Crise hídrica, crise energética, escassez de recursos, produção industrial sem matéria prima, contas cada vez mais caras ao bolso do brasileiro. Apesar de muitos não saberem ou ignorarem o fato, o clima e o meio ambiente vem cobrando da humanidade os anos de exploração a preços altos. De acordo com a organização internacional Global Forest Watch, entre 2018 e 2019, Brasil, Bolívia e Peru figuravam entre os cinco países que mais perderam florestas primárias no mundo.
A grilagem de terras, a expansão de fronteiras agropecuárias, a mineração e a exploração econômica descontrolada, entre outros fatores, são consideradas as principais atividades responsáveis pela perda de floresta. Outro fator menos abordado nas pautas diárias é a degradação, o fenômeno que acontece quando perturbações externas tiram daquele ecossistema sua capacidade de funcionar normalmente, como por exemplo, secas, incêndios, extração de madeira, etc. A grande questão aqui é que esse acontecimento tem um papel fundamental na maneira como as florestas se modificam e, atualmente, não há no Brasil nenhum tipo de política para se evitar a degradação.
Neste sentido, é importante dizer que os estados brasileiros possuem sim normativas diferentes para a realização de compensação ambiental, mas é preciso ir além. A “substituição” de uma floresta madura e conservada por uma outra em estágio inicial, passa longe de apenas realizar o plantio. É necessário que os investimentos que vão para a restauração também possam continuar sendo aplicados para a conservação do ecossistema, principalmente em um momento da vida em que essa vegetação ainda não aprendeu “a caminhar sozinha”.
Ainda de acordo com a pesquisa, nos últimos 10 anos, as taxas de perda de florestas primárias se mantiveram altas. No Brasil, saímos de menos de 1% em 2002 e chegamos a 7% em 2019, o que é preocupante, já que as florestas primárias são as que mais armazenam carbono. Para se ter uma ideia dessa dimensão, uma árvore de três metros de circunferência pode armazenar entre três a quatro toneladas de carbono, o que equivale entre 10 e 12 toneladas de CO2, o gás causador do efeito estufa, liberados novamente na atmosfera quando ela é cortada ou degradada.
Uma floresta “nova”, realizada por conta de compensação ambiental, necessita ser acompanhada por pelo menos cinco anos, para que crie a sua biodiversidade de forma natural e tenha um desenvolvimento consistente, sem o abandono frente à degradação. O Brasil se movimenta para discutir as questões ambientais, e diversos países já acenam para os investimentos vindos do setor privado, colocando na agenda o seu comprometimento com uma compensação ambiental segura e sadia. Na Década da Restauração, e no momento atual de diversas crises advindas de nossas florestas degradadas, precisamos que esse movimento se fortaleça e prevaleça para o bem de nossa economia, saúde e vida.
*Antônio Borges, CEO da PlantVerd, empresa que atua na execução de serviços ambientais para a recuperação de áreas degradadas em todo o Brasil.