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Entrevista

Governo prevê licitar a concessão do Porto Seco de Três Lagoas ainda neste semestre

Projeto está aprovado e autorizado pela Receita Federal e depende de ajustes no Plano Diretor do município para a liberação da área

Secretário de Estado, Jaime Verruck, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, participou de entrevista na Rádio Massa FM, no programa Microfone Aberto. Foto: Massa FM.
Secretário de Estado, Jaime Verruck, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, participou de entrevista na Rádio Massa FM, no programa Microfone Aberto. Foto: Massa FM.

O projeto de implantação da Estação Aduaneira Interior (Eadi), o chamado Porto Seco de Três Lagoas, pode sair do papel ainda neste semestre. Após anos de entraves burocráticos, a estrutura foi autorizada pela Receita Federal e já conta com o apoio do Governo do Estado, da Prefeitura e da iniciativa privada.

De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, os próximos meses serão decisivos para a viabilização do empreendimento, que está em discussão desde 2017. “A área está autorizada pela Receita Federal, o projeto está pronto e o governo pretende lançar o edital de licitação no final deste semestre”, afirmou o secretário em entrevista ao Grupo RCN.

O estudo técnico da Receita Federal, que analisou a viabilidade econômica da Eadi, já apontava desde 2010 a necessidade da implantação do Porto Seco em Três Lagoas. Entre 2018 e 2023, o município movimentou US$ 2,517 bilhões em importações — o equivalente a 32,5% do total estadual — e US$ 2,024 bilhões em exportações, representando 4,6 milhões de toneladas, majoritariamente da produção industrial de celulose.

Com base nesses dados, a Receita definiu que a estrutura deve ocupar uma área de 100 mil metros quadrados, compatível com o porte de outras unidades da 1ª Região Fiscal, como as de Anápolis, Brasília, Corumbá e Cuiabá. O espaço também terá capacidade de expansão e integração com o modal ferroviário.

A proposta é instalar a Eadi na saída de Três Lagoas para Campo Grande, com acesso direto à BR-262 e conexão com o ramal ferroviário. O novo contorno rodoviário em construção, que ligará a BR-262 à BR-158, deve facilitar ainda mais o escoamento de cargas.

Para que a licitação seja lançada, será necessário um ajuste no Plano Diretor do município, já em negociação com a Prefeitura. A área destinada ao projeto é de uma fazenda que fará a doação pelos proprietários à administração municipal

Secretário, esse será o segundo Porto Seco de Mato Grosso do Sul e, conforme a própria Receita Federal, há praticamente quinze anos, o município de Três Lagoas já deveria contar com essa infraestrutura logística para escoar a produção destinada à exportação e receber as importações. Qual a expectativa para esse projeto ser concretizado?
JAIME VERRUCKEu venho trabalhando nesse projeto desde o início, há oito anos, e a notícia importante para Três Lagoas é que o projeto está viabilizado pela Receita Federal. O Governo do Estado tem participado desse processo junto ao município, tanto na gestão anterior do prefeito Ângelo Guerreiro quanto, neste ano, na nova gestão do prefeito Cassiano Maia — com quem já tivemos duas reuniões.

A situação atual do porto é que ele está autorizado pela Receita Federal. O projeto está pronto para ser enviado à Câmara de Vereadores. Recentemente, a Receita fez um pedido de área adicional, com o objetivo de ampliar a estrutura do futuro Porto Seco de Três Lagoas. Tudo isso precisa estar alinhado à revisão do Plano Diretor do município.

Por isso, neste primeiro semestre, estamos negociando com o prefeito Cassiano Maia um ajuste no Plano Diretor e a disponibilidade da área, que hoje é uma fazenda e será doada ao município. Temos a perspectiva de aprovar o projeto na Câmara Municipal de Três Lagoas ainda neste semestre, diante do interesse do município no Porto Seco. E, a partir daí, provavelmente no mês de junho, lançaremos um edital com a área já disponibilizada — doada ao município — para então terceirizar a estrutura alfandegária.

