Uma das delícias da infância e até na fase adulta é a de soltar papagaios. Quem não se lembra dos tempos de menino quando se procurava áreas descampadas para soltar o papagaio de papel – a pipa ornada com uma longa rabiola, estruturada com varetas de bambu e revestida por papel celofane?
Empinada pelo vento, a pipa faz oposição entre a força do vento e a linha que a segura por quem a lança aos ares, sendo sustenta através de uma aerodinâmica que proporciona estabilidade e equilíbrio. Assim, a colorida pipa dança, sobe e desce nos céus fazendo a alegria de quem a solta.
Concebida em vários formatos em cores vivas e alegres sai ano entra ano e continua sempre fazendo a alegria da garotada e de muitos adultos, que as admiram vagueando pelos céus sem rumo certo em dias ensolarados. Soltar papagaio é só alegria.
Mas com o passar dos tempos junto introduziram linhas cortantes no lugar das linhas de algodão cordone. As de cerol, que nada mais são do que uma mistura de cola com vidro moído e que tinham originariamente a finalidade de reforçar essas linhas com as quais se empina papagaios.
Depois vieram a chamadas linhas chilenas, de algodão, revestidas de uma mistura de óxido de alumínio e pó de quartzo, que são substancias mais cortantes do que a primeira. Antes a intenção era torná-las mais fortes de modo que não arrebentassem e nem se deixassem ser cortadas aos cruzarem nos ares com linhas de outros papagaios e serem abatidos em pleno voo.
Infelizmente, com o passar dos anos maldosamente foram dando outras destinações às linhas de cerol ou às chilenas, de modo que surpreendendo pessoas passaram deliberadamente a lhes causar danos físicos e materiais.
Criminosamente, esticam essas linhas na via pública de um lado e outro para surpreender ciclistas, motociclistas, em lugares onde crianças e adolescentes empinam seus papagaios para causar a estes condutores com a potência cortante que são dotadas ferimentos graves, e até a morte daquele que se vê alcançado por essa armadilha cruel.
Entristecedor saber que nesta semana uma mulher, enfermeira dedicada a ajudar salvar vidas, tenha sido vítima de quem criminosamente esticou a linha que ceifou sua vida, quando conduzia na garupa de sua motocicleta sua filha de tenra idade. Impõe as autoridades públicas em todos os níveis, em primeiro lugar, fiscalizar estabelecimentos que comercializam essas linhas, cuja prática criminosa está capitulada nas Leis de Contravenções Penais.
É preciso fiscalizar urgentemente estabelecimentos comerciais que não só comercializam, mas que contribuem para a prática desse ato criminoso que causa a morte, como foi o caso da enfermeira que não resistiu os ferimentos em seu pescoço e foi á óbito.
Mais ainda, a Polícia Civil pelo seu serviço de inteligência não pode deixar de agir e investigar esse caso, enquanto não encontrar o criminoso que causou essa morte. Inconcebível se fazer de uma das delícias da vida, que é a de soltar pipas, a tristeza de uma comunidade como a nossa, que lamenta esse fato.