O racismo estrutural no Brasil é uma herança de quase 400 anos de escravidão que deixou marcas profundas na sociedade. Esse tema vem ganhando espaço nas redes sociais, gerando discussões, apoio e, muitas vezes, controvérsias. Mas, afinal, existe racismo no Brasil? Em Três Lagoas, essa pergunta foi levada às ruas.
A estudante Lorena Almeida, de apenas 10 anos, já tem uma opinião formada sobre o assunto. “Na minha escola tem preconceito, na rua, é muito comum”, relatou a adolescente. O químico Elielton Steve compartilha da mesma percepção e reforça que a prática nem sempre está explícita. “Vemos discriminação, às vezes de forma invisível, como em entrevistas de emprego ou no atendimento diferenciado em uma loja”, destacou Steve.
O Dia da Consciência Negra, instituído em 2011 como feriado facultativo, tornou-se obrigatório em 2024, após sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O professor de história, Dorival Júnior, explica o impacto dessa decisão. “O feriado já existia desde 2011, sancionado pela então presidente Dilma Rousseff, mas era facultativo em alguns estados. Agora, em 2024, ele foi transformado em feriado nacional, obrigatório em todo o país”, comentou o professor.
Esse avanço representa um passo importante para reconhecer a luta e a resistência da população negra no Brasil, como enfatiza a historiadora, Cidolinda Silva, que realiza palestras em escolas de Três Lagoas para conscientizar jovens e crianças sobre a importância do tema. “Nosso povo brasileiro é miscigenado, em sua maioria negro. Por que não ter um dia de Consciência Negra, já que o país ainda enfrenta o racismo e o preconceito?”, questiona.
Para Cidolina, o racismo se manifesta de diversas formas, mas o mais comum é o velado. “É quando alguém faz comentários que parecem inofensivos, mas são profundamente ofensivos, como ‘nossa, você é incrível, apesar de ser negro’”, exemplificou a professora.
A abordagem da história africana e da cultura negra nas escolas é vista como uma ferramenta fundamental para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Para o estudante Gabriel Matheus, de 16 anos, o racismo precisa ser enfrentado desde cedo. “No Brasil, o racismo está sendo normalizado como brincadeira, por isso o feriado é tão importante”, destacou o jovem.
Os dados refletem as desigualdades raciais presentes em Mato Grosso do Sul e em Três Lagoas. Segundo o IBGE (2022), 46,9% da população do estado se declara parda, seguida pelos autodeclarados brancos (42,3%). Em Três Lagoas, apenas 9% da população se autodeclara preta, evidenciando um cenário de desigualdade e representatividade.