As mudanças climáticas têm sido tema nacional, principalmente devido aos recentes acontecimentos no Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado situações de eventos climáticos extremos, sejam causados por chuvas ou pelo calor. Esses fenômenos estão se tornando cada vez mais comuns, e prevê-se que isso continue no futuro, juntamente com outros fatores inesperados.
Uma análise do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) revela que nos últimos 30 anos, o estado de Mato Grosso do Sul registrou um aumento de temperatura entre 0,9°C a 1,2°C.
O meteorologista do órgão, Franco Villela, destaca que as consequências dessa mudança já estão sendo observadas. "Estamos tendo uma seca grande em Mato Grosso do Sul, apesar de ter chovido em alguns lugares no mês de abril, já estávamos com chuva abaixo da média há 10 meses. Os incêndios históricos no estado, que ocorreram em lugares que costumava chover, também está relacionado a mudança climática. Em Três Lagoas, desde o dia 14 de abril, a temperatura não ficou abaixo de 30°C. Este foi o único dia do mês de abril que registrou temperatura mais baixa".
Apenas em 2024, o estado vivenciou quatro ondas de calor com temperaturas recordes, sendo que Três Lagoas foi a cidade mais quente do país por dois dias consecutivos, com as temperaturas chegando aos 40°C. Em fevereiro, o município também enfrentou uma das chuvas mais intensas dos últimos tempos, com 126 milímetros em 7h.
Esses eventos extremos e atípicos podem se tornar mais frequentes, conforme as previsões do Inmet. O ano de 2024 já é considerado o mais quente dos últimos quatro anos em Três Lagoas, com um aumento médio de temperatura de um 1°C de janeiro a abril, em comparação com o mesmo período desde 2021.
Nos primeiros quatro meses deste ano, a temperatura média ficou acima de 28°C, enquanto nos últimos quatro anos, nesse mesmo período, ficou abaixo de 27,7°C.
O Laboratório de Biogeografia e Climatologia Geográfica, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) de Três Lagoas, tem monitorado as mudanças climáticas da região. O professor de geografia Mauro Henrique da Silva, responsável pelos estudos, aponta uma relação entre os efeitos climáticos e a piora nos índices da saúde humana, prevendo um aumento no número de epidemias nos próximos anos. "Podemos ter o aumento das doenças tropicais ligado ao aumento da temperatura. Um exemplo é a dengue, pois, segundo estudos, os ovos do mosquito precisam de determinada temperatura para poderem eclodirem e terem sucesso na eclosão. Além disso, quando se tem um aumento de temperatura, a umidade relativa do ar diminui. Esses dois fatores podem agravar os problemas de saúde humana ligados a doenças cardiorrespiratórias e cardiovasculares, especialmente entre a população mais vulnerável", explica.
Com isso, o sistema público de saúde pode ficar cada vez mais sobrecarregado, causando um aumento de mortes, que poderiam ser evitadas, caso estivesse operando normalmente. Mas, o que tudo indica é que o setor ainda não está preparado para estas consequências.
O estudo também aponta que a vegetação e as espécies nativas da região estão sob risco. As emissões de gases poluentes na atmosfera são apontadas como a principal causa das mudanças climáticas. O Brasil é sexto país que mais emite poluição na atmosfera
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), não tem mais como reduzir à zero o nível de emissões, o que impediria o aquecimento de um grau e meio em todo o planeta. Agora, é necessário que os efeitos sejam mitigados e que as cidades sejam adaptadas aos eventos que podem se tornar inevitáveis.
Veja a reportagem abaixo: