O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, criticou a morosidade do Ministério da Saúde em revelar informações a respeito da vacinação de crianças de cinco a onze anos. Para ele, a imunização deste grupo já deveria ter sido iniciada no Brasil, principalmente, no cenário da nova variante da covid-19.
Confira a entrevista concedida ao Programa CBN Campo Grande desta quarta-feira (22) apresentado pela jornalista Loraine França. Assitsta:
Com relação a vacinação das crianças, existe expectativa de que essa vacinação comece em janeiro? O senhor acredita que o ministério da saúde vai tomar essa decisão e resolver essa questão já no início do ano?
Geraldo Resende – Nós não sabemos porque ainda estamos esperamos que o Ministério da Saúde nos encaminhe nota técnicas. Eu fico pasmo em ver essa morosidade e essa protelação do Ministério da Saúde em relação a vacinação de crianças de cinco a onze anos. Nós precisamos saber quando é que vão chegar essas vacinas? Qual é o calendário da remessa de vacinas? Se o Governo Federal já adquiriu ou não? já que já foi aprovado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a aplicação das vacinas em crianças de cinco a onze anos. Vários países do mundo já o fizeram e aqui ainda nem temos o calendário, nem vacina, nem perspectiva da chegada da vacina. Isso é muito preocupante.
Por que é importante vacinar as crianças? O que faz com que a imunização desta faixa etária seja tão urgente?
Geraldo Resende – Fundamental importância. São crianças. Nós tivemos aí um quantitativo considerável de crianças que faleceram, que vieram a óbito pela covid-19. Não é o grupo que que teve a maior letalidade, mas a gente tem aí números bastante expressivos de mortes em crianças. Tivemos muitos casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, que é também oriunda da covid-19 e que é fatal em crianças. Tivemos dois casos aqui em Mato Grosso Sul. Nós precisamos fazer com que essas crianças sejam imunizadas porque elas convivem com pessoas idosas. A maioria dos lares tem pais ou tem avós, tem tios que são mais vulneráveis a covid-19. A criança é, de fato, um meio de propagação do vírus. Por isso, é extremamente importante que elas estejam também imunizadas para a gente possa conter a doença e conter, inclusive, a possibilidade de outras variantes, outras mutações acontecerem aqui.
Existe a possibilidade de que a vacinação contra a covid-19 seja incorporada no calendário de vacinação normal tanto para adultos, quanto para crianças?
Geraldo Resende – Nós advogamos que seja incorporada a vacina contra a covid-19 no calendário normal de vacinação. Nós ainda não sabemos se vamos ter que ter doses de reforço a cada quatro meses, a cada seis meses. Entretanto, logicamente, essas vacinas a partir de agora vão ter as suas estruturas reestudadas para que elas possam ter uma duração maior, ou ter uma eficácia melhor. A gente espera que a ciência dê respostas e que a gente, de fato, as incorpore no nosso Plano Nacional de Imunização, e que elas possam fazer parte não só do calendário de vacinação em crianças, mas o calendário de vacinação do dos adultos a partir do próximo ano.
O Ministério da Saúde confirmou no começo da semana a redução do prazo mínimo para a aplicação das doses de reforço vacinal contra a covid-19. O novo prazo é de quatro meses a partir da aplicação da segunda dose. Na mesma nota técnica, o governo também anunciou a aplicação de um novo reforço para pacientes imunossuprimidos, ou seja, uma quarta dose de vacina para esse público. Como vai funcionar? O que o senhor pode adiantar sobre o assunto?
Geraldo Resende – A vacinação com a quarta dose incialmente será para pessoas com mais de 18 anos com doenças imunossupressoras. Essa quarta dose vai fazer com que eles tenham de fato o aumento da sua imunidade frente a covid-19. Quatro meses depois de ter tomado a terceira dose, a dose de reforço, agora é vez da quarta dose. Também dose de reforço. A gente entende isso como fundamental. São grupos mais vulneráveis pelas suas doenças prévias. São pessoas com imunodeficiência primária grave; em quimioterapia para câncer; transplantados de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), com uso de medicamentos imunossupressores; pessoas vivendo com HIV/AIDS; quem faz uso de determinados corticoides; quem faz uso de alguns medicamentos que alteram a resposta imune; portadores de doenças autoinflamatórias e de doenças intestinais inflamatórias; pacientes em hemodiálise e pacientes com doenças imunomediadas inflamatórias crônicas. Essas doenças fazem com que o sistema imunológico seja mais frágil. Essa dose de reforço aumenta a resposta do organismo contra a covid-19 e, principalmente, agora com a circulação dessa variante chamada ou ômicrom, que já está presente em vários estados brasileiros. Felizmente ainda não chegou em Mato Grosso do Sul, mas vai chegar. Entretanto, mais importante é que a quarta dose, é a terceira dose nas pessoas acima de 18 anos. Nós temos aí milhares de pessoas que ainda não foram buscar a terceira dose. O nosso percentual de imunizado com a terceira dose, na população de modo geral, é ainda muito pequeno. Nós temos vacina em quantidade, temos mais de 230 mil Pzifer, temos outras vacinas de outros laboratórios como AstraZeneca, Jassen, CoronaVac.
Doze estados brasileiros, incluindo Mato Grosso do Sul pediram ao Ministério da Saúde a suspensão do envio de doses da Pfizer. É por conta da baixa procura da população?
Geraldo Resende – Por duas razões, primeiro a capacidade de armazenamento. As vacinas da Pfizer elas tem uma durabilidade, uma validade, e elas precisam ser acondicionados e armazenadas nos chamados superrefrigeradores. Nós aqui Mato Grosso do Sul temos poucos pouco destes equipamentos. O ministério ficou de encaminhar três, encaminhou só um. A Fiems nos deu mais um. Hoje temos 230 mil doses de vacina da Pfizer. A gente vai precisar criar uma estrutura melhor. Estamos nesta lista que pediu para não ser mais encaminhadas doses de forma regular, apenas sob demanda. Há de fato uma procura menor de vacinas, acredito que as pessoas tem a falsa impressão de que a doença já foi vencida, mas não foi. Temos aí a ômicron e, daqui a pouco, poderemos ter outra. Só vamos vencer essa doença se a nossa população tiver vacinada em quase a sua totalidade. Mais de 90%, no mínimo, e temos alguns grupos que ainda não chegaram perto desde desafio.