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'Mãos que ajudam'

Falta de apoio contínuo limita as possibilidades de expansão do CER 2

A reportagem é da série especial 'Mãos que ajudam' e sobre o Centro de Reabilitação da Apae, que enfrenta futuro incerto

Centro de Reabilitação da Apae enfrenta futuro incerto e prédio onde funciona o CER 2 foi colocado à venda. - Foto: Reprodução/TVC
Centro de Reabilitação da Apae enfrenta futuro incerto e prédio onde funciona o CER 2 foi colocado à venda. - Foto: Reprodução/TVC

A partir desta edição, o Jornal do Povo e os demais veículos do Grupo RCN iniciam uma série de reportagens especiais que revelam a realidade de instituições fundamentais para a sociedade, mas que lutam para manter o atendimento às pessoas mais vulneráveis. Nesta primeira reportagem da série "Mãos que ajudam", destacaremos os desafios enfrentados pelo único centro de reabilitação da cidade, o CER 2,  para continuar suas atividades.

O número de pacientes que precisam de tratamento de reabilitação tem aumentado em Três Lagoas e nas cidades vizinhas. A única clínica da cidade a oferecer  esse tipo de atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Centro de Reabilitação CER 2, administrado pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), está em uma situação delicada e seu futuro é incerto.

Localizado na avenida Filinto Muller, no centro de Três Lagoas, o CER 2 é um espaço vital para a comunidade. Com aproximadamente 400 pacientes atendidos mensalmente, a clínica realiza cerca de 3.300 procedimentos por mês, oferecendo suporte às pessoas com deficiência intelectual, autismo, hiperatividade, deficiências físicas, pacientes que sofreram AVC, entre outros problemas neurológicos.

Segundo a coordenadora da unidade, Priscila Carvalho, o CER 2 conta com uma equipe multidisciplinar que inclui fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, ortopedistas, psiquiatras, educadores físicos, fisioterapeutas e neurologistas. Esses profissionais desempenham um papel crucial na reabilitação dos pacientes, ajudando-os a recuperar sua autonomia e reintegrar-se à sociedade.

Contudo, a crescente demanda por esses serviços não tem sido acompanhada por um aumento proporcional na capacidade de atendimento. Além disso, a clínica enfrenta um grave problema: o prédio onde funciona foi colocado à venda, e o contrato de aluguel com a Apae vence este mês. Segundo Nelson Torres, presidente da Apae, encontrar um novo local que comporte a estrutura do CER 2 tem sido uma tarefa árdua. “Precisamos de um espaço próprio, maior, e com urgência. Estamos muito preocupados em manter o espaço funcionando e continuar oferecendo um atendimento de qualidade”, afirmou.

A situação é ainda mais complicada pelo fato de que a unidade também atende pacientes de outras sete cidades da região Costa Leste de Mato Grosso do Sul. Apesar de receber recursos do Ministério da Saúde e do governo estadual, que cobrem as despesas mensais de R$ 209.883,40, o município de Três Lagoas não oferece um repasse fixo para a clínica.

Desde que assumiu a presidência da Apae em 2023, Torres conseguiu dois repasses da prefeitura, um no valor de R$ 80 mil e outro de R4 180 mil, mas a falta de um apoio contínuo limita as possibilidades de expansão e melhoria dos serviços. Para transformar o CER 2 em um CER 4, que ofereceria uma gama maior de atendimentos, seria necessário ampliar a estrutura física da unidade, o que não é possível no prédio atual. Nelson Torres acredita que a prefeitura tem condições de ajudar a encontrar um novo local. “Estamos trabalhando junto à administração municipal para ver se conseguem um espaço para que, futuramente, possamos ter um CER 4.

O nosso convênio depende dos valores repassados pelos governos federal e estadual, mas agora estamos solicitando que a prefeitura nos ajude mensalmente”, explicou.  

Prefeitura 

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que entende a preocupação da APAE quanto à necessidade de um novo imóvel para abrigar o CER 2 e esclarece que a busca por um local adequado não é uma tarefa simples, pois o novo espaço deve atender a rigorosos critérios de saúde e acessibilidade, indispensáveis para a segurança e o bem-estar dos usuários. E que que tem apoiado ativamente a APAE na procura por um novo prédio, mas até o momento, não há disponibilidade de um imóvel próprio que reúna todas as condições necessárias para abrigar este serviço especializado.

Em relação ao apoio financeiro, a pasta declarou que os recursos destinados à execução dos serviços do CER 2 provêm de três fontes: estadual, federal e municipal. A Prefeitura, por meio do Termo de Convênio nº 003/2023, tem garantido a destinação de recursos municipais para o funcionamento do CER 2, em conjunto com os repasses da União e do Governo Estadual. Segundo a SMS, é repassado um recurso anual de R$ 264 mil, que equivale a R$ 22 mil por mês. A secretaria reitera, ainda, que o município tem mantido sua contribuição financeira e continua comprometido com a manutenção dos serviços prestados pelo CER 2.

O presidente da Apae, no entanto, diz que esse convênio referido pela prefeitura foi assinado justamente em sua gestão, e que garantiu duas parcelas para o CER. Nelson Torres reivindica repasses mensais, assim como a União e Estado. No novo convênio que está sendo discutido, o presidente disse que está solicitando por escrito essa participação do município.

A prefeitura diz ainda que segue empenhada em apoiar a APAE tanto na procura por um novo local quanto na manutenção dos recursos necessários para a operação do Centro. Inclusive, a pasta se coloca à disposição para novas conversas e para buscar, em conjunto, a melhor solução possível para essa situação.

O impacto positivo do CER 2 na vida dos pacientes é inegável. Eliane Felix Machado, que frequenta o centro há dois anos após perder uma perna devido à complicações da Covid-19 e uma trombose, relata como a fisioterapia foi essencial para sua recuperação. “Cheguei aqui bem debilitada, com poucos movimentos. Graças ao CER, consegui colocar uma prótese. Hoje já faço meus exercícios em pé e ando para todos os lados”, conta.

Orimar Maria da Silva, de 51 anos, também teve parte do pé amputado por conta do diabetes e, recentemente, perdeu a visão. Frequentadora do CER 2 há quatro anos, ela destaca o apoio recebido na clínica. “Aqui temos uma assistência muito boa, tudo gratuito. Aprendi a perder o medo e recuperar o equilíbrio”, relata.

Para Priscila Carvalho, coordenadora do CER 2, essas histórias exemplificam a importância de um espaço maior e com mais profissionais para atender à crescente demanda. Atualmente, mais de 100 pessoas aguardam na fila para iniciar o tratamento no centro, o que reforça a necessidade urgente de uma solução para a situação do CER 2.

Paciente, Eliane diz que CER foi essencial na sua recuperação pós-covidOrimar  é cega e depende do CER para reabilitação
 

Veja a reportagem: