Veículos de Comunicação

Tosse prolongada

Pediatra explica principais causas e prevenção da coqueluche

A doença, conhecida como "tosse comprida", pode ser grave em bebês e tem registrado crescimento no país

Pediatra explica principais causas e prevenção da coqueluche - Reprodução / TVC HD
Pediatra explica principais causas e prevenção da coqueluche - Reprodução / TVC HD

A coqueluche, doença respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis, voltou a preocupar médicos e autoridades de saúde no Brasil. O pediatra José Augusto Guerra, explicou nesta quarta-feira (5), durante o programa RCN Notícias, que houve um aumento significativo de casos no último ano, com cerca de 10 mil notificações em 2024.

A doença se manifesta principalmente por acessos de tosse intensa e persistente, podendo levar a complicações graves, especialmente em bebês. “A criança entra em uma crise de tosse persistente que pode causar baixa oxigenação no cérebro, levando até à cianose”, explicou o médico. Ele destaca que a coqueluche não deve ser confundida com um resfriado comum, pois não há sintomas como coriza ou congestão nasal.

Um dos desafios no diagnóstico da coqueluche é que muitos médicos mais jovens não estão familiarizados com a doença, já que o último grande surto no Brasil ocorreu em 2014. A falta de reconhecimento dos sintomas pode levar a diagnósticos equivocados e ao atraso no tratamento. “Muitos clínicos gerais podem confundir com outras infecções respiratórias, já que a coqueluche é uma doença menos frequente nos últimos anos”, afirma Guerra.

A vacinação continua sendo a principal forma de prevenção. O calendário vacinal infantil prevê doses aos 2, 4 e 6 meses, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos, além da vacina a cada 10 anos na adolescência e na fase adulta. No entanto, a imunidade conferida não é permanente, tornando os reforços essenciais para o controle da doença. “Infelizmente, muitos adolescentes evitam tomar vacinas, o que contribui para o aumento dos casos”, lamenta o pediatra.

Um caso recente atendido por Guerra ilustra a transmissão familiar da doença. “Uma criança de um ano, vacinada, desenvolveu coqueluche, e ao investigar a família, descobrimos que a avó, a tia e uma prima também apresentavam sintomas semelhantes”, contou. Esse padrão de transmissão reforça a necessidade de vacinar não apenas as crianças, mas todos os que convivem com elas.

A gravidade da coqueluche fica evidente nos números: em 2024, 79 crianças morreram no Brasil em decorrência da doença, sendo 80% delas menores de um ano. “O problema é que bebês abaixo de seis meses, que ainda não receberam todas as doses da vacina, correm alto risco de insuficiência respiratória e complicações como pneumonia”, alerta o médico.

Diante do aumento dos casos, especialistas defendem ações mais rigorosas para incentivar a vacinação, como campanhas educativas e busca ativa de crianças com vacinas em atraso. O Ministério da Saúde recomenda a imunização de gestantes a partir da 20ª semana de gravidez para proteger os recém-nascidos, mas a adesão ainda é baixa. Além disso, profissionais que trabalham em creches e escolas também devem ser vacinados para reduzir a transmissão.

O tratamento da coqueluche é feito com antibióticos, que ajudam a controlar a bactéria e reduzir a disseminação da doença. “O quadro de tosse pode durar semanas, mas a bactéria é combatida com cinco dias de tratamento adequado”, explica o pediatra. Ele também alerta para o perigo da automedicação. “Muitos pais recorrem a xaropes sem prescrição, mas apenas o diagnóstico médico correto e o tratamento com antibióticos são eficazes”.

Além das dificuldades no diagnóstico e na adesão à vacinação, há um problema estrutural no acesso à saúde. “Faltam pediatras, especialmente em cidades menores, e quando há necessidade de um neuropediatra, por exemplo, a espera pode ser ainda maior”, ressalta Guerra.

O médico também destaca outra preocupação com a saúde infantil: a alta incidência de deficiências nutricionais, como anemia e falta de vitaminas essenciais. “Temos um número impressionante de crianças com deficiência de ferro, vitamina D e B12, e isso pode impactar seu desenvolvimento neuromotor”, afirma.

Diante desse cenário, especialistas reforçam a importância de manter a vacinação em dia e procurar atendimento médico diante de sintomas persistentes, especialmente tosse intensa e prolongada.