Sobre a questão da retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados, a UFN3, como estão as tratativas? Já se tem uma data oficial?
JAIME VERRUCK
Nós também estamos acompanhando, e o cronograma da Petrobras indica que, no mês de junho, haverá o lançamento do edital das obras. Trata-se de uma obra de oitocentos milhões de dólares, já estimada. Eles já terminaram toda a avaliação.
É uma obra importante não só para o Mato Grosso do Sul, mas também para o Brasil, pois está alinhada com a meta de reduzir a dependência de fertilizantes.

A Petrobras também fechou a equação do gás. Obviamente, uma unidade como essa precisa do fornecimento regular de gás. Por isso, estamos bastante otimistas, especialmente considerando que essa obra está paralisada há mais de dez anos. Neste momento, ela faz parte do plano estratégico da Petrobras, aprovado pelo Conselho de Administração da empresa, e com cronograma para o mês de junho, que prevê o anúncio dos editais de contratação das empresas responsáveis por concluir a obra.

Estamos vivenciando um novo ciclo de desenvolvimento industrial aqui no estado. Bioenergia, celulose, citricultura e outros segmentos. E Isso gera muitas oportunidades, mas também alguns desafios que não são novos. A gente encontra muitos empresários comentando sobre a dificuldade em preencher vagas. Como o governo de MS vem trabalhando esse cenário para que as pessoas tenham capacidade de aproveitar e ocupar essas oportunidades do mercado de trabalho regional?
JAIME VERRUCK
Esse é um grande desafio, e eu vou te dar um número: nós batemos um recorde de oito mil e quinhentas novas vagas. Foi um recorde de contratação formal para o mês de fevereiro em Mato Grosso do Sul. Só que, hoje, eu tenho disponíveis, lá na Funtrab (Fundação do Trabalho de MS), praticamente vinte e duas mil vagas abertas. Isso já mostra exatamente o tamanho do desafio que nós temos.

O governador Eduardo Riedel chama isso de ‘as dores do crescimento’, pois estamos crescendo, desenvolvendo e enfrentamos um problema de quantidade de pessoas. Essa é uma questão fundamental. Temos uma situação em que, muitas vezes, os empreendimentos estão trazendo pessoas de fora, enquanto ainda há uma massa de trabalhadores que poderiam ser qualificados e inseridos no mercado de trabalho.

O primeiro desafio é que se trata de jovens — e temos uma dificuldade muito grande com o jovem, que é a mobilidade. O jovem que mora em Campo Grande não quer ir trabalhar no interior, em cidades como Ribas do Rio Pardo ou Inocência. Outras vezes, o jovem que está em Dourados não está disposto a se deslocar para Laguna Carapã, Naviraí ou Ivinhema. Então, essa mobilidade é algo que precisamos trabalhar: convencer o jovem sobre o mundo do trabalho e mostrar que, hoje, o interior de Mato Grosso do Sul oferece as melhores oportunidades.

Por outro lado, temos um amplo programa de qualificação profissional e técnica. No estado, chamamos isso de ‘voucher’. Nós já fizemos isso com os caminhoneiros: colocamos com carteira de habilitação, mais de quatrocentas pessoas, enquanto tínhamos caminhões parados no Estado por falta de pessoas qualificadas para essas vagas.

E, quando a gente olha para o setor industrial, há um foco muito forte na formação técnica. Então, o que estamos fazendo hoje é qualificar. Somente em Dourados, podemos citar a mão de obra de venezuelanos. Nós temos determinadas atividades, como o setor de proteína, que dependem desse migrante atualmente. E, se não tivermos essas pessoas no estado, haveria um comprometimento sério de algumas atividades na área de proteína animal. Chamamos isso de ‘dores do crescimento’, e essas pessoas são bem-vindas para trabalhar no Mato Grosso do Sul. Obviamente, temos que qualificá-las.

Outro ponto importante, e que está no centro de nossas ações de ampliação, é a questão da habitação no estado. Hoje, o custo da moradia no interior é alto, e muitas vezes o trabalhador rejeita uma proposta de emprego por causa do valor do aluguel. Pretendemos ampliar a oferta de habitação para reduzir esse custo, reter a mão de obra e, assim, conseguir levar mais trabalhadores para o interior.