De janeiro até essa segunda-feira, pouco mais de 200 profissionais deixaram a informalidade em Três Lagoas pelo programa Empreendedor Individual, do Serviço Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). Hoje, são, apenas no município, 2.054 Microempreendedores Individuais (MEIs). Em toda a região do Bolsão, o total de formalizados está próximo dos cinco mil e deve aumentar ainda mais se continuar a alta procura registrada no Sebrae, como explicou Josi Queiroz Blini Signori, gerente regional do Sebrae de Três Lagoas, que completou, na semana passada, 90 dias à frente da unidade. Natural de Aparecida do Taboado, onde ocupou o cargo de diretora de Indústria, Comércio e Turismo, Josi assumiu o cargo em 1º de fevereiro deste ano.
Três Lagoas
Número de Empreendedores Individuais cresce em 15%
Em toda a região do Bolsão, o total de formalizados está próximo dos cinco mil
JP: Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff anunciou que, nos próximos dias, o Brasil terá mais de três milhões de empreendedores individuais. Em Três Lagoas, a procura desses profissionais pela formalização também é grande?
Josi Queiroz Blini Signori: A procura é grande e o fomento econômico da nossa região está aquecido. Um exemplo foi a Rodada de Crédito, promovida recentemente. O resultado foi surpreendente. Foram quase R$ 7 milhões em negociação.
JP: Atualmente, há quantos empreendedores individuais em Três Lagoas?
Josi: São 2.054 empreendedores individuais no município. Em toda a área de atendimento da nossa região, são 4.986 formalizados, distribuídos em 11 municípios. Depois de Três Lagoas, líder no número de empreendedores individuais, vem Paranaíba, com 599; Cassilândia, com 518 empreendedores individuais e Aparecida do Taboado, com 351. E a procura é constante. [o Sebrae encerrou o ano de 2012 com pouco mais de 1,8 mil profissionais formalizados apenas em Três Lagoas] Por conta disso, nós temos um projeto de consultoria pioneiro no Estado, que é o Consultoria 32 horas Coletiva. Esse projeto foi implantado no mês de março e todas as vezes em que damos atendimento nós temos 100% de adesão. Essas consultorias acontecem semanalmente e sempre sobram vagas para a semana seguinte.
JP: Esse projeto é voltado exclusivamente para o empreendedor individual?
Josi: Sim. Porque é ele quem está se formalizando. Nós temos também dois consultores que vêm duas semanas por mês. Um deles trabalha apenas para atender o Microempreendedor Individual (MEI).
JP: Qual o perfil desses empreendedores individuais?
Josi: A maioria é constituída por cabeleireiros e comerciantes do setor de vestuário. Em terceiro, está o segmento de lanches, casas de suco e similares. Geralmente, são pessoas muito simples, que vêm sempre por orientação de amigo ou familiar. Essa timidez, que aos poucos vem sendo vencida, pode influenciar no perfil do empreendedor individual, que é composto, em sua grande maioria, por mulheres. Elas têm mais facilidade em buscar orientação, de se abrir e dizer quais são as dificuldades. As mulheres também têm se destacado em outros segmentos, como o da micro e pequena empresa.
JP: Hoje, quais são os benefícios de estar formalizado?
Josi: O que eu acredito ser o principal é a aposentadoria, o que deverá trazer mais segurança aos profissionais. Além de trabalhar dentro da legalidade, estar formalizado permite o acesso a muitos benefícios, entre eles a aposentadoria e o salário-maternidade, que também é interessante, já que a maioria dos MEIs é composta por mulheres. A formalização também traz a vantagem de se ter o CNPJ, que facilita o profissional buscar linhas de crédito ou efetuar compras no varejo, com preços mais atraentes. Hoje, principalmente no estado de São Paulo, muitas empresas trabalham com vendas no varejo, com a exigência do CNJP, onde o empreendedor individual ganha grandes descontos nas compras. Somado a tudo isto, é muito fácil conseguir se formalizar. As taxas são de R$ 32,10 para a indústria e comércio; R$ 36 para prestadores de serviço e R$ 37 para comércio, indústria e serviço. Para se formalizar, basta apresentar documentos como CPF, comprovante de endereço local do empreendimento e título de eleitor.
