Recentemente, no advento da pandemia, os governos viram-se envolvidos num dilema que os dividiu e que os levou a conflitos nas mais diferentes instâncias, envolvendo a escolha entre preservar as pessoas e a saúde, promovendo um forte e prolongado isolamento social, e preservar empregos e empresas, minimizando efeitos e riscos para garantir o máximo de normalidade nos mais diferentes setores da economia.
Não houve consenso. E ele é mesmo difícil numa hora dessas.
Mas o dilema polêmico revela, na verdade, um outro que vem de tempos ainda mais remotos que sempre desafiaram a sociedade. O progresso coletivo, o progresso das cidades e das empresas, das nações vem antes ou depois do progresso e bem estar das pessoas?
Essa é uma discussão que também se estende por tempos afora sem um consenso, e vez por outra ganhando ainda um viés ideológico aqui e ali, segundo as conveniências do momento.
Nos tempos do “milagre econômico”, para citar um exemplo recente, que correspondia ao período mais próspero do regime militar, o Brasil convivia com a fome e a miséria com graves problemas sociais na urbanização crescente das cidades. Mas a lógica que imperava era a de fazer primeiro crescer o bolo para depois dividir as fatias. Veio a crise do petróleo, nova ordem econômica. Nem o bolo cresceu nem as fatias foram divididas.
Mais adiante, na redemocratização o combate aos problemas sociais ganhou relevância, ganhou espaço e inciativas. Os programas sociais chegaram aos patamares de hoje, com seus pilares na renda mínima e na inclusão social. E, novamente, tem-se um impasse.
O auxilio emergencial – sobrinho neto do vale renda – mostrou-se oportuno, bem aceito e socialmente viável. Porém, até agora, não se sabe haverão bolos ou fatias para serem distribuídas em janeiro, pois não cresceu a economia (e consequentemente a arrecadação) o suficiente para garantir sua continuidade.
Note-se que é uma discussão que percorre todo o espectro ideológico, sem respeitar limites e impondo-se aos militares do passado, aos democratas que os sucederam, aos esquerdistas que vierem à seguir, alcançando com a mesma intensidade e desenvoltura os conservadores de hoje.
Seguem-se as polêmicas, sem uma perspectiva clara do que deve afinal prevalecer. Economia ou Saúde? O progresso ou as pessoas? O desenvolvimento ou a qualidade de vida?
Diriam alguns que devem andar juntos, outros que um deriva do outro. Nem uma coisa nem outra. É um dilema que faz mover a sociedade, ora numa direção, ora noutra até que, adiante um equilíbrio se encontre.