Considerado um dos maiores remanescentes nativos do Cerrado do Mato Grosso do Sul, o Parque Natural Municipal do Pombo, localizado em Três Lagoas, vem se tornando referência de Unidade de Conservação (UC) no estado.
Com cerca de 8 mil hectares, abrigando uma vasta biodiversidade da maior savana das AmérIcas, a área de proteção integral, tem como principal objetivo, a conservação da fauna e flora do Cerrado – bioma que vem sofrendo uma intensa expansão agrícola.
O Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas), por meio do Projeto Tatu-canastra, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agronegócio (Semea) está completando 1 ano de pesquisas e monitoramento da fauna existente no local e, por mais que o projeto vise principalmente o tatu-canastra, este trabalho identificou a presença de mais de 69 animais silvestres, incluindo alguns ameaçados de extinção.
Arnaud Desbiez, fundador e presidente do Icas, explica que o maior e mais raro de todos os tatus do mundo, além de estar na lista de animais ameaçados de extinção, possui uma importância ecológica fundamental para o ecossistema, pois suas tocas – quando não utilizadas pela espécie – servem de abrigo para mais de 100 animais vertebrados.
“Neste primeiro ano de atividades, já instalamos 85 armadilhas fotográficas em toda área do parque. Estas câmeras possuem uma tecnologia que possibilita monitorar a vida selvagem 24 horas por dia, registrando uma fauna riquíssima, que vai desde antas até pequenos pássaros em seu ambiente natural”, disse o pesquisador.
Gabriel Massocato, biólogo e coordenador das ações de campo do projeto, ressalta que a grande quantidade de registros de espécies ameaçadas de extinção no parque é uma das situações que mais tem surpreendido os pesquisadores que passam horas e horas analisando cada imagem registrada pelas armadilhas fotográficas.
Os registros comprovam a presença de anta, queixada, tamanduá-bandeira, o próprio tatu-canastra, onça-parda, lobo-guará, jaguatirica, cervo-do-pantanal e do mutum-de-penacho, espécies que também fazem parte das listas de animais ameaçados de extinção do Brasil e do mundo.
Imagens capturadas pelas câmeras também surpreendem os pesquisadores, como é o caso do raro cachorro-vinagre, considerado extinto em outras localidades no bioma. Essa espécie de canídeo selvagem, ainda pouco conhecida pela ciência, possui morfologia e comportamento peculiar, se comparado com seus parentes, como o lobo-guará e o lobinho, pois é o único deles que vive em grupos familiares e que necessita de grandes áreas naturais para sobreviver.
Outra grande surpresa neste primeiro ano de estudo, foi o primeiro registro do teiú-de-quatro-linhas (Tupinambis quadrilineatus), espécie de lagarto endêmica do Cerrado, mas que jamais havia sido registrada em MS. Outro lagarto, o teiú-mascarado (Salvator duseni), também descoberto pelas câmeras e um dos únicos registros para o estado.
“A confirmação da existência destes lagartos no parque demonstra a importância deste parque não só para o tatu-canastra, mas para muitas outras espécies raras e endêmicas, ressaltando o seu enorme potencial para novas descobertas sobre a nossa biodiversidade”, explicou Arnaud.
Com o projeto de conservação e pesquisa de longa duração desenvolvido pelo Icas, a população de tatu-canastra da região do Parque do Pombo vai ser a primeira em todo Cerrado a ser estudada em detalhes.
Parque Municipal do Pombo é um complexo ambiental de preservação permanente com 8.032 hectares de área, localizado a 130 km de Três Lagoas. Cercado pelo Rio Pombo e o Córrego Tapera, atualmente é o habitat de 127 espécies de aves e mais de 50 espécies, entre anfíbios, répteis e mamíferos; além de mais de 400 espécies de plantas nativas do Cerrado.
A Prefeitura de Três Lagoas construiu um complexo receptivo construído no local, tendo casa de caseiro, suítes para equipe técnica dos órgãos ambientais e pesquisadores (acomodações para 18 pessoas), galpão para equipamentos, o centro de acolhimento ao visitante com anfiteatro e outras salas de apoio a pesquisas e estudos.
O local está aberto para grupos escolares, universitários, pesquisadores e demais interessados. As visitas podem ser agendadas pelo telefone da Semea: 67 3929-1248.