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Pai, um carinho, por favor!

Leia artigo publicado no Jornal do Povo deste sábado

Adriano Gonçalves é filósofo, psicólogo e escritor. - Divulgação
Adriano Gonçalves é filósofo, psicólogo e escritor. - Divulgação

A paternidade sempre foi vista como o “lugar” da autoridade, proteção, firmeza, das regras e da lei. De fato, estas premissas nos tornam o que somos: pais. Entretanto, temos acompanhado uma crise desses papéis, uma carência e disfuncionalidade no ser e fazer paternos. Podemos então perceber uma geração sem referências, carente não só da presença, mas da essência, daquilo que estrutura o ser humano. Sim, ouvimos ecoar por entre o caos social um apelo: pai, um carinho, por favor!

Podemos dar resposta a esse pedido resgatando, o que, para mim, são três fenômenos genuinamente paternos: voz que gera segurança, autoridade que cria espaço e liderança que aponta o eterno. A acolhida de um filho é antes de tudo verbal. Uma comunicação dos pais e cuidadores, que se doam por amor! E a criança ainda no ventre materno percebe perfeitamente todos os matizes e entonações de nossa voz, e com maior nitidez e eloquência escuta a voz paterna. 

Hoje, mais cedo que nunca, precisamos romper o silêncio adâmico, colocar nossa voz firme em prol de nossos filhos, eles querem ouvir nossos conselhos, sentimentos traduzidos em palavras. Quando nos calamos frente ao filho ele se perde na ansiedade da falta de referência. Pai, uma fala, por favor!

Após ser acolhido pela fala, há sobre o pai um desígnio de autoridade a exercer. Não aquela que se vale da força de um braço, mas a autoridade que sabe abrir as mãos, criando espaço para que o filho possa ser! 
A verdadeira autoridade paterna está nessa capacidade de criar oportunidades, espaço para que o ser apareça na vida e se ponha na realidade. Filhos  precisam de estrutura, supervisão, de serem civilizados.

Quando criados muito à vontade, sob o princípio de não intervenção e despidos de liderança, no geral, eles começam a desafiar as convenções sociais e o bom-senso. 

Muitos se machucam, pois buscam “fora de um lar” a autoridade que queriam dentro de casa, e alguns nunca se recuperam. É dos braços de um pai que a criança vislumbra a realidade de um mundo a desbravar, pois, antes do pai, ela com a mãe eram quase uma só “pessoa”. Ser autoridade é ser para o filho o universo de possibilidades de descobertas de si e do mundo! Pai, um espaço, por favor!

E, por fim, porém não menos importante, todo pai funciona como uma espécie simbólica do Eterno. Muito da relação com o transcendente é construída pela relação que nutrimos com nosso pai terreno. Não é atoa que temos, quando pequenos, a sensação de eternidade e indestrutibilidade paterna. Eles eram nossos heróis, quase deuses! 

*Adriano Gonçalves é filósofo, psicólogo e escritor.