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Entrevista

'Saber a letra do hino é importante, mas não somos uma escola militar'

Coordenadora regional de Educação, Marizeth Bazé, diz que estudantes precisam entender o significado da letra do Hino Nacional

Marizeth Bazé é coordenadora regional de educação de MS. - Danielle Leduc/JPNews
Marizeth Bazé é coordenadora regional de educação de MS. - Danielle Leduc/JPNews

Há quem diga que a prática de cantar o Hino Nacional em frente à bandeira do Brasil contribui para a formação de valores civis. Já outros criticam e alegam que isso nada mais é do que o “retorno do militarismo”. Se for ou não, o assunto tem gerado polêmica e divide opiniões ganhando repercussão no país, nos últimos dias, após o Ministério da Educação enviar as escolas uma carta em que pede para que alunos, professores e funcionários sejam colocados em fila para cantar o hino em frente à bandeira.

O documento também pede que o momento seja filmado e enviado ao novo governo. Profissionais da Educação questionam esse posicionamento e garantem que o mais importante é que o estudante entenda o significado da letra que está cantando. “Cantar o hino, ensinar, isso nós já fazemos dentro de sala de aula, principalmente, por meio dos professores de História. Não há nada novo nisso. Acredito que temos que enfatizar sim os símbolos nacionais, mas sem esquecer que não pertencemos a nenhuma escola militar”, observou a coordenadora regional de educação de Mato Grosso do Sul, Marizeth Bazé. 

Jornal do Povo – Qual a importância de cantar o Hino Nacional e promover o hasteamento da bandeira?
Marizeth Bazé – Eu sou favorável, mas não com o posicionamento do MEC. Concordo que as escolas devem não só ensinar o Hino Nacional, mas os símbolos. Ser feito como objeto de pesquisa para que o aluno aprenda a ter amor pelos símbolos, como pela bandeira, e através desse respeito ele também respeitará a família, o professor, o colega de sala. Então é importante que o educador faça essa pesquisa com o estudante em sala. E por que não ensinar a cantar o hino? Faz parte da nossa história.

JP – Então, podemos falar que essa prática agrega valores morais, civis?
Marizeth – De certa forma os valores se perderam um pouco. Mas ainda temos professores que fazem essa prática. Principalmente os professores de História. Eles fazem com que os alunos pesquisem mais sobre o hino e o seu significado na sociedade. Frases como: “Verás que um filho teu não foge à luta”. Porque que existe isso em um hino? Temos que fazer esses questionamentos para que o aluno também tenha interesse em saber e ainda interpretar o que há por trás de cada frase. 

JP – Qual foi a reação dos professores? Algum pai de aluno procurou a coordenação para questionar?
Marizeth – Os professores acharam um absurdo e foram contrários à determinação [MEC] da forma que chegou. Porque, hoje, nossos alunos não têm mais essa prática de formar fila, as escolas têm regras, normas, não podem ser filmados. Para isso é necessário a autorização dos pais até mesmo para um evento da unidade escolar. Há toda uma sistemática. Então os educadores preferem realizar esse tipo de trabalho dentro de sala de aula como pesquisa. Alguns pais de alunos já se manifestaram favoráveis ao posicionamento do Ministério. Relembram até mesmo o período em que vivenciaram a lei criada no governo de Getúlio Vargas. Eu estudei na Escola Estadual Dom Aquino, tive uma diretora que prezava muito pelas filas, hasteamento da bandeira e o hino. Foi muito válido para mim.

JP – Seria o retorno da disciplina OSPB?
Marizeth – Não, porque o nosso currículo é diferenciado e pode ser feito por diversos professores.

JP – Os alunos vão voltar a formar fila na hora de  cantar o hino?
Marizeth – Não. Isso não. A prática é ultrapassada e  não somos uma escola militar.