Três Lagoas se prepara para implementar um serviço de escuta especializada que vai atender crianças e adolescentes que foram vítimas de violência. O setor de segurança pública, servidores municipais e outros segmentos participaram de uma capacitação promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Qualquer criança ou adolescente pode ser alvo de abuso e exploração, ou pode ser vítima de violência física, sexual ou psicológica, além de sofrer abandono ou ser negligenciada. Em Três Lagoas, os casos de violência contra menores têm aumentado nos últimos anos.
Segundo a assistente social Isabela Nogueira, do Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS), a maioria dos casos acontece dentro do ambiente familiar. Ela reforça ainda que todos eles precisam ser denunciados. “Quando o caso acontece com uma pessoa de fora da família, mesmo assim é uma pessoa próxima da criança. E é ela quem traz essa revelação, por isso é muito importante registrar um boletim de ocorrências”.
De acordo com dados coletados pelo CREAS de Três Lagoas, todos os anos, em média, são registrados 100 casos de violência contra menores por ano. Somente em 2023 foram contabilizados 20 até o momento.
Por este motivo foi realizada a capacitação que orienta os servidores como ouvir crianças e adolescentes que foram vítimas de qualquer tipo de violência e também aquelas que testemunharam fatos desta natureza. “Isso precisa ser feito porque esse menor de idade não pode ser revitimizado”. Na prática isso significa que nenhum deles pode passar por atos ou questionamento que gerem constrangimento na hora de denunciar. Em muitos casos, é esta atitude que faz com que as vítimas desistam de denunciar seus agressores e de prosseguir com o processo criminal.
A capacitação teve a duração de dois dias. O cuidado e a proteção com as crianças e os adolescentes vítimas de violência deve ser realizado em todas as instituições da rede de promoção e proteção que são formadas por profissionais da educação e da saúde, conselheiros tutelares e assistentes sociais.
Quem ministrou as palestras foi Roberto Fuck de Almeida, que é professor de direito de crianças e adolescentes em Santa Catarina. Ele explica que os menores não podem reviver os traumas sofridos pela violência. O trauma, na verdade, deve ser tratado para que eles se curem e vivam normalmente.
Almeida destacou ainda a importância de detectar o que a criança ou o adolescente está sofrendo desde cedo. “Cerca de 95% dos agressores sofreram violência sexual na infância. Se não tratamos disso, há muita probabilidade desta pessoa replicar essa agressão na vida adulta. Mas se essa pessoa é cuidada com afeto, carinho e atenção, provavelmente ela vai viver uma vida normal e não fará com ninguém o que lhe fizeram”.