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Preconceito

Dia de Combate à Intolerância Religiosa: cultos de matrizes africanas são os que mais sofrem

Preconceito persiste com ataques e ofensas em eventos e rituais religiosos

No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado nesta terça-feira (21), os desafios enfrentados pelas religiões de matriz africana ganham destaque. No último ano, o Brasil registrou 2.124 violações de direitos humanos relacionadas à intolerância religiosa, a maioria contra práticas como a umbanda e o candomblé.

Em Três Lagoas, a realidade não é diferente. A presidente do Fórum Estadual de Religiões de Matrizes Africanas, Luciana Rueda, relatou episódios de preconceito, desde barulhos intencionais durante rituais até ataques diretos, como apedrejamento e ofensas durante eventos religiosos. “As pessoas nos julgam pelas nossas roupas, pelas guias. Já ouvi até que minhas guias incomodavam colegas no trabalho”, conta Rueda, que também é professora e Doutora Honoris Causa em Ciências da Religião.

Em 2024, Rueda organizou uma semana de exposições sobre religiões afro-brasileiras, mas o evento foi marcado por dificuldades. Sem apoio financeiro do poder público, os palestrantes se deslocaram por conta própria. Além disso, participantes enfrentaram pedradas e ofensas na entrada do local. “Foi muito difícil, mas seguimos lutando para que este ano a história seja diferente”, afirmou.

O diácono Roberto Rabelatti, representante cristão, reforçou a importância do respeito e da convivência harmoniosa. “A intolerância é crime e uma desumanização. Religião é algo que deve nos tornar pessoas melhores, independente da crença”, declarou, citando o Papa Francisco como exemplo de diálogo inter-religioso.

Oficializado em 2007 pela Lei 11.635, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa homenageia o terreiro de candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador (BA), que sofreu ataques. A data visa promover a liberdade religiosa e combater preconceitos históricos que remontam aos mais de 200 anos de escravidão no Brasil.