Da terra ao oceano, as mudanças climáticas continuam avançando no Brasil e no Mundo. Dados do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a temperatura global ficou 1,15ºC acima da média entre os anos de 1850 e1900. E, neste século, de 2015 a 2022, bateram recorde.
O relatório da ONU aponta as consequências, nos últimos anos, dos eventos climáticos extremos como: ondas de calor e de frio, chuvas e secas intensas, formação de ciclones e tempestades severas, que trazem potencial risco à vida no planeta.
Em Mato Grosso do Sul, a população já tem enfrentado esses fenômenos, inclusive em Três Lagoas. Uma pesquisa aponta para emergência climática na região, confirmando as previsões da ONU, sobre períodos com menor quantidade de chuva. Os últimos anos foram considerados os mais secos, desde a década de 70.
A pesquisa foi realizada entre de 2019 a 2023, e coordenada por professores da Unesp de Presidente Prudente (SP) e da Universidade Rennes da França, com participação de professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Três Lagoas, e está em processo de publicação. A pesquisa será apresentada na Câmara de Vereadores de Três Lagoas.
Os professores de geografia da UFMS, Mauro Henrique Soares e Gislene Porangaba, analisaram o microclima urbano de Três Lagoas, a partir de dados de "precipitação de chuvas" de 1974 a 2023. Os registros comprovam que Três Lagoas está passando por um processo de diminuição de chuvas.
“Nossos dados estão comprovando que isso já está acontecendo em Três Lagoas, o que é muito impactante, não só para a população urbana, mas para a população rural também, que precisa da chuva para as suas dinâmicas rurais, no processo de produção como de hortifruti. Além disso, a chuva diminuindo não quer dizer não teremos problemas com chuva, pois o que está acontece é a diminuição de chuva ao longo do ano, mas está aumentando os episódios de evento extremos, que são chuvas muito concentradas e intensas em um período específico”, explicou o professor Mauro Henrique.
A pesquisa aponta que o processo de uso e ocupação da região tem ligação direta com esses problemas climáticos. Ou seja, as mudanças na superfície, como a retirada da vegetação nativa e a pavimentação de ruas e construção de casas, que impedem a permeabilidade do solo e contribuem para o aumento da temperatura.
Os pesquisadores usaram termômetros e aparelhos instalados nas áreas urbana e rural, em florestas e locais com maior vegetação para identificar as chamadas "ilhas de calor", que são pontos com temperaturas bem mais elevadas. Isso possibilitou o monitoramento dos lugares, dias e horários mais quentes, secos e frios, em Três Lagoas.
O pesquisador Erich Schaitza, que trabalha na Embrapa há 35 anos, avaliou os benefícios das florestas de eucalipto na região, como termorreguladoras. E quando se fala em agronegócio, a partir da exploração do eucalipto, a integração lavoura, pecuária e floresta, seria o caminho mais assertivo.
“De todos os usos econômicos que temos do solo, o reflorestamento ou plantio florestal é que mais se aproxima da floresta. Quando a gente olha para evapotranspiração do eucalipto, ele realmente evapora mais água que culturas agrícolas, mas ele é muito semelhante a floresta”, explicou o pesquisador Erich Schaitza.
O diretor da Reflore, associação sul-mato-grossense de produtores e consumidores de florestas plantadas, Dito Mario Lázaro, aponta a criação de corredores ecológicos a partir da formação de novas florestas, garantindo a preservação de inúmeras espécies da fauna silvestre.
“Os plantios florestais com eucalipto vieram para a região da Costa Leste como uma alternativa para a diversificação, que antes era só pastagem. E ele veio também para corrigir as áreas degradadas, que o estado tinha área muito grande, além de torno o solo mais produtivo. E aonde deve existir o equilíbrio ambiental são nessas áreas de reservas, onde deve ter a biodiversidade”, explicou o diretor da Reflore, Dito Mario Lázaro.
Desde a semana passada, a silvicultura já não é mais considerada como uma atividade potencialmente poluidora e utilizadora de recursos ambientais. A partir de agora, o setor não precisará mais de licenciamento ambiental para o plantio de florestas para extração de celulose.
O secretário de meio ambiente de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, comentou sobre os impactados dessa medida. “Essa foi uma decisão que tomos há alguns anos. Eu acho que isso é importante, pois hoje, aqui no Estado, por exemplo, de cada um hectare que temos de eucalipto, temos 6 de preservação. Então, houve um aumento da área de preservação no estado a partir do plantio do eucalipto”, explicou.
Em Três Lagoas, os pesquisadores apontam áreas estratégicas que devem ser protegidas, pois ajudam a controlar os impactos climáticos, como a APA do Jupiá e o Cinturão Verde, onde há espécies vegetais e animais tanto da Mata Atlântica quanto do Cerrado, influenciando áreas próximas. Além também da reserva florestal do quartel do exército, que fica na região Central da cidade.
Veja na reportagem abaixo: