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Editorial

Moradia e dignidade: a conta que não fecha

Leia o Editorial do Jornal do Povo, da edição que circula neste sábado (26). Foto: Reprodução/TVC.
Leia o Editorial do Jornal do Povo, da edição que circula neste sábado (26). Foto: Reprodução/TVC.

O tempo passa e as questões sociais ficam cada vez mais distantes do alcance daqueles que precisam de encaminhamento e amparo do poder público, que não consegue diminuir as diferenças sociais identificadas em todos os quadrantes do país. Em Três Lagoas, nos últimos oito anos, não foram construídas moradias populares para trabalhadores de baixa renda. E, como consequência desse descaso, áreas urbanas foram invadidas e núcleos de favelas acabaram sendo instalados com casas de lonas, com cobertura precária ou montadas com madeira e telhas usadas, recolhidas lá sabe-se onde. Para agravar, sem água e energia elétrica.

Mesmo assim, dezenas de famílias optaram por morar nestas condições precárias. No apagar das luzes do ano passado, algumas dezenas — não mais do que cinquenta — casas populares no Jardim das Violetas foram liberadas para construção, através de programa social decorrente da conjugação de esforços entre a União e o governo do Estado. Há previsão de licitação de mais 192 apartamentos que serão construídos na Vila Piloto. Entretanto, a demanda de interessados em habitação popular ascende à casa de mais de 10 mil famílias.

O anúncio de que Três Lagoas é cidade que prospera e se desenvolve industrialmente no setor da celulose e demais áreas que envolvem o setor de indústrias atrai gente de todos os quadrantes na busca de trabalho. Entretanto, alguns poucos, por um motivo ou outro, não conseguem trabalho e, como consequência, sem recursos materiais, ficam desguarnecidos, ou seja, sem teto, sem alimentação e com a roupa do corpo e, para agravar a situação, sem condições de voltarem para a cidade de onde vieram. Embora Três Lagoas disponha de abrigos temporários, muitos preferem mendigar e adormecer embaixo de coberturas de prédios públicos. Para agravar, além das dificuldades em obterem alimentos — ou, quando conseguem algum donativo em dinheiro — se apressam em comprar bebida alcoólica. Outros buscam no mercado negro das drogas a compra do crack, por ser mais barato. E, assim, os índices de moradores de rua aumentam, embora o poder público saia às ruas para recolher e abrigar temporariamente essas pessoas que vivem praticamente em estado de miséria.

O analfabetismo e a falta de qualificação para o trabalho são circunstâncias que pioram a situação. Dados recentes do CadÚnico dão conta de que, em março de 2025, o Brasil tinha 335.151 pessoas em situação de rua, representando um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Portanto, trata-se de questão intimamente ligada à questão econômica e de assistência social, que deverá incrementar o atendimento e amparo dessas pessoas em situação de rua. Em Três Lagoas, a municipalidade já está adotando providências para que a situação não se agrave. É preciso agir preventivamente, pois a retomada da instalação industrial UFN 3 pretende qualificar aproximadamente 4 mil pessoas, além das 7 mil que estarão atuando dentro do seu canteiro de obras. Mais ainda, a Arauco informa que, no pico da obra, pretende contratar entre 12 e 14 mil. Portanto, esse grande volume de contratações poderá contribuir para impactar mais ainda o número de pessoas em situação de rua. Três Lagoas deve entrar em estado de alerta por ser cidade-polo de uma região que se desenvolve a passos largos, sob pena de se tornar um centro com graves problemas sociais.