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Censo inédito vai mapear moradores em situação de rua em Três Lagoas e orientar ações de acolhimento

Levantamento busca traçar um perfil detalhado da população em vulnerabilidade

Levantamento busca traçar um perfil detalhado da população em vulnerabilidade. Foto: Divulgação/Assessoria.
Levantamento busca traçar um perfil detalhado da população em vulnerabilidade. Foto: Divulgação/Assessoria.

A Prefeitura de Três Lagoas, em parceria com o 2º Batalhão da Polícia Militar e diversos órgãos municipais, anunciou a realização de um Censo Municipal das Pessoas em Situação de Rua. A medida foi definida em reunião realizada nesta semana no gabinete do prefeito Cassiano Maia, e representa o primeiro passo concreto para enfrentar o crescimento do número de moradores de rua na cidade.

O levantamento será realizado durante 20 dias e busca traçar um perfil detalhado da população em vulnerabilidade, incluindo informações como naturalidade, escolaridade, uso de substâncias químicas, histórico familiar e interesse em tratamento. A iniciativa também irá mapear os pontos de permanência mais frequentes, permitindo que ações futuras sejam mais direcionadas. “Esse diagnóstico é essencial para sabermos quem são essas pessoas, de onde vieram e o que as levou à rua”, afirmou Solange Sanches, coordenadora do Centro POP, unidade de referência para o acolhimento dessa população.

Segundo Solange, a maior parte dos casos está ligada ao uso de substâncias psicoativas, rompimentos familiares, desemprego e perda de moradia.
De acordo com a coordenadora, Três Lagoas se tornou um ponto de passagem e também de permanência para pessoas em situação de rua, vindas de outras regiões do Estado e até de fora dele. “A cidade está em uma rota de trânsito entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Muitos chegam aqui por acaso e acabam ficando, porque encontram acolhimento e assistência”, explicou.

Esse acolhimento, aliás, é um dos fatores que contribuem para que algumas pessoas permaneçam nas ruas, mesmo com acesso a serviços. “Temos uma estrutura bem montada. No Centro POP, eles tomam banho, se alimentam, recebem kits de higiene, roupas, e são acompanhados por psicólogos e assistentes sociais. Mas muitos preferem ficar na rua, por conta do vício e da liberdade de ir e vir. Não podemos obrigá-los a se tratar ou aceitar acolhimento”, completou.

A primeira reunião sobre o tema foi realizada no dia 15 de abril e contou com representantes das Secretarias de Saúde, Assistência Social, Governo e do 2º BPM. O comandante da unidade, major Ronaldo Moreira, destacou que o problema é nacional e crescente. “Não é exclusivo de Três Lagoas. Dados do governo federal mostram que a população em situação de rua aumentou quase 50% no país entre 2022 e 2024”, afirmou.

O major ressaltou a importância de integrar forças públicas para que as ações deixem de ser pontuais e passem a compor um programa municipal contínuo. “Sem um programa estruturado, é como enxugar gelo. Mas acredito que, com esse trabalho em conjunto, vamos conseguir mudar vidas. Essas pessoas precisam de dignidade, não de julgamento”, disse Moreira.

Atualmente, a Polícia Militar já mapeou 11 pontos de permanência de pessoas em situação de rua na cidade e realiza abordagens constantes, sempre respeitando os direitos de cada indivíduo. “Muitas vezes, essas pessoas são vistas como criminosas, mas a maioria é vítima da sociedade. Apenas 29% relatam que foram às ruas por causa das drogas. O restante foi por conflitos familiares, desemprego, despejo”, concluiu.

A próxima reunião do comitê está marcada para o mês de maio, quando será apresentado o resultado do censo e definidas as próximas etapas. A expectativa é que o levantamento sirva como base para políticas públicas mais efetivas e humanizadas.
Enquanto isso, o apelo à população é claro: não dar dinheiro nas ruas. “A esmola perpetua a permanência deles na rua. Precisamos de conscientização. Em vez de dar moedas, oriente essas pessoas a procurar os serviços públicos. O Centro POP está de portas abertas”, finalizou Solange.