Os produtores rurais estão em estado de expectativa perante a crise financeira internacional, cujas conseqüências já estão sendo sentidas no campo. O mercado da carne está em baixa, a produção de leite também caiu e a perspectiva no cenário agropecuário é de precaução, segundo informou ontem (15) o presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, Domingos Martins de Souza.
Uma outra notícia nada animadora anunciada pelo presidente do Sindicato Rural se refere aos prejuízos causados pela mudança climática, que no ano passado alterou a produção no campo. Faltou chuva para molhar a terra e permitir uma produção satisfatória. “Vamos tentar uma reunião, para esta semana, senão na outra, com a prefeita Simone Tebet, para que ela decrete estado de emergência”, afirmou Souza.
Quando perguntado sobre se a crise atingiria o mercado da carne, enfático, Domingos respondeu: “se acho que vai pegar [os produtores]? Já pegou1”. Ele observou ainda a situação econômico-financeira dos empresários (de um modo geral): “Algum projeto novo está sendo colocado em prática este ano? Algum plano gestor para daqui para frente está sendo evidenciado?”. Para Souza, antes do final de abril deste ano, ninguém vai investir em nada – a não ser alguns projetos que tiveram início antes do anúncio da crise (como a edificação do complexo industrial VCP/IP). “Vários municípios já estão gritando porque tiveram o repasse reduzido de ICMS do gás”, apontou.
Segundo o presidente do Sindicato Rural, o preço da arroba do boi caiu. A arroba está sendo paga pelos frigoríficos a R$ 75,00, livre do Fundo Rural (R$ 4,75). Há 25 dias aproximadamente, ainda conforme Domingos, nenhum produtor está conseguindo comercializar sua produção. “Não está tendo comércio; os frigoríficos não estão comprando”, adiantou. Depois que o frigorífico Margen fechou as portas em Três Lagoas, os pecuaristas estavam vendendo para os de Andradina-SP (Friboi) e Lins-SP (Bertim).
PREJUÍZOS
Souza também destacou a situação financeira dos produtores, que têm compromissos para cumprir. O recado que ele manda para os colegas pecuaristas é que aguardem:”vamos aguardar até abril e ver o que acontece até lá”, aconselhou.
Conforme ele, os insumos aumentaram 300%. “Uma bola de arame que antes a gente comprava a um por um (uma arroba bovina por um rolo de arame), agora está quatro arrobas e meia por bola, cerca de R$ 300”, colocou.
Na questão da produção leiteira (ele também é produtor na área), Domingos disse que a redução foi necessária. “Até julho do ano passado o produtor recebia R$ 0,72 por litro; no mês seguinte, o preço caiu para R$ 0,40, que está sendo pago até hoje”, contabilizou.
“Enquanto isso, na gôndola do supermercado, tanto a carne quanto o leite não tiveram os preços alterados; não entendo isso, se o preço ao produtor sofreu queda”, comparou Souza, acrescentando que diminuiu a ração para o gado e consequentemente a produção também caiu. “Estamos pagando para produzir para o governo”, comentou.