Desde que sofreu repentina alta, no início de outubro do ano passado, o preço da carne, nos açougues e supermercados, tem se mantido nos mesmos patamares. Por vezes existe oscilação de preços para cima, dependendo da oferta e da procura. Na época, os comerciantes alegaram que a alta do preço da carne para o consumidor, registrada em outubro do ano passado, foi decorrente da subida de preço da arroba do boi, que chegou na época a mais de R$ 92. Hoje, maioria dos pecuaristas sente dificuldades em conseguir vender o seu gado a pouco mais de R$ 70 a arroba.
A queda vem sendo sentida, “apenas para o pecuarista, que sofre com a contínua alta dos insumos agrícolas e também com a redução de mercado”, avaliou Emílio do Nascimento, há 24 anos no ramo de comprador de gado.
“Hoje o pecuarista está vendendo porque precisa de capital de giro para honrar compromissos e não arcar com mais prejuízos ainda, mantendo o gado no pasto, porque isso também dá despesa”, explicou Emílio. “Talvez o certo seria esperar que algo de melhor venha a acontecer. No entanto, o pecuarista tem o pedido de sal, vacinas, os rolos de arme de cerca, o salário da peãozada e outras despesas para pagar. Para arrumar dinheiro, não pode parar de vender”, observou.
“Quem está ganhando hoje com o alto preço da carne que é vendida ao consumidor nos açougues não é o pecuarista. Está difícil conseguir negócio a R$ 65 a arroba da vaca, e a R$ 71 a arroba do boi, para pagamento à vista. Baixou o preço para os pecuaristas, mas o preço da carne continua o mesmo nos açougues”, comentou. “Não consigo compreender isso”, completou.
Emílio compra gado para vários frigoríficos da região. São eles que fornecem a maioria da carne que é consumida em Três Lagoas. O gado para abate, das propriedades de Três Lagoas e região, é vendido para o Frigo (Lençóis Paulista-SP), Minerva (José Bonifácio-SP, e Batayporã), Medelli (Bauru-SP), Frigosul (Aparecida do Taboado) e outros pequenos frigoríficos.
DEFASAGEM
O pecuarista vem sofrendo, desde 1986, a acentuada defasagem do preço do boi em relação aos insumos, necessários e imprescindíveis para manter sua atividade. Emílio deu como exemplo o rolo de arame liso para cerca (mil metros). Hoje, o preço do arame está em torno de R$ 260. “Com o dinheiro de venda de uma arroba de boi, o pecuarista comprava um rolo de arame. Hoje, tem que vender mais de três arrobas e meia para pagar o mesmo arame”, comparou. Segundo ele, a produção industrial foi prestigiada, enquanto que o trabalho do campo está sendo, a cada dia, menos valorizado “e sem qualquer estímulo”, disse. “Não é por nada que grandes propriedades, onde até há bem pouco tempo se criavam bons rebanhos de gado de raça e de qualidade para o abate, estão sendo vendidas ou arrendadas para plantio de eucalipto ou cana-de-açúcar”, comentou Emílio.
Ele deu outro exemplo que mostra a defasagem que o pecuarista está sofrendo na criação de gado bovino para abate. “Há menos de 20 anos, eu me lembro porque já estava neste negócio de compra de gado, com o dinheiro que o pecuarista recebia na venda de uma arroba do boi, ele conseguia comprar quatro sacos de sal mineral e dos melhores. Hoje, ele mal e mal consegue comprar pouco mais de um saco de sal”, explicou.
Nos açougues, a carne bovina de primeira é vendida, em média, de R$ 10 a R$ 13 o quilo. A carne de segunda também varia de R$ 8,50 a R$ 9,50 o quilo.