No Brasil, os pequenos negócios, formalizados por Microempreendedores Individuais (MEI), representam 30% do PIB da economia do país. Desse total, 4% correspondem ao mercado de beleza, um dos maiores e mais crescentes setores do mundo, movimentando aproximadamente R$ 50 bilhões anualmente no cenário nacional.
Existem mais de 1 milhão de salões de beleza no país. Em Três Lagoas (MS), são 898 dessas empresas formalizadas. Uma delas é o salão da cabeleireira Emília Witter Donadoni, de 37 anos, um exemplo de como microempresas podem contribuir para a realidade local.
Moradora de Três Lagoas, Emília sempre buscou conhecimento, tornando-se cabeleireira, terapeuta capilar e especialista em alisamento ético. A trajetória no mundo da beleza começou em 2000, quando ela, então adolescente, começou a escovar o cabelo das primas e das vizinhas, mas sem compromisso. No ano seguinte, o interesse pela área cresceu, e ela decidiu fazer o primeiro curso de corte, escova e penteado. Em 2002, ampliou os conhecimentos ao frequentar uma escola de cabeleireiro.
Por quase uma década, Emília trabalhou de forma informal, até que em 2010, com o apoio de uma amiga contadora, ela formalizou o próprio negócio ao se tornar MEI. “Queria sair da informalidade e contribuir com a previdência. O processo foi simples e sem dificuldades”, explica.
Inicialmente, Emília atendia as clientes nas próprias casas delas e apenas aos sábados, com uma média de 8 atendimentos por dia. Hoje, ela possui o próprio salão e atende uma média de 25 pessoas por semana, todas com horário marcado.
Como qualquer empreendedor, Emília enfrentou momentos de dúvida e pensou várias vezes em desistir. As dificuldades em encontrar mão de obra qualificada e em conciliar os horários de trabalho com as responsabilidades familiares foram alguns dos obstáculos. Contudo, a demanda crescente e a necessidade de adaptação a novos horários para manter o equilíbrio entre família e trabalho a incentivaram a seguir em frente.
“O maior aprendizado foi entender a necessidade de cada cliente e transmitir isso para elas. Muitas vezes, elas chegam com uma foto e querem um resultado específico, mas o cabelo delas não permite. Hoje, trabalho com embelezamento saudável”, conta Emília. Com uma visão voltada para a saúde e a estética integrativa, ela preza por utilizar produtos naturais, que cuidam do bem-estar, enquanto também contribuem para a preservação do meio ambiente.
Os serviços mais procurados no salão de Emília incluem alisamento ético, escova, coloração, cortes e terapia capilar. A abordagem centrada na saúde capilar e na satisfação do cliente fez com que ela se destacasse no mercado local. “O mercado é bom, e com dedicação, consegui adaptar meus horários para continuar atendendo bem os clientes”, afirma.
Com 24 anos de história, além de transformar a paixão em uma carreira de sucesso, Emília também contribui para a economia de Três Lagoas. Estudos apontam que o mercado de beleza atingirá cerca de US$ 580 bilhões até 2027, crescendo 6% ao ano no faturamento global.
Os pequenos negócios, como o de Emília, são fundamentais para o desenvolvimento local, pois atendem às necessidades específicas da comunidade. Foi por este motivo que ela estudou o mercado no município de Três Lagoas e entendeu quais eram os serviços que faltavam. A história de Emília Witter Donadoni é um exemplo de como a dedicação, o esforço e os contínuos aprendizados podem levar ao sucesso empresarial, além de um impacto positivo e sustentável na comunidade local.
Mulheres em posição de liderança
No cenário atual, as mulheres constituem mais de 52% dos empreendedores no Brasil. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio-MS (IPF-MS), em parceria com o Sebrae/MS, foi delineado o perfil das empresárias de Mato Grosso do Sul. Cerca de mais de 70% são Microempreendedoras Individuais. Dessas, 80% possuem filhos, como é o caso de Emília.
A pesquisa também destaca que uma das razões pelas quais as mulheres de Mato Grosso do Sul optam por empreender é a necessidade de equilibrar o trabalho com a vida familiar. Isso se aplica a Emília, que precisou ajustar as horas de trabalho para acomodar as demandas da família e filhos.
A trajetória de Emília Witter Donadoni exemplifica a realidade de muitas mulheres empreendedoras. Segundo o relatório sobre Empreendedorismo Feminino, realizado pelo Sebrae, as mulheres dedicam menos horas semanais ao negócio devido à carga múltipla de responsabilidades como trabalho, cuidados com a casa e a família.
Os índices mostram que 40% das mulheres trabalham menos de 40 horas semanais, enquanto 36% dos homens conseguem se dedicar mais de 40 horas por semana ao trabalho. Estudos revelam que, em média, as mulheres dedicam 21,4 horas semanais aos afazeres domésticos, comparado com 11 horas semanais dedicadas pelos homens.
É fundamental promover uma sociedade mais inclusiva, onde todos os gêneros tenham oportunidades iguais. Todos podem ser aliados na luta pela igualdade. Neste contexto, a conscientização, ações inclusivas e legislações que promovam a igualdade de gênero e a inclusão social tornam-se ferramentas cruciais.