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Prisões por drogas e apreensões aumentam em Três Lagoas

O tráfico está ligado ao número de prisões em flagrante e ao crescimento de usuários

O tráfico está ligado ao número de prisões em flagrante e ao crescimento de usuários. - Foto: Arquivo/JPNews
O tráfico está ligado ao número de prisões em flagrante e ao crescimento de usuários. - Foto: Arquivo/JPNews

O tráfico de drogas tem causado muitas consequências não apenas para os usuários, mas também para a sociedade. O aumento no número de dependentes, em Três Lagoas, tem levado a um crescimento no tráfico, refletindo nos problemas sociais e de segurança do município.

O operador de empilhadeira, Marcos Alexandre Santos Lima, de 23 anos, está há cinco meses sem usar crack. “Com 17 anos, eu entrei na droga do narguilé, que querendo ou não é uma droga pois também vicia. Com 18 anos, eu comecei a fumar maconha. Quando eu estava prestes a completar 19 anos, comecei a usar cocaína. Entre 20 e 21 anos, eu já estava usando crack”.

O consumo abusivo dessas substâncias pode provocar danos irreversíveis ao organismo. Independente do consumo, elas prejudicam a saúde e também a estrutura emocional. “Dependendo da quantidade que você usa, todas as drogas te dão sensação de medo, vontade de sair correndo. Você pode até ver pessoas, delirar, ver vultos e escutar vozes”, Marcos relembra.

Além disso, o uso de drogas pode afetar profundamente a estrutura familiar e social dos usuários. “Eu perdi meu carro, perdi moto, perdi uma namorada que eu estava junto na época, perdi o vínculo com a minha família. A droga faz a pessoa perder tudo. A vida vai decaindo”.

Em 2023, o 2º Batalhão de Polícia Militar apreendeu mais de 239 quilos de maconha. Em 2024, de 1º de janeiro até 8 de setembro, a apreensão de maconha em Três Lagoas já ultrapassa uma tonelada. A cidade é um ponto estratégico para o tráfico, devido a localização como rota de passagem para o estado de São Paulo.

De acordo com o tenente do 2º Batalhão de Polícia Militar,  Renato Ribeiro, o aumento no tráfico também é evidenciado pelo número de ocorrências. "Comparado ao mesmo período do ano passado, tivemos um aumento de mais de 300% nas apreensões. No ano passado, foram apreendidos 300 kg de drogas, incluindo pasta base, crack, cocaína e maconha. O que observamos foi um aumento significativo, principalmente porque realizamos apreensões de pessoas que estavam de passagem por Três Lagoas, que acaba sendo um corredor para o tráfico. Esse cenário resultou em um grande crescimento no número de apreensões em relação ao ano anterior”.

Em 2023, foram registradas 76 ocorrências relacionadas ao tráfico, enquanto em 2024 já totalizam 42. Os traficantes frequentemente utilizam a estratégia de fracionar a droga para alegar que é para consumo pessoal, o que complica a abordagem das autoridades. "A característica do tráfico que enfrentamos aqui, tanto em Três Lagoas quanto em Brasilândia e outras cidades da região, envolve pequenas quantidades de drogas. O traficante percebeu que, fracionando a droga, fica mais difícil para nós apreendermos grandes quantidades e darmos um golpe maior no tráfico. Esse fracionamento e a distribuição em diversos pontos aumentam a dificuldade para realizarmos prisões por tráfico. Muitas vezes, a pessoa está com pequenas quantidades, o que acaba caindo na questão de porte para consumo pessoal. Outra estratégia comum é o uso de menores de idade, adolescentes em situação de vulnerabilidade. O tráfico atrai esses jovens, pois sabem que as medidas socioeducativas raramente resultam em internação. Assim, o adolescente é liberado e volta a delinquir, atuando como 'aviãozinho' do tráfico", o Tenente explica.

O tráfico de drogas também está ligado ao número de prisões em flagrante. Em 2023, 43 pessoas foram presas por envolvimento com drogas, e em 2024, até agora, 40 pessoas foram detidas.

Diariamente, pelo menos duas pessoas são presas em Três Lagoas por envolvimento com drogas ou tráfico, com muitas delas alegando uso pessoal devido às novas legislações. "Cerca de 90% das drogas apreendidas é maconha. Hoje, enfrentamos o desafio de que, com pequenas quantidades, como vimos em decisões recentes do Supremo Tribunal Federal, o porte não é mais considerado um ilícito penal. Nós conduzimos o indivíduo à delegacia, e a persecução é administrativa, configurando o crime previsto no artigo 28 da Lei 11.346. Isso vale para a maconha, mas para as demais drogas, como cocaína e pasta base, o porte de pequenas quantidades, seja 10, 15, 20 ou 30 gramas, continua sendo tratado como crime pelo artigo 28".

O ex-usuário Marcos Alexandre, que continua a luta diária para permanecer afastado das drogas, deixa um conselho para aqueles que enfrentam a mesma batalha. "Pense naquela pessoa que te ama, que sofre por você. Quando alguém está no uso de drogas, muitas vezes, não se importa mais consigo mesmo, mas é preciso pensar na família, que é quem mais sofre. Eu, por exemplo, deixei minha mãe sofrendo várias vezes. Ela chegava a deixar de comer, de dormir, preocupada comigo. O que eu digo para quem está nessa situação é: pense em quem te ama e procure ajuda. Às vezes, a gente não tem força nem para pedir, porque só pensa na droga, mas peça ajuda, mesmo sem forças. Com o tempo, Deus abençoa. Ore bastante e busque uma igreja, porque a espiritualidade faz toda a diferença".

Confira abaixo a reportagem: