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Entrevista

Novas indústrias e Rota Bioceânica impulsionam setor de hotelaria em MS

Hotéis e restaurantes têm se reestruturado para atender a demanda que deve continuar crescendo nos próximos anos no estado

Presidente do Sindha-MS, Juliano Wertheimer
Presidente do Sindha-MS, Juliano Wertheimer

Na contra-mão dos dados gerais sobre o desempenho do setor de Serviços em 2024, que apresentou uma retração de 6,5% em Mato Grosso do Sul, o ramo da hotelaria desponta com novas oportunidades de negócios. O presidente do Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação de Mato Grosso do Sul (Sindha-MS), Juliano Wertheimer, falou sobre as regiões de maior destaque e perspectivas de desenvolvimento para os próximos anos.

O que significa esse momento da hotelaria se comparado aos números do setor de serviço no estado?
Juliano Wertheimer A hotelaria está num bom momento. Por exemplo, na região de Inocência com as indústrias vindo, há três hotéis sendo construídos simultaneamente. Estão em momentos diferentes de obra, mas o interessante é observar a mudança de projeto no meio da construção. Por exemplo, tem dono de hotel que começou projetando um hotel dormitório, algo mais simples, para 3, 4 pessoas no mesmo quarto. E depois houve o entendimento de que precisava de um ticket médio mais alto, um apartamento mais espaçoso, talvez para 1, 2 pessoas, no máximo. Isso para atender o legado que fica pós-obra, porque num pico de obra chegam a 40 mil trabalhadores, uma média de 10 mil durante todo o período de obra. Mas o legado em Inocência será de 4, 5 mil vagas de trabalho, que persistirá por muitos anos. Então, muitas vezes você perde aquele grande volume de hóspedes no período da obra, mas você estrutura o empreendimento que vai te atender por muitos anos com o legado. Com ticket médio mais alto, que é uma diária mais alta, com um público mais qualificado e mais perene.
Quais outras regiões ou municípios estão se destacando mais nesse setor no estado?
juliano wertheimer Todas as regiões onde tem indústria de celulose vindo. E tem também outros investimentos do agro, como a citricultura. Vem primeiro toda a plantação para o estado e, com certeza, atrás disso, vem uma indústria, porque a partir de 30 mil hectares plantados já se coloca uma indústria de produção. E já estamos com 30 mil hectares plantados. Agora é o tempo da maturação dos pomares. Nessas regiões todas se desenvolve a hotelaria. Já em Bonito, temos visto renovação de alguns empreendimentos e abrindo outros. O Hotel Zagaia, um dos maiores da região, acabou de anunciar um projeto de mais de 100 milhões de reais para construção de uma nova unidade e um parque aquático dentro da região. Então é um momento de pujança da hotelaria, mas a gente pode trazer muito mais ainda para o estado.

Como a Rota Bioceânica tem contribuído para o desenvolvimento do setor da hotelaria no estado?
Juliano Wertheimer Hoje a gente percebe, mesmo nos restaurantes em Campo Grande e no trecho até Porto Murtinho, a frequência maior de estrangeiros. Antigamente, aparecia um estrangeiro a cada 6 meses. Hoje, quase que semanalmente, tem estrangeiros de várias nacionalidades frequentando a região. Então eles se hospedam, eles se alimentam, eles locam carros e isso traz um dinheiro novo. Bem diferente de um turismo doméstico, que também é ótimo, mas são viagens curtas, muitas vezes a gente não dorme até o destino. Faz um passeio de um dia e volta. Então, não gera a riqueza que um turismo externo traz e, principalmente, um turismo de negócios. E não importa se é um brasileiro ou um estrangeiro porque ele vem com uma diária para gastar, ele vem com hotel pago pela empresa, geralmente de média categoria para cima. São eventos e questões empresariais gerando hospedagem, alimentação e fluxo para o estado. E a Rota Bioceânica vai demandar altos investimentos.

E quais são as perspectivas de novos empreendimentos, principalmente em Campo Grande, que é muito procurada para o turismo de negócios?
Juliano Wertheimer  Vou te dar um exemplo, hoje se quiser fazer um evento para 5 mil pessoas com ar-condicionado e 2 mil vagas de estacionamento, não temos esse espaço no estado. Se a Suzano, que é a maior indústria de MS, quiser fazer a convenção nacional mundial da celulose aqui na nossa capital, não temos capacidade de atendimento. Enxergando isso, o nosso sindicato, juntamente com o Sebrae e o Governo do Estado, tem buscado a construção de um grande projeto, talvez para um centro de convenções, que é diferente de um centro de exposições. É algo mais estruturado, preparado para atender a eventos corporativos. Mas, hoje, uma rede hoteleira não constrói mais hotéis, não consegue investir no ritmo do crescimento. Por isso, as redes hoteleiras viraram grandes administradoras de hotéis, viraram praticamente franquias e quem constrói os empreendimentos são investidores, ou locais, ou grupos, ou fundos. Então, depois da consolidação de um centro de convenções, a próxima rodada seria a busca das redes hoteleiras, dos investidores. E, por fim, precisamos buscar a consolidação de uma malha aérea mais robusta, que traga as pessoas com menos conexões. Aí a gente pode começar a falar em captação de eventos corporativos e criar uma agenda que nos atenda durante o ano todo.

Como está o setor da hotelaria em Três Lagoas? Afinal, é o município com o maior crescimento socio-econômico do estado?
Juliano Wertheimer Há uma boa rede hoteleira em Três Lagoas, que também é um exemplo que todos os outros devem estudar. Quem olha para trás, e vê como se desenvolveu Três Lagoas na época, os empreendimentos hoteleiros que focaram muito na parte de obra, ou seja, ofereceram muitos leitos esperando que esse público continuasse, tiveram uma vida mais curta ou tiveram que se adaptar. E os que fizeram estruturas mais a longo prazo, projetando o público que ficou no município e com a ativação das indústrias, estão bem estabelecidos até hoje. São alguns hotéis, alguns restaurantes que se prepararam mais voltados para a qualidade, o atendimento. Eles conseguiram se manter durante todo o ciclo de obra e, agora, anos depois, continuam tendo sucesso e boa ocupação. Então, a gente vê Três Lagoas como uma grande cidade. Tem uma oferta excelente de restaurantes, ótimos hotéis e a gente percebe a diária média subindo justamente pela demanda hoteleira. E com a semana inteira lotada, as diárias vão lá para cima. Então, na minha visão, ainda há espaço para hotelaria em Três Lagoas, mas tem ótimas oportunidades também em municípios que estão aflorando com as novas indústrias.