Veículos de Comunicação

Entrevista

Dia do transtorno bipolar alerta para busca de ajuda profissional

O psiquiatra Juberty Antônio de Souza explicou a causa e as consequências da doença

O psiquiatra Juberty Antônio de Souza explicou a causa e as consequências da doença. - Foto: Duda sSchindler/CBN-CG
O psiquiatra Juberty Antônio de Souza explicou a causa e as consequências da doença. - Foto: Duda sSchindler/CBN-CG

O dia 30 de março foi escolhido para a conscientização sobre um grave distúrbio mental que atinge 140 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A data é um alerta para a busca de tratamento, pois além de prejudicar as relações sociais e a produtividade, é um risco à vida. Crises depressivas prolongadas podem aumentar em 15%,  a taxa de suicídio nos pacientes bipolares.  O psiquiatra Juberty Antônio de Souza explica a causa e as consequências da doença.

O que é o transtorno bipolar e como a doença afeta a rotina dos pacientes? 

Dr Juberty O transtorno bipolar é uma doença de características hereditárias e que aparece em dois polos. O primeiro é o da euforia e, nele, a pessoa passa a apresentar uma alegria desmedida e aceleração do curso do pensamento. Ela quer fazer as coisas de uma maneira rápida e, quando isso acontece, não dá tempo de analisar as consequências e se determinada atitude é adequada ou não. O humor, a força e os apetites são exagerados. Ocorre um exagero na forma de comprar, de comer, de fazer sexo e de trabalhar. Por outro lado,  nós temos o polo depressivo, no qual verificamos as pessoas com uma tristeza imensa, mesmo sem ter motivo objetivo. Ocorre diminuição da velocidade, apatia, diminuição de prazer ou ânimo e de satisfação. Há uma dificuldade em dormir, em comer e em trabalhar. É chamado então de bipolar porque pode estar no polo eufórico ou no polo deprimido.

Em algum momento o paciente se encontra em um estado de regularidade?

Dr Juberty Sim, porque as pessoas que são acometidas do transtorno bipolar podem ter várias fases eufóricas e, eventualmente, uma fase depressiva ou podem apresentar só fases depressivas e, eventualmente, uma fase de euforia. A pessoa nota perfeitamente quando está em um polo e quando está no outro. O ponto de transição é que dificulta a percepção. Quem distingue, habitualmente, são seus companheiros, familiares e colegas, que dizem ‘olha, você está começando a ficar acelerado. Opa, você está começando a ficar cabisbaixo’. É necessário que outra pessoa indique e nem sempre a ajuda é bem aceita. Não tem outra forma a não ser falar a verdade. 

Como é a própria aceitação de um possível diagnóstico de transtorno bipolar?
Dr Juberty O paciente só aceita, geralmente, quando melhora e então entende que estava acelerado ou quando piora muito e ocorre a necessidade de uma intervenção mesmo contra a sua vontade. O primeiro contato com a doença é muito difícil, mais para euforia do que para a depressão, porque no polo da depressão, a pessoa percebe que está menos produtiva, com uma tristeza desmedida e choro incontrolável, embora não aceite a doença de primeira vez.  Quando a pessoa está em um estado de euforia ou em um período intermediário, chamado hipomania, ela fica contente porque realiza muitas coisas, dorme menos e tem muitos sucessos ou até muitos fracassos, e quando alguém faz o alerta, o paciente acredita que é inveja, que estão querendo sabotá-lo, mas isso não é verdade. Quando é a primeira vez lidando com essa situação, fica muito difícil da pessoa discernir .

Ainda há muito preconceito em relação ao transtorno bipolar?

Dr Juberty Há tanto preconceito que às vezes se torna piada ou é usado no sentido pejorativo. Tornou-se um nome pejorativo. O deprimido termina sendo considerado como preguiçoso e esse estigma é maior, porque a pessoa perde a capacidade de trabalhar, tudo é desanimador, e dizem ‘vai trabalhar que você vai ver que a depressão vai embora’. Então ainda é uma situação de muito preconceito e até de agressividade.

Os jovens, com idade entre 15 e 25 anos, têm prevalência em relação a doença, mas também existem picos tardios, entre 45 e 55 anos. O que estas idades representam? 

Dr Juberty Como todas as doenças de características hereditárias, há influência hormonal. Os adolescentes passam por uma revolução hormonal e existe um termo pejorativo da ‘aborrecência’. Grande parte dos adolescentes com a presença dessa ‘aborrecência’, na verdade, estão apresentando fases mitigadas, seja de euforia ou de depressão. Hoje também se verifica que para as mulheres o maior pico ocorre na quinta década de vida, depois dos 40, porque novamente vem a chuva hormonal e todas as modificações hormonais da idade adulta para a velhice. O polo de depressão grave ocorre mais na mulher do que no homem. Então, acredita-se que os fatores hormonais estejam muito presentes em relação a isso.

E quando identificado esse transtorno, como é realizado o tratamento? 

Dr Juberty O tratamento pode ser mais tranquilo desde que a pessoa aceite o seu diagnóstico e aceite fazer o tratamento. Atualmente, estão identificados quais são os neurotransmissores, ou seja, as substâncias cerebrais que ficam alteradas, seja em um polo ou em outro, então o tratamento é químico e age na estabilização dos humores. Isso é em relação à doença com o tratamento farmacológico, que dá muito resultado. Mas, o transtorno bipolar ocorre em uma pessoa, e de acordo com as suas características a doença pode ficar maior, menor, ter alterações e, por isso, o tratamento essencial é a psicoterapia. Eu costumo dizer que o remédio combate a doença e a terapia ajuda a pessoa, porque ela reage ao transtorno e isso traz sequelas e modificações que só o autoconhecimento e o treinamento em determinadas condutas podem trazer a melhora. O ideal é a associação do tratamento farmacológico com o tratamento psicoterápico.