O Chairman do Lide Global e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(2003 – 2007) Luiz Fernando Furlan esteve em Campo Grande nesta semana e destacou o bom desempenho econômico do Brasil. Ele veio ao estado participar do lançamento do Comitê de Gestão do Lide-MS. Em entrevista exclusiva ao jornalismo do Grupo RCN, Furlan apontou que novos mercados no Oriente podem se abrir para Mato Grosso do Sul.
Como é a atuação do Lide?
Luiz Furlan – O Lide – Grupo de líderes Empresariais – foi criado há 21 anos pelo ex-governador de São Paulo João Dória e serve como uma plataforma para conexão de empresários e atração de investimentos. Os encontros começaram com cerca de 15 empresários e hoje nós temos líderes em mais de 15 países, e estamos abrindo novas frentes. Neste ano abrimos a Arábia Saudita, e estamos abrindo Índia e alguns outros países. Tem empresas em Mato Grosso do Sul que estão interessadas no Oriente Médio. E são grandes mercados. Mercados que têm dinheiro mas não têm comida. O Brasil tem que se apresentar, tem que ir à luta, conquistar mercados, mostrar o que tem. No dia 2 de agosto nós teremos um encontro com o embaixador da Índia, já colocando o estado de MS nessa rota de investimento.
Qual é a sua percepção em relação ao cenário econômico em Mato Grosso do Sul?
Luiz Furlan Minha última visita ao estado foi em 2018, e meu avô dizia: ‘quando você volta a uma cidade depois de um certo tempo, observe os telhados. Se tiver telhado novo, tem progresso. Se não tiver telhado novo, cai fora’. E eu vi muito telhado novo em Campo Grande. Eu sou investidor, portanto acompanho o mercado e cotações de grãos, bolsa, os mercados internacionais. E vejo o Mato Grosso do Sul como um estado em ascensão. Estive com o governador Eduardo Riedel (PSDB) em dois eventos no exterior, e fiquei otimista. O Centro-Oeste é uma grata surpresa. Nós que viemos aqui, pela primeira vez, em 1971, era como se fosse a África. Era só pasto. E pasto natural, na maioria das áreas. E, quando tinha seca, o gado emagrecia. Mas agora Mato Grosso do Sul virou um grande produtor de grãos e de matéria-prima para a indústria. Tem as carnes e a celulose também. É um prazer ver empresas que crescem, que florescem, que investem, que dão emprego. Porque no final das contas, ser empresário não é só ganhar dinheiro, é você espalhar o progresso, levar bem-estar para as populações e também para os colaboradores.
E como o senhor avalia a situação econômica do país atualmente?
Luiz Furlan Na abertura do Encontro do Lide em Nova Iorque, em maio, eu comecei falando que o Brasil vai bem, e as pessoas ficaram confusas. Mas a economia cresce, o desemprego caiu bastante, as exportações vão bem, as reformas caminham, e vários outros indicadores são positivos. Eu tenho um amigo que é medalhista olímpico, que é o Lars Grael, e ele diz que ‘quando o vento muda e se aproxima a tempestade, o pessimista xinga e o oportunista ajusta as velas e têm o pensamento que daqui a pouco vai melhorar’. É preciso aproveitar os ventos, enxergar as oportunidades. Quando você olha hoje os produtos agrícolas de Mato Grosso do Sul, milho e soja, os preços estão baixos. E, quando olha para o gráfico de 20 anos, vê que o que estava fora da curva era o preço de apenas um ano e meio, dois anos atrás. Então, o Brasil vai bem. Agora, tem pessoas lá em Brasília que falam demais. E quem fala demais acaba escorregando e falando alguma bobagem. O que Brasília tem que falar do dólar, do preço do combustível? Fiquem quietos! […] porque o dólar dispara e as ações caem. Mas caem porque a produção diminuiu? Ou porque as vendas caíram? Não, nada! Está tudo normal na empresa. Mas aí, não fala! Ah, critica o presidente do Banco Central. Então, não falem.
O senhor acredita que existe um erro na estratégia de comunicação do governo federal?
Luiz Furlan Sem dúvida. O Brasil tem uma imensa oportunidade de ser protagonista em algumas áreas. A primeira delas, que está a bola pingando na área, é a questão ambiental, da descarbonização. E nós temos excelentes trunfos para mostrar para o mundo e atrair recursos. O Brasil preside o G20 e, quase junto, será o presidente temporário dos BRICs. E no ano que vem nós teremos a COP30 em Belém do Pará. Isso significa que a atenção do mundo será voltada para o protagonismo do Brasil. E é preciso informar que a porcentagem da energia limpa que o Brasil produz frente ao consumo está se aproximando de 90%. A nossa energia elétrica não é produzida com carvão, com petróleo.Ou está sendo produzida por hidrelétrica, ou é solar, eólica, ou vem da biomassa. Qual é o país das dimensões do Brasil que tem isso? Você vê, Estados Unidos dependente do petróleo, a China dependente do carvão, a Europa dependente de comprar energia da Rússia, que também é de fonte não renovável. Outra informação importante de dizer é sobre a cobertura florestal do Brasil. Pouca gente sabe que quando comparamos com a época em que os portugueses chegaram por aqui, em 1500, temos hoje 60% da cobertura vegetal, original. Muito se fala que estão destruindo o Cerrado. Mas existe uma obrigatoriedade de reservas legais, que são mantidas por empresários, por empresas privadas e isso não é falado. E a fotografia divulgada para o mundo é de que está pegando fogo na Amazônia.
E quanto ao impacto das mudanças climáticas?
Luiz Furlan Não dá para negar que o clima está mudando. Eu estive no Amazonas em maio e, por lá, já havia a preocupação com o começo da baixa do nível dos rios porque deveria estar chovendo. A previsão é que a região terá uma grande seca. Os rios lá da Amazônia, entre o nível mínimo e máximo, eles variam 16 metros. Sabe quantos andares são 16 metros? É um prédio de seis andares. O que está acontecendo é que os eventos radicais são muito frequentes. Então, você tem seca até na Índia. Outro dia, na semana passada, eu estava debatendo com os europeus, lá na Itália, e eu falei que os 27 países da União Europeia têm uma superfície que é equivalente à metade da superfície brasileira. Cabem duas uniões europeias dentro do Brasil.
Vocês têm ideia disso? E eles têm apenas 1% de floresta lá.