JP: Também nesta semana, a presidente reforçou a redução de taxa de juros de 8% para 5% do programa de Operações de Microcrédito Produtivo Orientado (Crescer), que tem como objetivo fornecer linhas de crédito para o MEI. A senhora acha que esta medida deve surtir efeito em Três Lagoas?
Josi: Essa medida deverá aumentar ainda mais a procura. Na Rodada de Crédito, esse assunto já foi debatido. Eles [empreendedores] já sabem que têm esse direito. As pessoas, quando se formalizam, buscam mais informações sobre o mercado. Elas se sentem mais valorizadas e buscam novos caminhos. Aqui, as instituições financeiras foram muito questionadas sobre o assunto. Trata-se de uma proposta interessante. Afinal, se você está iniciando, tem que haver uma diferenciação de taxa. Você ainda está se fortalecendo, então, com uma taxa de juros menor, é possível ter um risco calculado. Risco todos temos, mas com juros mais baixos o empreendedor tem mais chances de se manter no mercado.
JP: A senhora citou a iniciativa do Sebrae, em parceria com a Prefeitura de Três Lagoas, implantar uma Sala do Empreendedor no município. Como funcionaria esse projeto?
Josi: Hoje, um das maiores dificuldades do empreendedor é conseguir percorrer todos os postos para recolher as taxas necessárias. Até mesmo a prefeitura está distribuída em vários prédios. Como são profissionais que estão iniciando, muitas vezes, eles se perdem. Além disso, o atendimento não é especializado para ele. Então, estamos conversando com a prefeita Márcia Moura para inovar, implantando a Sala do Empreendedor. Neste local, haveria, além da orientação do Sebrae, a possibilidade de recolher todos os impostos em um único espaço. Teria uma pessoa para orientar e receber essas taxas. Em algumas prefeituras do Estado já existe a sala do empreendedor. Ribas do Rio Pardo é uma delas. Agora, queremos trazer para cá a fim de que Três Lagoas também saia na frente.
JP: Falando em Prefeitura, como está o processo de implantação da Lei Geral em Três Lagoas?
Josi: A Lei Geral já existe, foi aprovada, e agora a estamos implementando. O que irá acontecer: vai haver uma parceria com o setor público para que ele possa, nessa etapa, facilitar a participação das micro e pequenas empresas nas compras governamentais. O Sebrae entra nesse intercâmbio com a qualificação dos servidores públicos, em um primeiro momento. Recentemente, licitamos um grupo de profissionais para atuar junto às prefeituras para que elas cumpram a determinação da lei, que é de 30% da compra feita no município. Já no segundo momento, o Sebrae irá qualificar os empresários para que eles possam fornecer à prefeitura, em um projeto voltado apenas para as compras governamentais.
JP: Recentemente, o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul realizou uma reunião para debater a questão da implantação da Lei Geral. Como a senhora avaliou essa reunião?
Josi: O Tribunal de Contas deixou o ano de 2013 para ser o último ano de implementação da Lei Geral. Agora, ele deu um ultimato: a partir do ano que vem as prefeituras serão fiscalizadas. Esse evento aconteceu em março, em parceria com o Sebrae, com todas as prefeituras e secretarias de compras e licitação, com o objetivo de instigar o executivo municipal. O foco do Sebrae para este ano é garantir que a lei seja cumprida em sua totalidade.
JP: As compras governamentais não atingem essa margem de 30%?
Josi: Não atingem. Hoje, a maioria das compras é feita junto a empresas de fora. Para se ter uma ideia, quando é aberta uma licitação em Santa Rita do Pardo, por exemplo, quem ganha é uma empresa de Três Lagoas. Já quando a licitação é aberta aqui, quem ganha é Campo Grande. Então, sempre há uma empresa com menor preço, porque ela vende em maior escala. A Lei Geral vem para beneficiar os micros e pequenos empresários locais. Dentro dessa proposta, a prefeitura não pode comprar apenas dos grandes ou de fora. Senão, os pequenos não vão sobreviver e o comércio local também não será fortalecido. E quem tem o maior giro de capital? É a Prefeitura. Então, ela tem que direcionar isso ao mercado onde arrecada.
