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Editorial

Por que não esterilizar as capivaras?

Leia o Editorial do Jornal do Povo da edição deste sábado (30)

Por que não esterilizar as capivaras?

As capivaras que habitam a Lagoa Maior não são nativas do local. Alguém, em algum momento, as introduziu no entorno, imaginando estar promovendo uma grande ação. No entanto, não considerou os inconvenientes, entre eles a possibilidade de um surto de febre maculosa, já que esses animais são hospedeiros do carrapato-estrela, agente transmissor da doença. Em Campinas (SP), em 2023, durante eventos musicais realizados em uma fazenda, várias pessoas contraíram febre maculosa, e algumas delas vieram a óbito.

Em Três Lagoas, pelo que se observa, as autoridades sanitárias parecem não acreditar nessa hipótese. Assim, as capivaras continuam a povoar a orla do principal cartão-postal da cidade. Centenas vivem na Lagoa Maior, sem qualquer contenção. Esses animais deixam seu habitat em busca de alimentos nas proximidades, consumindo gramíneas para amenizar a fome causada pela estiagem prolongada deste ano. Em resposta, a prefeitura chegou a instalar coxos para garantir o sustento dessas capivaras.

Com elevada capacidade de procriação ao longo de todo o ano, especialmente no início da estação chuvosa, cada fêmea pode gerar de um a oito filhotes, agravando ainda mais a superpopulação. As poucas remoções realizadas até agora, transferindo capivaras para o Parque do Pombo, têm ocorrido de forma tímida, envolvendo grupos de 25 a 30 animais por vez. O custo dessas operações, que impacta o erário público, não é divulgado.

O ideal seria a remoção completa das capivaras da Lagoa Maior, tanto pelo risco da febre maculosa quanto pela possibilidade de ataques a crianças e adultos que, inadvertidamente, possam provocá-las. Recentemente, a prefeitura de Campinas desenvolveu um plano de manejo das capivaras que habitam pontos turísticos daquela cidade, como o Parque Taquaral, também muito frequentado por visitantes. Esse plano consiste na captura dos animais em locais de alimentação controlada, em horários previamente determinados.

Após a captura, os animais são submetidos a esterilizações para conter sua proliferação. Os machos passam por vasectomias, enquanto as fêmeas são submetidas à salpingectomia, que consiste na remoção das tubas uterinas.

O exemplo de Campinas poderia ser adotado pelas autoridades de controle de sanidade animal de Três Lagoas. A identificação dos animais esterilizados, por meio de tatuagens na pelagem, como ocorre no Parque Taquaral, também seria uma solução eficaz para monitorar a população. Com essa medida, seria possível controlar o número de capivaras que passaram a ocupar a Lagoa Maior, cujo habitat original não inclui aquele espaço — elas foram introduzidas ali pela intervenção humana.

Por fim, se há resistência à remoção desses herbívoros, que ao menos se implemente um controle de fertilidade eficiente. É igualmente essencial cuidar da sanidade do meio ambiente da Lagoa Maior, garantindo a segurança da população contra possíveis contágios da febre maculosa. Preservar o equilíbrio entre a fauna e o ambiente urbano é fundamental para proteger o principal cartão-postal de Três Lagoas e, sobretudo, a saúde de seus cidadãos.