O aumento de casos de sarampo nas Américas coloca o Brasil em estado de atenção, embora os três casos confirmados até o momento não comprometam o certificado de país livre da doença, reconquistado no ano passado.
De acordo com a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios da Fiocruz, Marilda Siqueira, para que o Brasil perca a recertificação, é necessário que haja cadeias de transmissão sustentadas pelo mesmo genótipo do vírus por um ano. Atualmente, o Ministério da Saúde considera os casos registrados como esporádicos: dois no Rio de Janeiro, em bebês gêmeos que ainda não tinham idade para a vacina, e um no Distrito Federal, em uma mulher que provavelmente contraiu a doença no exterior.
Até 12 de março, foram notificadas 110 suspeitas da doença, das quais 22 seguiam em investigação, segundo o painel epidemiológico do Ministério da Saúde. O sarampo é de notificação compulsória, o que exige comunicação imediata às autoridades sanitárias. Em caso de confirmação, há protocolos de rastreamento de contatos e bloqueio vacinal para evitar surtos.
Risco nas américas
O aumento de casos em outros países reforça a necessidade de vigilância. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), até 24 de março, 507 casos foram confirmados no continente, superando o total de 2023. Os Estados Unidos registraram 301 casos e duas mortes, enquanto Canadá, México e Argentina contabilizaram 173, 22 e 11 casos, respectivamente. A Opas classifica o risco de disseminação como alto.
O último grande surto de sarampo no Brasil, em 2017, foi impulsionado pela queda na cobertura vacinal, o que facilitou a transmissão do vírus, principalmente entre estados próximos à Venezuela, que enfrentava um surto intenso da doença na época.
Importância da vacinação
A vacina contra o sarampo, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), faz parte da Tríplice Viral, que também protege contra caxumba e rubéola. O esquema vacinal prevê a primeira dose aos 12 meses e a segunda aos 15 meses. Em 2024, o Brasil atingiu 95% de cobertura na primeira dose, mas menos de 80% das crianças receberam a segunda.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, explica que a segunda dose é essencial para evitar falhas imunológicas e prolongar a proteção. Além disso, destaca que a baixa cobertura durante a pandemia de covid-19 aumentou o número de pessoas suscetíveis à infecção.
A imunização é recomendada para pessoas de até 59 anos que não tenham sido vacinadas ou não tenham comprovação da imunização. Dados recentes mostram que quase metade dos casos registrados nas Américas ocorreu em pessoas entre 10 e 29 anos, o que reforça a necessidade de ampliar a cobertura vacinal.
Segundo a Unicef, o sarampo é um indicativo de falhas na vacinação, pois sua alta transmissibilidade facilita surtos quando há perda da imunidade coletiva. A chefe de Saúde do Unicef no Brasil, Luciana Phebo, ressalta que, além da pandemia, a hesitação vacinal tem impactado negativamente a cobertura. O fenômeno ocorre quando há desinformação ou desconfiança em relação às vacinas, o que pode comprometer os esforços de erradicação da doença.
Especialistas reforçam que a vacinação em larga escala é a principal ferramenta para evitar a reintrodução do sarampo no Brasil e garantir a proteção coletiva.
*Com informações da Agência Brasil