As atividades na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) foram retomadas após os sindicatos que representam os trabalhadores da Educação Superior anunciarem o fim da greve na última sexta-feira (28).
A paralisação havia sido iniciada pelos técnicos administrativos da UFMS em 20 de março, seguida pelos professores e técnicos do IFMS em 3 de abril, e pelos docentes da UFMS em 1º de maio, tornando-se a mais longa dos últimos anos.
A decisão de encerrar a greve foi formalizada em conjunto após um acordo entre os sindicatos e os Ministérios da Educação (MEC) e de Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). Cerca de 235 servidores de Três Lagoas haviam aderido à mobilização.
As principais reivindicações dos grevistas incluíam a recomposição salarial devido à perda causada pela inflação, com um aumento previsto para 2024. O acordo alcançado prevê um reajuste de 14% para técnicos e de 12,5% para professores até 2026, começando apenas no próximo ano, contrariando a demanda dos sindicatos que pediam o reajuste imediato.
Ambas as carreiras dos servidores passarão por valorização, com benefícios reajustados em 28% para professores, podendo chegar a 43% no início de carreira, e de 31% para técnicos. Para o coordenador do sindicato dos técnicos administrativos da UFMS em Três Lagoas, Lucas Bocato, este foi o ponto mais crítico da proposta. “Isso é muito ruim porque não atinge os 45% almejados. Apesar de terem oferecido 9% no ano passado, a soma dos três reajustes não chega ao patamar esperado. No entanto, tivemos outros avanços em relação ao auxílio-alimentação, auxílio-saúde e auxílio-creche, que beneficiam uma grande maioria dos servidores. No entanto, esses benefícios não contemplam os aposentados. Isso significa que, embora a carreira tenha sido parcialmente contemplada, os aposentados e pensionistas ficaram de fora, apesar de sempre reivindicarmos melhorias para todos”.
Os técnicos passarão por uma reestruturação de carreira, com a carga horária reduzida para 6h diárias, e menos tempo para progressão, podendo chegar ao topo em 15 anos. Além disso, o MEC está analisando a possibilidade da categoria se candidatar a cargos de reitoria nas universidades.
Para os professores, a revogação de diversas portarias consideradas injustas, como a regulamentação da carga horária por batida de pontos, foi uma conquista significativa. O governo também prometeu recursos para as universidades, garantindo a manutenção dos campi até o final do ano.
A diretora do sindicato dos professores da UFMS, Kaelly Saraiva, avaliou a mobilização como assertiva. “Greve é sempre uma situação difícil e dá medo de participar, de se unir ao grupo coletivamente. Você sente que está desafiando a lei e a norma geral, o que gera uma sensação de insegurança. Porém, com a força do sindicato e da coletividade, e com a consciência de que está lutando por direitos legítimos, a gente se sente mais seguro. É gratificante saber que estamos fazendo o melhor, inclusive para as futuras gerações. Governos progressistas e democráticos se fortalecem com a crítica, a demanda e as reivindicações do povo. Eles melhoram e crescem a partir disso”.
As atividades no campus da UFMS já estão normalizadas, com algumas aulas retomadas na semana passada. A recomposição do calendário será definida nesta semana, mas a previsão é que o ano letivo se encerre ainda em 2024, com apenas um mês de atraso.
Já as atividades do campus do IFMS retornaram na segunda-feira (1°), com o calendário acadêmico também a ser definido nesta semana. Sabe-se que as aulas ocorrerão aos sábados, e o ano letivo se encerrará em fevereiro de 2025.
O representante do sindicato dos servidores do IFMS, Guilherme Tomaselli, destacou que, apesar das demandas atendidas, a revogação do novo ensino médio, crucial para a categoria, não foi incluída no acordo.
“Foi um verdadeiro cabo de guerra, não foi fácil. A greve só causou um impacto porque foi a maior da história do sistema federal, com mais de 500 unidades de institutos e universidades paralisadas. Se não fosse assim, teríamos saído de mãos vazias. O governo se mostrou truculento e intransigente, o que foi surpreendente, especialmente para um governo de base trabalhista e sindicalista, ter tanta dificuldade em negociar com os setores da educação”, avaliou Tomaselli.
Guilherme avaliou que o governo não ouviu os servidores com respeito. “Bateu-se muito na tecla de que o governo valoriza a educação, mas, na prática, nos sentimos desvalorizados. As negociações foram difíceis, com o governo muitas vezes virando as costas e abandonando as mesas. Houve longas esperas entre uma mesa de negociação e outra, às vezes de 15 a 21 dias, o que nos colocou em uma posição difícil perante a sociedade civil, que esperava nosso retorno. O governo, definitivamente, não foi amigável durante este processo”.
No mês passado, o governo Lula anunciou um investimento de mais de R$ 5 bilhões em obras e reformas em universidades e institutos federais como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Confira na reportagem abaixo: