O bate-boca entre os senadores Flávio Bolsonaro e Simone Tebet nesta quarta-feira na CPI da Covid foi só o evento até aqui mais público de algo que vem crescendo nas redes sociais nas últimas semanas: a senadora do MDB de Mato Grosso do Sul entrou no radar, e consequentemente na mira, dos bolsonaristas desde que passou a ter uma atuação destacada na comissão.
A razão é a mesma de sempre a despertar a paranoia bolsonarista: Tebet passou a ser enxergada como uma potencial pré-candidata à Presidência da República, num momento em que se discutem candidaturas alternativas à polarização até aqui demonstrada nas pesquisas entre Jair Bolsonaro e Lula.
Não se pode chamar nem de incipiente a ideia de uma candidatura da senadora. Ela tem sido nos últimos anos constantemente boicotada pela bancada do próprio partido no Senado, que, ademais, não tem muito apetite por lançar candidatos competitivos à Presidência.
Em 2018, Henrique Meirelles foi candidato, mas teve um desempenho de nanico na votação, e só conseguiu levar o projeto adiante porque bancou a própria campanha. Não esqueçamos que, na época, ele havia acabado de deixar o Ministério da Fazenda e, tendo a Presidência no governo interino de Michel Temer, o partido tinha uma razão a mais em relação às campanhas anteriores para ter uma candidatura própria.
Ainda assim, o espaço que Simone Tebet ganhou na imprensa e nas próprias redes sociais (termômetro principal da estratégia comandada por Carlos Bolsonaro e disseminada nas redes e nos grupos de apoio ao pai nos aplicativos de mensagens) já foi suficiente para que a senadora passasse a ser atacada e ganhasse apelidos pejorativos.
É assim que começam as campanhas mais pesadas de destruição de reputação e bullying virtual que os gabinetes do ódio bolsonarista nas redes e nos aplicativos operam: a pessoa entra na roda, depois vai paulatinamente sendo atacada com mais e mais intensidade.
No caso dela, a depender da veemência no combate ao governo pelo trato da pandemia, e à medida em que cresça a especulação a respeito da sua candidatura, esses ataques vão escalar. No primeiro campo, a senadora também tem pisado no acelerador: passou a defender abertamente o impeachment de Bolsonaro e sustenta que já há inúmeros crimes de responsabilidade já configurados.
No segundo aspecto, o clamor pela sua candidatura cresce em alguns grupos. Juristas que no passado foram pelo impeachment de Dilma Rousseff, mas se decepcionaram com Bolsonaro, já defendem seu nome. Balões de ensaio surgem também em grupos de centro-direita com mesmo perfil. Falta combinar com os russos do MDB, que por enquanto estão observando o quadro eleitoral para decidir qual tática adotar.
*Vera Magalhães é colunista do jornal O Globo