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Três Lagoas

Negro é duplamente discriminado no Brasil

No país, para cada homicídio de não negros, 2,4 negros são assassinados. A média é a mesma no município

Para cada homicídio de não negro registrado, 2,4 negros são assassinados no Brasil. A média é do estudo Vidas Perdidas e Racismo, divulgado ontem [véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorada hoje] pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). 

O estudo, que traz índices de mortalidade entre negros nas unidades da federação, aponta que, no Brasil, ‘o negro é duplamente discriminado’. A afirmação é baseada em um círculo vicioso de racismo gerado desde o fim da escravidão. Pela teoria, com a abolição da escravatura, em 1888, o negro foi lançado a duas barreiras: a do racismo e a da persistência do baixo capital, diretamente ligadas uma a outra, uma vez que o preconceito também leva à falta de ofertas de emprego e consequentemente à baixa renda e, nos dois casos,  aumentam as chances de mortes violentas. 
 
“Uma pesada herança das discriminações econômicas e raciais contra os afrodescendentes no Brasil é a letalidade violenta […]Indiretamente, a discriminação pela cor da pele pode afetar a demanda por trabalho de negros para postos mais qualificados, ou bloquear oportunidades de crescimento profissional. Em última instância, o racismo reforçou, ao longo do tempo, o baixo status socioeconômico daquelas populações que foram largadas à sua própria sorte após a abolição, com baixa dotação de capital humano.Portanto, por um lado, a letalidade violenta de negros no Brasil associada à questão socioeconômica, em parte, já decorre da própria ideologia racista”, traz o documento, assinado pelo diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e de Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV).
 
De acordo com o levantamento, que leva em conta dados do IBGE de 2010 e de mortes violentas do Ministério da Saúde, o estado com pior índice de vitimização de negros foi Alagoas, onde são registrados 80,5 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes negros, contra apenas 4,6 crimes para o grupo de não negros. Em Mato Grosso do Sul, a diferença é mais equilibrada, mas existe: são 30,6 homicídios registrados contra negros são 21 contra não negros para cada grupo de 100 mil habitantes. O resultado é inferior à média nacional. No Brasil, porém, taxa de homicídios de negros no Brasil é de 36 para cada 100 mil; para não negros, ela é de 15,2.
 
O novo estudo do Ipea não trouxe dados regionais. Entretanto, uma estimativa pode ser obtida baseada nos dados do Mapa da Violência: As Cores da Violência, de 2012, desenvolvido pelo mesmo instituto. De acordo com ele, até 2010 – quando fora elaborado o último Censo -, para cada homicídio de brancos, dois negros eram assassinados no município. A taxa de violência contra negros, segundo o estudo, é de 44,8% a cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto que contra brancos, é de 36,3%. 
 
SALÁRIO
Outra pesquisa comprova a diferença socioeconômica entre negros e nãonegros. Divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o estudo mostrou que a média salarial dos negros é 36% menor que o de não negros. Pela pesquisa, um trabalhador negro com nível superior completo recebe R$ 17,39 por hora trabalhada, enquanto que um não negro recebe R$ 29,03 pela mesma atividade. 
Em Três Lagoas, por exemplo, quanto maior a média salarial menor a participação dos negros e pardos. Segundo o IBGE, dos54,2 mil habitantes inseridos no mercado de trabalho, 40% ganham uma média de um a dois salários mínimos, sendo 9,6 mil de cor branca, 1,7 preta e 10,2 mil pardas.  Já entre aqueles que recebem até menos que um salário, havia 7,9 mil pardos e 1,3 mil negros contra 6,6 mil brancos. Porém, entre aqueles com média de dois a três salários, eram 3,7 mil brancos, contra apenas 538 negros. A diferença é ainda maior quando a média é para aqueles que ganhavam a média de três a cinco salários, 3,3 mil brancos para apenas 354 negros. Já entre aqueles que ganhavam de cinco a dez salários(177 negros). O mesmo Censo de 2010 constatou que 60% da população três-lagoense (103.536 mil) é considerada parda e negra.
ESTUDO
A pesquisa da Diese também revelou a deficiência na formação educacional. Conforme a Dieese, dos negros trabalhadores do Brasil, 27,3% não haviam concluído o ensino fundamental (que vai do 1º ao 9° ano) e apenas 11,8% conquistaram o diploma de ensino superior, ao passo que entre os não negros em atividade 17,8% não terminaram o ensino fundamental e 23,4% formaram-se em uma faculdade.