JP: No Bolsão, algum município já implantou essa nova lei?
Josi: Nós temos algumas prefeituras que não aprovaram ainda a Lei Geral. Outras aprovaram, mas estão em fase de implementação. Aqueles que saíram na frente, que implementaram a lei, serão qualificados primeiro por meio desse grupo de consultoria que foi licitado pelo Sebrae. Um dos benefícios da Lei Geral é dar mais transparência às compras governamentais.
JP: Em relação ao empreendedor três-lagoense de um modo geral, o empresariado local despertou para a importância de se qualificar, de buscar crescimento, para atender ao novo mercado?
Josi: Nós temos trabalhado muito nesse nicho de mercado. Acredito que se a Associação Comercial e Empresarial também trouxer esse fomento, nós vamos atingir uma porcentagem ainda maior. Mas isso tem sido buscado bastante, nós precisamos de uma união maior das redes associadas.
JP: Falando em Associação Comercial, não tem como deixar de falar na questão do Shopping a Céu Aberto. Esse projeto foi, de fato, perdido por falta de procura de alguns lojistas?
Josi: Esse é um assunto que poderia ser resgatado e, talvez, recuperar todo o material que foi investido em layout e divulgação. Vamos ter a implantação de um shopping na cidade. Então, precisa haver um fortalecimento, de maneira conjunta, com ações estruturadas, para que o shopping não tire o movimento do comércio local. Agora, se você, consumidor, tiver a oportunidade de ter outro local, com melhor atendimento e mais comodidade, vai migrar para ele. Então, esse é o momento de resgatar tudo que já foi conversado e unir o comércio, associação e todo o Sistema S para que esses atrativos não fiquem apenas na outra ponta. Porque a novidade, atrai. Se houver interesse da classe, com certeza o Sebrae não iria se opor. Nós trabalhamos a favor deles [empresários].
JP: Ainda nessa questão de fortalecimento do empresariado local, como está o Programa da Cadeia Produtiva do Petróleo, Gás e Energia, desenvolvido em parceria com a Petrobras?
Josi: Esse projeto está em andamento. Nós temos tido ações constantes, inclusive a Rodada de Crédito é prevista nele. Por isso tivemos dois momentos: das micro e pequenas empresas como do empreendedor individual. Além disso, também estamos trabalhando para formar a Associação da Rede Petro, com empresários que irão fornecer para as empresas da estatal. Ontem, [segunda-feira] tivemos uma reunião em Brasilândia, que também está envolvida no programa juntamente com Três Lagoas. Nas últimas ações que fizemos, contamos com a interlocução de profissionais da Petrobras para apresentar aos empresários os mecanismos de cadastramento no site de compra da empresa. Hoje, o programa atende a 130 empresários, que estão sendo qualificados desde o ano passado. O projeto vai até 2014, quando, aqueles que concluírem, receberão o certificado de conclusão.
JP: Qual a avaliação que a senhora faz das Rodadas de Negócios em Três Lagoas?
Josi: Ainda estamos concluindo planejamentos de metas dessa edição. O que posso dizer é elas sempre são superadas. Nós teremos a 9ª Rodada em junho. Será a primeira rodada deste ano e, antes mesmo de iniciar o lançamento oficial, nós já temos mais de 30 empresas na lista de espera. A nossa meta é chegar a 100 empresas.
JP: Qual a meta para essa primeira rodada desse ano?
Josi: Nossa meta é superar a anterior. Na oitava rodada, foram negociados R$ 94 milhões. Anteriormente a essa, na sétima rodada, foram R$ 47 milhões. Ou seja, o volume de negócios dobrou de uma edição para outra. O motivo deve-se à participação do consórcio da Rede Petro. Porém, é importante que o empresariado participe cada vez mais desses eventos.
JP: Muitos desses empresários tornam-se fornecedores fiéis das âncoras depois?
Josi: Sim. A maioria torna-se fornecedora fixa e, mesmo assim, não desanima de participar das rodadas.