios e estados, sendo São Paulo o principal comprador de gado do Brasil”.
Segundo especialistas, os preços devem se manter estáveis até a segunda quinzena de novembro, quando poderão ter um reajuste influenciado pelo pagamento do 13º salário, refletindo esse aumento nas prateleiras dos supermercados e açougues nos próximos meses. “Por enquanto, o produtor e o consumidor estão em um momento favorável, pois o preço ainda não foi repassado. Tivemos um teto em 2024, recuperando da depressão dos preços. O valor da carcaça, que é o boi casado vendido ao atacado, atingiu o recorde do ano em R$ 18 por quilo. Esse aumento já começa, sutilmente, a aparecer para o consumidor nas prateleiras. Recentemente, a picanha, que estava a R$ 34,90 o kg em Três Lagoas, já pode ser encontrada a R$ 75 o kg. E acredito que, para dezembro, veremos novos patamares de preço”, explica Germano.