A compra de voto é tão antiga quanto o sufrágio. E na República ela ilustra a história desde sempre. Dos tempos em que os coronéis controlavam as listas e atas, passando pela troca de favores (uma botina ante outra depois da eleição) num país de miseráveis, chegando aos tempos do marketing sedutor e das contratações sem regra e controle, sempre o voto teve um preço e, pior, sempre esteve à venda.
Os tempos, contudo, são outros. A democracia que já ganha três décadas de prática recente, amadurece e os mecanismos de controle que vão sendo colocados à disposição da sociedade inibem e contém essa prática, cada vez mais.
Sempre haverá que ameace com o abuso do poder econômico (expressão que substitui com charme a compra de votos, o suborno e outras praticas nada edificantes) a normalidade da democracia. Mas há hoje, mais ferramentas para reagir e evitar que ele se estasbeleça como prática comum e que prevaleça sobre o processo de forma dominante. Não deixa de existir, mas deixou de ser a única correlação de força num embate político e eleitoral.
Além disso, na medida em que a miséria diminui, mesmo prevalecendo a injusta desigualdade, a consciência permite fortalecer conceitos de dignidade e cidadania capazes de neutralizar ou minimizar esse fenômeno deletério.
Há ainda o que vigiar. Acesso a ferramentas tecnológicas podem desequilibrar as batalhas na rede social, por exemplo, e isso custa dinheiro. O uso da máquina administrativa, sobretudo quando há envolvimento da reeleição, é sempre uma preocupação, e não são poucos os processos denunciando essa prática.
Se a compra direta do voto, nos dias de hoje é menos explícita ou sua prática anda mesmo contida pelos ferrolhos do controle judicial, quanto mais a democracia amadurece, ele próprio, o voto, mais se valoriza e, portanto, mais seu preço aumenta.
Para tentar coibir as práticas derivadas do abuso de poder econômico até os drones passaram a ser mobilizados. Além de tudo o mais que se coloca a disposição das autoridades. Há portanto um ambiente menos propicio para que ele viceje, principalmente a ponto de tomar tudo para si.
No Brasil de hoje, vai descobrindo o eleitor que o voto vale mais que umla botina. Valeuma vida. Por isso, é cada vez mais difícil comprá-lo.