Veículos de Comunicação

Entrevista Exclusiva

‘Não tive intenção de matar. Só defendi meu filho’, diz Joice em cela de presídio

Cabeleireira Joice Espíndola da Silva é acusada de matar a facada Camilo de Freitas, em maio de 2018

Joice Espíndola está presa há dez meses e vai enfrentar júri popular; não há previsão para julgamento - Reprodução/TVC
Joice Espíndola está presa há dez meses e vai enfrentar júri popular; não há previsão para julgamento - Reprodução/TVC

Dez meses depois da morte do vendedor de tijolos Camilo de Freitas da Silva, que morreu atingido por uma facada no peito, a acusada pelo crime falou do caso pela primeira vez. A cabeleireira Joice Espíndola da Silva, de 35 anos, está presa  desde maio do ano passado na cadeia feminina de Três Lagoas, aguardando o fim do processo e o julgamento, que não tem data prevista. Em entrevista exclusiva e autorizada pela Justiça, nesta semana, ela afirma que não tinha intenção de matar Camilo, na época com 28 anos. 

“Eu jamais pensei em tirar a vida de qualquer pessoa. Foi uma fatalidade, um acidente. Só agi em legítima defesa do meu filho”, disse. 

A cabeleireira que tinha entre suas clientes pessoas da alta sociedade três-lagoense, dona de um salão montado no bairro Vila Nova, zona Norte da cidade, hoje divide cela com outras cinco mulheres, entre elas, a vereadora licenciada Marisa Rocha, também secretária municipal de Esporte, presa há três semanas por suspeita de tráfico de drogas.

Camilo foi esfaqueado durante uma discussão com Joice, no bairro Bom Jesus da Lapa, em 20 de maio de 2018, quando, supostamente, estaria agredindo a mulher Larissa Fontoura, de 20 anos. Joice e três filhos, de 18, 16 e 11 anos, passavam pelo local. 

A cabeleireira disse que interveio no desentendimento do casal porque uma criança, que seria filha de Camilo e Larissa, dizia que pai batia na mulher. “Como a criança respondeu isso, eu já estava ligando para a polícia. Nisso, o Camilo começou a me xingar. Meu carro ‘afogou’ e ele veio em minha direção, totalmente alterado. O meu filho, que tinha 16 anos, desceu do carro e eu comecei a ficar desesperada. Estávamos voltando da festa de aniversário da minha filha e tinha um kit churrasco dentro do carro. Os dois começaram a discutir e eu peguei o kit, que tinha uma faca, e fui até eles. O Camilo me viu com o objeto na mão e eu mostrei que estava com a faca”. 

 “Ele avançou e eu me posicionei no meio [dos dois] e creio que foi o momento da facada. A camiseta ficou vermelha, o Camilo viu que tinha um corte e tentou estancar o sangue. Eu imaginei que a ferida ia dar um ponto [cirúrgico] apenas”, contou. 

Chorando durante a entrevista de quase meia hora e acompanhada por três advogados, Joice disse que não conhecia Camilo e Larissa. “Eu sei que é difícil para a família dele. Mas, estou dando a minha versão do que ocorreu porque somente nós estávamos lá. Também é difícil também para minha família”. 

A cabeleireira diz que não fugiu após o crime, mas que foi tirada pelo marido do local por medo de ser agredida. Disse que ficou na casa de amigos por quase três dias, antes de se entregar à polícia e que ficou desesperada ao saber da morte e ser “taxada como um monstro”, disse.

O juiz da 1ª Vara Criminal de Três Lagoas, Rodrigo Pedrini, determinou que ela enfrente júri popular, após três tentativas da defesa de obter liberdade. 

A entrevista será exibida no jornal “RCN Notícias”, às 6h30, e no telejornal “TVC Agora”, às 11h30, na TVC – Canal 13.1 e da rádio Cultura FM 106,5 MHz, na segunda-feira (25).

Tempo é para a cozinha e separação de alimentos

Para ocupar o tempo, enquanto aguarda pelo julgamento, Joice Espíndola da Silva trabalha na cozinha do presídio feminino. É ela quem separa e distribui alimentos para detentas, diariamente, na unidade. “Eu aproveito para trabalhar, ajudar as ‘meninas’, e também faço cursos aqui dentro”, contou. 

Joice também é a cabeleireira da cela, onde fica com presas ameaçadas por outras detentas e que têm filhos. Além da secretária de Esportes Marisa Rocha, na cela também há uma mulher com um bebê recém-nascido. 

“Trata-se de uma ala menor, chamada de convívio. Não é um setor especial”, informou a diretoria do presídio. Atualmente, o local tem 82 presas, divididas em quatro setores, com média de sete mulheres por cela.

O júri

Joice diz que está preparada para enfrentar o júri. “Tenho muita fé em Deus. Tudo não passou de um acidente. Não tenho antecedente criminal, sou mãe e sempre trabalhei. Nunca precisei passar por cima de ninguém para conquistar o que tenho. Só espero que a justiça seja feita e que eu possa dar a minha versão sobre tudo. Qual mãe que não se posicionaria na frente do filho 10 vezes se fosse preciso?”, indagou.