Moradores do Cinturão Verde de Três Lagoas foram surpreendidos, na última sexta-feira (22), por uma notificação da prefeitura que impediu a realização de uma feira de produtos locais. A decisão gerou indignação entre os moradores, que apontam contradições nas ações da assessoria jurídica.
De acordo com Airan Afonso, presidente da Associação de Produtores do Cinturão Verde (Aspa 3), a notificação foi baseada na alegação de que o evento ocorreria em espaço público irregular. Contudo, a feira seria realizada no lote 191, ocupada legalmente pela associação com base em um alvará de funcionamento emitido pela própria prefeitura. O professor Evandro Carlos Garcia, da UFMS, que acompanha o processo de regularização fundiária dos produtores, destacou a falta de diálogo. “A notificação chegou poucas horas antes da feira, sem tempo hábil para buscar esclarecimentos ou soluções“, comentou.
A feira, amplamente divulgada, pretendia gerar renda aos agricultores e aproximar a comunidade da produção local. No entanto, a notificação ameaçava com medidas policiais caso o evento fosse realizado, forçando o cancelamento. Além disso, o professor destaca o histórico de omissões da prefeitura em relação à implementação da Lei de 2020, que regulariza a área do Cinturão Verde. “Passaram-se quatro anos, e a lei não foi cumprida. O jurídico municipal dificulta a aplicação de algo que é um direito dos produtores”, ressaltou Garcia.
Outro ponto de tensão é o plano da prefeitura de transformar o Cinturão Verde em um distrito industrial, transferindo os agricultores para uma área a 60 km da cidade. Tal proposta vai contra a função socioambiental da região, definida como Área de Proteção Ambiental (APA). “A ausência de um conselho gestor com representantes locais torna os atos administrativos questionáveis e até nulos”, explicou Garcia.
A Associação de Moradores do Cinturão Verde continua buscando um diálogo com as autoridades para garantir seus direitos e o reconhecimento de sua importância na produção local e na preservação do meio ambiente.