Jornal do Povo – Há quanto tempo o senhor está em Três Lagoas?
Luiz Carlos Areco – Cheguei aqui há mais de 40 anos. Trabalhei na barragem de Jupiá e fazia o curso de Encomia em Andradina (SP), onde me formei. Depois, surgiu uma oportunidade para ingressar na Cesp, em São Paulo; em 1986, vim transferido para a obra de Buritama, a hidrelétrica em Nova Avanhandava, foi quando eu fiz Direito, em Araçatuba. Daí, saí da Cesp e comecei a advogar, já com 32 anos. Foi quando vim para Três Lagoas.
JP – E como foi o início da carreira em Três Lagoas?
Areco – Na época, a advocacia era muito difícil, porque tinha os decanos, os medalhões da época: Ramez Tebet, Cleto Mendonça, Paulo Queiroz, Júlio Mancini. Foi quando percebi que precisava ampliar. Daí surgiu a ideia de criar uma imobiliária, a Pacto Imóveis, e permaneci com ela por mais de 15 anos. A vendi em 2000 e fui advogando para o Banco do Brasil; comecei a ter minha clientela aqui. Conheci e fui assessorar o então deputado Cícero de Souza na elaboração da Constituição do Estado, em 1989. A partir daí, comecei a ajudar na elaboração das leis orgânicas dos municípios aqui do Estado.
JP – Teve um período em que o senhor foi para Campo Grande?
Areco – Isso. Fui para Campo Grande, onde mantenho um escritório até hoje, e onde comecei a trabalhar mais para o meio político; atuava muito no [campo]eleitoral e na assessoria de políticos. Por meio desse relacionamento, fiquei um tempo na Assembleia Legislativa. Depois, assumi a Procuradoria Jurídica do Tribunal de Contas do Estado, onde fiquei três anos e meio na presidência e chefia. Em 2010, resolvi voltar para Três Lagoas, onde sempre mantive o meu escritório e abri a Imobiliária Lupar.
JP- Existe grande diferença entre advogar e atuar no ramo imobiliário?
Areco – Não, é muito interligado. Na imobiliária, é preciso defender o seu cliente, tanto na hora da compra, como na venda. A imobiliária precisa ter um estafe muito bom de advogados para que o cliente não saia insatisfeito. O contrato também precisa ser bem feito. Não existe nenhuma incompatibilidade em termos de ética profissional em exercer as duas profissões.
JP – E como o senhor analisa o ramo imobiliário em Três Lagoas?
Areco – Quando começou o “boom” imobiliário, em 2000, foi quando eu vendi a minha imobiliária. Agora, o pessoal fala em crise, mas não estamos regredindo. Existem muitos imóveis desabitados sim, mas Três Lagoas está preparada para um novo impulso. Outro dia recebi um contato de uma pessoa de Brasília (DF) dizendo que quer investir, primeiro em São Gabriel d’Oeste e, depois, em Três Lagoas. Ele disse que tem um estudo das cidades em potencial para pleno desenvolvimento e que Três Lagoas é a segunda.
JP – Existem muitos espaços vazios em Três Lagoas. Há especulação imobiliária?
Areco – No perímetro urbano são poucas as áreas e, estão supervalorizadas. Com a construção desse shopping [center], fica difícil encontrar uma área para loteamento e com um bom preço. Em relação à especulação, ela ocorre por parte de quem tem o imóvel. Isso é natural, principalmente aqui, que tem uma cultura ruralista, sempre tem aquela de esperar mais um pouco. Mas, muitos perderam oportunidades de fazerem bons negócios, já que agora estamos em uma instabilidade política.
JP – Falando em instabilidade política, o senhor já vivenciou um período complicado do governo?
Areco – A instabilidade política está acabando com o nosso país. Quem tem, está segurando. Nós já passamos pelo governo do [Fernando] Collor, que veio com a doida da Zélia [Cardoso de Melo, ex-ministra da Fazenda] e trancou tudo. Eu, inclusive, sofri as reações. Eu mesmo me arrebentei, quebrei mesmo, literalmente. Eu tinha vários investimentos; fui dono do Brasinha que funcionava em três períodos, abri a lanchonete Bugalu, o jornal Folha de Três Lagoas, na época era meu e do Cícero; tinha a Pacto Imóveis, uma central de cópias. Eu tinha um movimento tremendo. Era para ser um cara bem sucedido, fui a zero, porque eles trancaram o crédito dos bancos. Com todo esse movimento e, mesmo sendo advogado, fui a zero, fiquei a pé. Fiquei dez anos pagando conta de INSS, dívidas trabalhistas…
JP – E agora, como está vendo esse cenário atual ?
Areco – Acho que essa crise é maior do que aquela. Porque, naquela época, ficamos esperando um salvador, um homem que iria acabar com os marajás. Ele chegou, mas era muito incompetente. Agora, tínhamos uma gestão de quatro anos, com a presidente sendo reeleita, mas descumprindo as promessas de campanha; perdeu-se a credibilidade nacional e internacional. Estamos a pé no Executivo e Legislativo. Enquanto não tirarmos uma dessas peças, as coisas não vão entrar no eixo. Entendo que a crise é mais política do que econômica. Estão tentando se manter no mercado, na expectativa de que vai melhorar. A partir do momento que tivermos confiança nos dirigentes das nossas instituições, como estamos tendo no Poder Judiciário, a confiança de todos cresce. Agora, a gente não sabe se amanhece com a Dilma fora do Planalto e entra o Temer. Ou, se sai ela e o Temer e entra o Cunha, ou se ele também sai. Os empresários, as grandes instituições estão contra o governo. Daí como vão investir e gerar empregos?
JP – E qual sua visão em relação a Três Lagoas?
Areco – Nós avançamos muito. Talvez, por isso, a atual gestão enfrenta algumas críticas. Mas, a gestão que vejo hoje em Três Lagoas, é muito honesta. Pode apresentar muitas falhas, mas é muito honesta, não vejo grandes coisas que em outras gestões surgiram. Acho que Três Lagoas avançou muito nos últimos anos. Penso que podemos contribuir mais, inclusive o Poder Legislativo. Acho que Três Lagoas, daqui para frente, precisa encontrar um bom gestor público. O duro é convencer a população sobre isso. Não estou desmerecendo ninguém. Quem chegou aonde chegou, ou aonde vai chegar, é pelos próprios méritos. Mas, se amanhã tivermos um mandatário que chegou pelo voto popular, que arrume uma equipe eficiente em gestão pública. Três Lagoas está crescendo e virando uma pequena metrópole. Acho que tem várias pessoas que poderiam dar uma boa cota de contribuição.