A presença feminina na política ainda é um desafio em diversas regiões do Brasil, e Três Lagoas reflete esse cenário de desigualdade. Um estudo recente da organização Tewá 2025 revelou que o município tem o pior desempenho para mulheres em Mato Grosso do Sul e ocupa a 13ª pior posição no Brasil entre os 319 municípios com mais de 100 mil habitantes. O levantamento, baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, classificou a qualidade de vida das mulheres em Três Lagoas como “muito baixa”, sendo a baixa participação feminina na política um dos principais fatores para essa classificação.
Atualmente, as mulheres são minoria na Câmara Municipal de Três Lagoas e em outros cargos públicos de liderança. Enquanto na legislatura passada a Câmara contava com cinco vereadoras, hoje são apenas três. O retrocesso é ainda mais significativo quando se considera que, em 1997, o Legislativo municipal chegou a ter oito vereadoras, tornando-se uma das Câmaras mais femininas do Brasil na época.
A vereadora Evalda Reis (MDB) ressalta a importância da presença feminina na política e lamenta a queda no número de mulheres eleitas. “Já tivemos momentos em que essa Casa teve oito mulheres, e uma delas foi presidente. Hoje, somos apenas três, mas seguimos fazendo a diferença. Vejo com tristeza a falta de interesse da mulher em participar e se colocar à disposição da sociedade. A mulher faz a diferença, onde quer que esteja, pois tem um olhar diferenciado. Quero ver o dia em que teremos paridade entre homens e mulheres na política”, afirmou.
A especialista em Geografia Urbana e Questões de Género da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Patrícia Helena Milani, explica que a política ainda é um ambiente predominantemente masculino, refletindo um cenário nacional de desigualdade. “Embora as mulheres sejam a maioria entre os eleitores, sua presença no cenário político ainda é muito baixa. Mesmo com recursos destinados ao financiamento de candidaturas femininas, o Brasil, em níveis nacional, estadual e municipal, não tem alcançado os índices esperados”, analisa.
Pesquisas realizadas pela UFMS também apontam que a baixa participação feminina na política está diretamente relacionada à sobrecarga de trabalho das mulheres, o que limita sua disponibilidade para a vida pública. Segundo dados do IBGE, as mulheres trabalham, em média, de oito a dez horas a mais por semana do que os homens em atividades domésticas e de cuidado não remuneradas. “Esse trabalho invisível e desvalorizado é fundamental para entender a ausência feminina na política. Uma entrevistada relatou sua rotina exaustiva: acorda cedo, prepara o café, leva os filhos à escola, faz o almoço, leva ao reforço escolar, volta, cuida dos pais e, ainda assim, considera que ‘não trabalha’. Esse cenário mostra como a falta de tempo impacta a participação da mulher na esfera política”, explica Milani.
Para reverter essa realidade, especialistas afirmam que não basta apenas criar cotas ou destinar recursos para candidaturas femininas. É necessário questionar e desconstruir padrões que ainda colocam a mulher em um papel secundário na sociedade. “Há quatro anos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que pelo menos 30% dos recursos do Fundo Eleitoral deveriam ser destinados a candidaturas femininas. No entanto, essa medida isolada não tem sido suficiente. É preciso que as reformas políticas sejam pensadas por mulheres que compreendam a realidade de tantas outras, para que, de fato, haja mudança”, conclui a especialista.
A participação feminina na política é essencial para garantir representação e avanços em questões que afetam diretamente a vida das mulheres. O desafio, no entanto, segue sendo estrutural, exigindo mudanças profundas na sociedade e no sistema político brasileiro.